Hoje chega aos cinemas de todo o Brasil o filme da Capitã
Marvel, o primeiro filme solo protagonizado por uma super-heróina da Marvel que
foi prometido desde o anúncio de todos os filmes da fase 3 da Marvel em outubro
de 2014. Se não bastasse todo o peso da responsabilidade que o filme já tinha ao
levar a personagem que de fato nunca chegou a se firmar nos quadrinhos como a
maior representação feminina da Marvel as telonas, o filme da Capitã Marvel se
compromissou a ser um vinculo importante para o passado, o presente e o futuro
da Marvel. Será que foi bem sucedido?
Foi durante a San Diego Comic Con de 2016 que a Marvel
Studios revelou Brie Larson como sua Capitã Marvel, um nome até um tanto
surpreendente ao ser anunciado quando o coro de fãs apontavam para uma atriz
mais veterana. Mas isso de modo algum
significaria um risco para o filme. A atriz já havia provado seu grande talento
ao ganhar um Oscar meses antes, e já denotava entrar no perfil da Marvel
Studios de elencar sempre astros promissores entre suas fileiras de heróis. Diferente das outras,
Larson também era jovem, tinha apenas 26
anos quando foi convocada e isso é importante para alguém que a Marvel nunca
disfarçou que seria um dos principais rostos do UCM quando a fase 3 chegasse ao
fim e alguns atores que estiveram aí desde o começo fossem infelizmente se
despedir.
Foi na mesma Comic Con que pela primeira vez o filme foi
oficializado como sendo algo no passado, antes do surgimento dos Vingadores, antes
mesmo de Tony Stark se vestir pela primeira vez como o Homem de Ferro. O
cenário é os EUA dos anos 90, e o filme abraça toda aquela narrativa saudosa de
filme de aventura explosiva onde não só um, mas dois protagonistas de
temperamentos bem diferentes se juntam para um vitória improvável. Nick Fury
está lá e um pouco de sua história é revelada aqui (só um pedaço no meio dela,
como já fez questão de dizer o próprio
ator). Mas mais que a história em particular do Agente da S.H.I.E.L.D, o filme
se compromissou a ditar também o nascimento de como o UCM se prepararia para
lidar com os tais super-heróis. Sim, já tínhamos um Capitão América. Mas para o
pessoal que vivia em meados dos anos 90,
certamente ele era mais uma lenda. Aquele ainda não era o tempo dos heróis.
Assim, quando Fury se depara pela primeira vez com a
personagem de Brie Larson que se chamava
apenas de “Vers”, falando de forma
natural sobre heróis nobres Krees e aliens verdes vis chamados Skrulls, trata tudo com desconfiança e ironia. Mas logo a vida daquele que mal sonhava um dia ser
o diretor da S.H.I.E.L.D. virá de ponta cabeça e ele se vê no meio de um enredo
de aventura sci-fi imbuído de muito suspense, algo bastante comum nos filmes e
seriados famosos da época. Contudo, as inspirações de Capitã Marvel não vem apenas dos filmes noventistas, não. Ela vem direto dos quadrinhos. Pouca gente,
mesmo entre os leitores que até acreditam que conhecem bem o Capitão Marvel
original, tiveram acesso ao primeiro material dos anos 70 escrito por Roy
Thomas e depois Arnold Drake, sobre o soldado kree infiltrado sem viéis heróico que só ficou conhecido mais depois com o Capitão Marvel pré-Starlin de uniforme vermelho e azul. O filme é
recheado de elementos dessas histórias e ao ouvir alguns nomes você acaba
antecipando até viradas da trama mais adiante. É um pouco do ônus que o leitor
experiente tem muitas vezes em ver seus heróis prediletos nos cinemas.
E já que falamos em quadrinhos, é importante voltar os olhos
de como tão bem os roteiristas e diretores compreenderam também a jornada de
Carol Danvers não só como heroína, mas como personagem. Recentemente, para se
preparar para o filme, fui relendo alguns materiais de várias fases e a
constante que temos é a busca de Carol Danvers para se encontrar, saber quem
ela de fato é. Em breve, vamos lançar
alguns materiais aqui no site sobre isso, mas é importante adiantar que o filme
não se acanhou em levar as telas essa noção de luta pela identidade. Não só estou me referindo a questão da perda
da memória, que também remete a fases cruciais dela nos quadrinhos, mas também
por lutar para conseguir o espaço que ela acredita que é dela, mesmo que tenha que se opor a família, a seus superiores
do exército ou, no caso do filme, da StarForce. Lá mais para o final, tem uma excelente resposta
de Carol Danvers quanto a essa questão de aprovação. De forma curiosa, serve
também como respostas a todos aqueles que desmerecem o filme, a personagem e
a atriz.
E nesse ponto, é curioso ver como todos os rompantes de
fúrias de certos pretensos espectadores com um filme que sequer assistiram foram superexagerados. Em nenhum momento do filme, há algo panfletário sobre
feminismo. Não que isso fosse algo incoerente se ocorresse. Assim como Brie
Larson luta pela causa, as próprias histórias da Carol Danvers quando assumiu o
manto de Ms. Marvel nos anos 70 pelas mãos de Conway e Claremont, foram uma 'carta' em favor do Sufrágio Feminino. Mas o filme aqui não teve essa pretensão. Acima de tudo, temos uma evidente mensagem bem direta as jovens garotas que vão lá conferir o filme
nas telonas. Sejam espelhadas pelas lembranças da jovem Carol ou pela admiração
da pequena Mônica Rambeau, Capitã Marvel está entregando uma heroína para vocês
se espelharem. Na sua trajetória, assim
como a heroína, você vai cair muitas vezes, vai encontrar pessoas desconfiando de sua capacidade, vai deparar-se com aqueles que quer reprimir
seu poder, mas no fim você vai se levantar e seguir adiante.
Dito isso, fica evidente o que vou dizer aqui é que o filme
cumpre muito bem seu principal objetivo. Ele como um todo entrega uma heroína a
se espelhar e a se admirar pra o futuro da Marvel. Diferente do que muitos aí querem pregar, eu
achei a atriz Brie Larson se encaixando muito bem no papel e com um senso de
humor que combina com o que queremos ver num filme da Marvel Studios. As cenas
de Carol Danvers com Nick Fury são constantemente agradáveis e divertidas,
evidenciando quão bem os atores de fato se dão na vida real. Ainda assim,
vale ressaltar que o filme é muito bem equilibrado entre a seriedade e a
diversão, mas isso não impede de vez ou outra surgir aquele momento ‘whadafuq’
em uma ou outra cena. Já visualmente, é incontestável. As cenas da "Binária" são de fazer você querer voltar e voltar aos cinemas.
Ainda assim, vale ressaltar que não é e nunca foi
a pretensão de Capitã Marvel ser o filme do ano de 2019. Ela tem um
concorrente estrondoso em Abril, mas pra nossa sorte, ela estará também lá para fazer parte.
Seu filme aqui é antes de mais nada a de um filme de origem e como tal deve ser
comparado sempre com outros assim. Para sair
do mesmo, os diretores reinventaram a forma deste tipo de narrativa. Ao invés
de conhecermos a identidade civil primeiro e descobrirmos como ele ganha os
poderes e vira o herói, o que temos aqui é alguém muito superpoderosa que acaba
tendo que descobrir quem ela era e como
se tornou o que é hoje. É um tipo de narrativa que vai e volta no tempo que eu
gosto muito quando leio nos quadrinhos, mas entendo se ficar assustadoramente
confuso de início para alguns. E em parte é proposital até. Afinal, você está vivendo a mesma confusão que a Carol está ao assistir o filme. E fora isso, onde há
skrulls a ideia é mesmo de sempre confundir as mentes.
Outras coisas que podem incomodar quem for leitor de quadrinhos são algumas
alterações na origem de certos personagens e inversões bruscas na trama. Mas
isso é uma questão bem pessoal. Eu me considero um fã dessas histórias dos anos 70 que
serviram de inspiração e achei todas adaptações bem justas para proposta do UCM.
E mais importante, ao invés de fazer de
qualquer jeito essas mudanças, colocaram detalhes dos quadrinhos que só denota
que os roteiristas sabiam com o que estavam mexendo, mas pediram licença
poética pra seguir alterando esse ou aquele detalhe. Por outro lado, para mim,
o que mais me intrigou foram como as novas informações sobre esse “passado” que
acabou de ser inserido no UCM funcionarão ao rever os antigos filmes. Afinal,
Capitã Marvel resolveu até mesmo mexer com um dos principais alicerces da Fase
1 da Marvel. Sim, estou falando de um objeto que você que viu o filme saberá justamente do que se trata.
Como crítica negativa principal para mim, o que mais o filme
patinou foi ao aproveitar muito mal a suposta conexão que se pretendia fazer
entre a trilha sonora dos anos 90 e determinadas cenas do filme. Nesse ponto,
os dois diretores falharam miseravelmente. Não há nenhuma harmonia entre o que
se toca e o que é visto de ação na tela. É isso ou eu odeio mesmo o som dos
anos 90. Em todo caso, a lição que fica é que não é todo mundo que tem a
genialidade de James Gunn de combinar tão bem esse conjunto de mídias. E aí
talvez bata nessa hora aquele desalento de saber que ele não estará mais por
lá. Gunn teria sido um excelente consultor nesta parte. Mas o que é preciso entender é que nem todo filme necessariamente precisa tentar repetir essa ideia. Os filmes do Homem de Ferro usavam uma e só uma música em cada filme, de forma pontual e marcante o suficiente para você sair do filme lembrando dela por anos.
Outra coisa que acabou prejudicando o filme é que em determinado momento para realizar as devidas explicações de certo plot da trama, os diretores interrompem o ritmo de urgência que se ganhava no decorrer do filme para serem didáticos. É algo que ocorreu do mesmo jeito em Homem-Formiga e a Vespa. Não chega a ser nada que comprometa. Mas como citei Gunn acima, imediatamente lembrei como o Joe e o Anthony Russo confiam na dedução do seu público e ficam bem longe desse tipo de narrativa e entregam assim um ótimo resultado. Seria exigência demais de um fã que acompanha o sucesso do UCM por 10 anos? Provavelmente. Mas eu acredito que é preciso confiar mais no público que certas nuances serão compreendidas com uma rápida sacada.
Outra coisa que acabou prejudicando o filme é que em determinado momento para realizar as devidas explicações de certo plot da trama, os diretores interrompem o ritmo de urgência que se ganhava no decorrer do filme para serem didáticos. É algo que ocorreu do mesmo jeito em Homem-Formiga e a Vespa. Não chega a ser nada que comprometa. Mas como citei Gunn acima, imediatamente lembrei como o Joe e o Anthony Russo confiam na dedução do seu público e ficam bem longe desse tipo de narrativa e entregam assim um ótimo resultado. Seria exigência demais de um fã que acompanha o sucesso do UCM por 10 anos? Provavelmente. Mas eu acredito que é preciso confiar mais no público que certas nuances serão compreendidas com uma rápida sacada.
No mais, não quero detalhar nada sobre Starforce, Inteligência
Suprema e Skrulls nesse resumo. Qualquer coisa que eu falar aqui poderia enveredar
para spoilers que quero evitar. Basta dizer que alguns personagens ali tiveram
mais espaço do que já tiveram nos quadrinhos por toda a vida e com um time aclamado como esse
que a Marvel juntou no elenco, não poderia sair qualquer coisa. Sobre o gato,
vou ser suspeito como dono de um, mas o Goose certamente tem um “quê” especial.
E tudo que merece falar sobre eles, quero falar com direito a spoilers, então
vou me segurar por ora até nosso podcast. Lá falaremos das duas cenas
pós-credito e todas as camadas que o filme foi fundo nos quadrinhos em várias
fases da personagem.
No conjunto, Capitã Marvel é mais uma entrega da Marvel Studios de diversão garantida para seus fãs. Atende quem vai estar com a cabeça aberta para entender que decisões são tomadas para universo diferente dos quadrinhos, mas talvez faça um ou outro torcer o nariz por pouca coisa. Mas para a grande maioria é mais uma adesão forte aos heróis que todos hoje em dia amam acompanhar nos cinemas. E replicando o que já citei acima, para seu real alvo, vai sim entregar uma heroína para todas as meninas se espelharem.
No conjunto, Capitã Marvel é mais uma entrega da Marvel Studios de diversão garantida para seus fãs. Atende quem vai estar com a cabeça aberta para entender que decisões são tomadas para universo diferente dos quadrinhos, mas talvez faça um ou outro torcer o nariz por pouca coisa. Mas para a grande maioria é mais uma adesão forte aos heróis que todos hoje em dia amam acompanhar nos cinemas. E replicando o que já citei acima, para seu real alvo, vai sim entregar uma heroína para todas as meninas se espelharem.
PS: E aproveitando o finalzinho aqui do texto, eis um aviso
importante. Tendo em vista que pouca gente teve acesso ao material da
personagem no Brasil, resolvi nas últimas semanas montar um apurado sobre Carol
Danvers que pretendo lançar em “partes”
nos próximos dias. É uma versão diferente de nossas “maratonas” que acompanham
os filmes. E é muito bom pra todos descobrirmos o quão pouco conhecíamos dela
até então para fazer um julgamento justo. Terá não só detalhes das histórias,
como de bastidores. Prometo algo especial.
Coveiro