sábado, 12 de novembro de 2016

Em perspectiva: Estaria a Marvel vivendo o seu melhor momento nos quadrinhos?


Com o recente sucesso da concorrente Das Crises em seu famoso "Rebirth", muitas pessoas passaram a olhar para a Marvel de uma maneira atravessada. Afinal, enquanto a DC voltou ao lugar comum, para a sua zona de conforto, a Marvel ousou e trouxe o conceito de legado em um nível jamais visto antes na editora. Mas isso é ruim? Então por qual motivo ainda tem fã olhando torto para a Casa das Ideias?

A minha intenção aqui é trazer um pouco de luz para os corações de alguns leitores. Mas antes de mais nada, preciso deixar claro uma coisa. Já cansei de ver leitores que falam mal da Marvel sem ler uma HQ atual sequer. Ou a galera que deixou de ler as revistas há quase 10 anos, mas fala que as atuais publicações são ruins. Fala isso com base no que? Bom, sem delongas, vamos ao que interessa.

Quando anunciou a Marvel Now! original, lá em 2012, a editora promoveu um grande relaunch (relançamento) em toda a sua linha. O propósito original foi o de responder à altura os Novos 52 da DC. Mas foi nesse momento que a empresa passou a dar espaço aos seus personagens menos populares. Afinal, nem só de Capitão América, Homem de Ferro, Thor e X-Men vive a empresa, não é mesmo?


Não vou entrar no mérito de que foi nesse período que tivemos os Vingadores de Jonathan Hickman, Deadpool do Gerry Duggan, Thor do Jason Aaron ou o Aranha Superior do Dan Slott. Foi nesse ponto que Sam Alexander, o Nova latino, surgiu. Personagem muito criticado em sua criação, mas que já acumulou três volumes da sua HQ e participações nos Vingadores e Campeões.

O que falar então da Miss Marvel? A jovem heroína muçulmana foi criada com uma tremenda desconfiança. Lembro até hoje de ler na internet comentários como "pra que gastar papel com essa HQ? Não vai durar 9 edições". E vejam só, hoje ela é uma das referências da editora, servindo quase como um ícone de uma geração.

O que isso quer dizer? Quer dizer que precisamos ir com calma. Não precisamos colocar as carretas na frente dos bois. Precisamos ler o material antes de condenar (ou louvar).

Logo após a Marvel Now! original tivemos a All-New Marvel Now!. Aqui a proposta foi de manter o que deu certo, cancelar as que não teve tanto sucesso e lançar mais material de qualidade. E foi aqui que a Marvel fez história.


Em 2012 a editora foi merecidamente criticada por cancelar a HQ da X-23. Na ocasião, a Casa das Ideias ficou sem NENHUMA publicação protagonizada por mulheres em seu catálogo. Mas identificado o problema, o editorial tratou de se redimir. E menos de quatro anos depois, o número de publicações solo protagonizadas por mulheres já era tão grande quanto a dos homens.

Entre 2012 e 2017 a Marvel publicou/vai publicas as seguintes revistas protagonizadas por mulheres: Defensoras, X-Men, Capitã Marvel, Mulher-Hulk Vermelha, Viúva Negra, Elektra, Miss Marvel, Mulher-Hulk, Tempestade, Angela, Thor, Garota Esquilo, Wolverine, Teia de Seda, Mulher-Aranha, Gwen-Aranha, Gwenpool, Jessica Jones, Moon Girl, Felina, Feiticeira Escarlate, Força V, Gaviã Arqueira, Gamora, Harpia, Jean Grey, Miss América, Pantera Negra, Blade e Vespa. O que totaliza um total de 30 publicações.

Mas os números que se lasquem. Isso não significa que as revistas estão boas. O que temos para provar a qualidade? Temos 8 coisas.

1. Demolidor.
2. Miss Marvel.
3. Gavião Arqueiro.
4. Surfista Prateado.
5. Thor.
6. Garota Esquilo.
7. Rocket Raccoon.
8. Dr. Estranho.

Todas essas HQs estiveram de alguma forma envolvidas com o prêmio Eisner nos últimos anos. Sendo indicadas, seus artistas envolvidos na premiação ou ganhando prêmios pela sua qualidade. E todos sabemos que o Eisner nos quadrinhos tem o mesmo peso que o Oscar no cinema.

Atualmente, a DC Comics voltou as raízes e adotou uma estratégia de publicações quinzenais. O que isso significa? Significa que ao invés de ofertar variedade, eles ofertam diversas HQs do Batman, Superman, Mulher Maravilha e Lanterna Verde por mês. Espaços que poderiam ser de personagens menores, são ocupados repetidamente pelos principais personagens da editora.

A estratégia da Marvel é quase oposta, mas curiosamente muito semelhante ao mesmo tempo. A Marvel também publica por mês duas revistas do Capitão América, só que uma protagonizada pelo Steve Rogers e outra pelo Sam Wilson. Também saem duas edições do Homem-Aranha, só que uma do Peter Parker e outra do Miles Morales. O mesmo vale para o Deus do Trovão, atualmente está sendo publicada a mini série do "Indigno Thor", então por mês podemos ler o Thor e a Thor. A lógica se repete na franquia mutante. Publica-se o Velho Logan e a Novíssima Wolverine. Vale destacar ainda a Riri Willams e o Infame Homem de Ferro, o novo Hulk e a Mulher-Hulk.

Isso por si só já inviabiliza o argumento dos leitores (que não estão lendo as revistas) de que a Marvel está acabando com seus principais heróis. Ao mesmo tempo em que se dá espaço pro velho: Peter Parker, Odinson, Steve Rogers... também se dá para o novo: Miles Morales, Jane Foster e Sam Wilson.


É aquela velha coisa de que todo mundo sai ganhando. Eu vejo que com o Rebirth a DC tentou trazer de volta aqueles leitores que a tem sustentado pelos últimos 50 anos. Já a Marvel com a fase All-New All-Different, tem buscado garantir leitores para lhe sustentar pelos próximos 50.

Se você não tem interesse em acompanhar a vida mundana e universitária da Garota Esquilo, talvez se interesse pela paranoia esquizofrênica do Cavaleiro da Lua. Ainda não? Então tenta uma leitura mais sofrida e melancólica mas com muita ação e sangue com o Velho Logan. Curte política? Experimenta ler Capitão América e veja como Sam Wilson se posicionou nos EUA.

Ou você pode acompanhar a vida de empresário bem sucedido do Peter Parker. Ver como Miles Morales está se saindo como o novo amigão da vizinhança. Ou ainda torcer para os mutantes escaparem de mais uma eminente crise de extinção.

Nunca antes a Marvel ofertou tanta variedade assim. Vilões como Mercenário, Rei do Crime, Dr. Destino tendo espaço ao sol. Mercenários como o Pastelão, Solo e o Matador de Idiotas. Heróis clássicos: Capitão América, Homem-Aranha e Thor. Heróis "classe B" como Felina, Cavaleiro da Lua e Garota Esquilo. Os jovens: Riri Williams, Moon Girl, Miles Morales e Vespa.


Moral da história? Tem HQ para todos os gostos e públicos. É um material exaustivamente bem elogiado pela crítica, pelos seus leitores (e reitero que leitores são quem leem as HQs, não quem comenta sem embasamento na internet) e que foi bastante premiado.

Como se isso tudo não fosse o suficiente, essa semana saíram os dados das vendas norte-americanas de quadrinhos no mês de outubro. E apenas três meses após o lançamento do Rebirth, a Marvel já retomou a dianteira novamente, controlando 35% do mercado, contra 30% da Distinta Concorrência.

Isso significa que a Marvel é melhor? Não. Não se trata de qual editora é melhor e sim qual se encaixa melhor com o seu perfil. Uma esbanja conservadorismo e a outra aposta na diversidade. É só escolher.


Kinhu Heck

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