quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Em Perspectiva: A Morte do X

*Atenção! Informações sobre revistas inéditas ainda no Brasil
*Artigo escrito por nosso colaborador, Henrique Bracarense


A franquia de gibis dos X-Men, outrora o carro-chefe da linha editorial da Marvel, vive dias turbulentos. Após o último grande relaunch da editora, na esteira da megassaga Guerras Secretas, apresentaram-se três títulos mutantes principais: Extraordinary X-Men, por Jeff Lemire e Humberto Ramos; All-New X-Men, de Dennis Hopeless e Mark Bagley e Uncanny X-Men, com Cullen Bunn e Greg Land. 

A nova cara dos X-Men 

As duas primeiras revistas, em especial, descortinam uma situação sombria, embora curiosa. O roteirista Jeff Lemire inicia os eventos de sua trama oito meses após o fim das Guerras Secretas, estabelecendo os efeitos que a dispersão das Névoas Terrígenas, no evento Infinito (2013), tiveram sob os mutantes. A “nuvem” responsável pela Terrigênese Inumana também acarreta consequências letais para os portadores do gene-X, sendo tal doença conhecida como M-pox, em uma analogia com smallpox, o nome em inglês da varíola – cenário distópico este que carrega certas semelhanças com o trabalho autoral do escritor, Sweeth Tooth. Os indivíduos que sobrevivem à praga são esterilizados, o que virtualmente levaria à extinção da espécie mutante em uma geração.


A Terrigênese nos esterilizou, Piotr. Jamais haverá novos mutantes novamente.

Igualmente problemático é o panorama de Scott Summers. Ciclope, antigo líder dos X-Men e protagonista factual da franquia ao longo da última década, aparentemente está morto, conforme revelado por Tempestade em seus esforços para recrutar aliados.


Bem, nós precisamos de você. Ciclope – Scott – Ele está morto. Mutantes estão mortos. Dispersos.

Contudo, Scott não teria meramente morrido. Sua morte decorreria de alguma ação inimaginável, assegurando o ódio da opinião pública contra os mutantes e levando-os a serem mais uma vez perseguidos, adicionando mais este fator complicador a uma conjuntura já amplamente desfavorável e cimentando a posição de Ciclope como um dos grandes vilões da contemporaneidade.



Estas pessoas – elas costumavam nos temer. Mas agora, depois do que Scott fez, eles simplesmente nos odeiam!


O outro Ciclope morreu garantindo o título de “mutante mais odiado do mundo”.

Os leitores norte-americanos receberam este desdobramento com imensa estranheza, visto que a posição de Ciclope como antagonista e ameaça perante os demais heróis, sustentada desde o final de Vingadores vs X-Men (2012), havia sido revertida nos últimos meses.
Na longamente adiada Uncanny X-Men #600, Summers reúne todos os mutantes do mundo em Washington e revela publicamente que sua revolução, alardeada desde a fase de Kieron Gillen no título, consiste na verdade justamente nesta demonstração pacífica em escala global, provando que não há perigo oriundo do próximo passo evolucionário da humanidade.


               Aqui nós estamos. Todos nós. Cada um de nós. No coração de tudo que é democrático e bom


Você se juntaria a nós a fim de provar ao mundo que eles não têm nada a nos temer?

Nos eventos cronologicamente posteriores de Avengers #38, situados após o salto de oito meses de Time Runs Out (2014), Scott transforma sua escola no Canadá na Nação X, um abrigo seguro, ante o fim iminente do mundo, para todos aqueles que se proclamam mutantes, contando inclusive com a presença de seu mais veemente detrator, Hank McCoy, o Fera. Ademais, ele revela possuir um “ovo da Fênix” e que ajudará a combater as incursões. Devido aos atrasos consideráveis de Uncanny X-Men, bem como a um potencial desinteresse de Brian Michael Bendis, não houve esclarecimentos de como transcorreram tais acontecimentos.


Eu tenho um ovo da Fênix, Roberto. E acho que já passou da hora de eu entrar no jogo.

Isto culmina na morte heroica de Ciclope em Secret Wars #4, ao reassumir a totalidade dos poderes da Fênix e enfrentar diretamente Destino.


O futuro? O futuro do qual você fala é um sonho, garoto. E o sonho... Lembre-se disso. O sonho acabou.

Sendo assim, o que aconteceu? Algo claramente mudou no direcionamento dos títulos, já que a premissa original do roteirista Brian Michael Bendis de mostrar a jornada de redenção de Ciclope, ao assumir a revista principal dos X-Men, havia sido plenamente concluída. Além disto, houve mais uma reversão significativa, com a retomada do plot dos mutantes como espécie em extinção, força motriz da franquia de 2006 a 2012. Ao passo que seguramente rearranjos bruscos foram necessários, já que os planos originais para o nicho X do Universo Marvel no pós-Guerras Secretas, envolvendo o êxodo dos mutantes para um planeta próprio, fora da Terra, em consequência da Terrigênese, foram repentinamente abortados com a saída do editor-chefe Mike Marts e, subsequentemente, do roteirista Rick Remender, principal arquiteto desta fase, para muitos leitores esta guinada súbita é mais um indício do famigerado “boicote”.

Tal “boicote” consistiria em uma iniciativa deliberada da Marvel Entertainment, visando a diminuir a exposição e visibilidade de propriedades intelectuais cujos direitos cinematográficos e de merchandising não estivessem em pleno controle do Marvel Studios. Este conjunto de ações seria promulgado pelo CEO Ike Perlmutter e tencionaria atingir especialmente os X-Men e o Quarteto Fantástico, já que as relações com a 20th Century Fox, sua controladora nos cinemas, seria temerária. No que tange aos mutantes, em especial, estaria em curso uma lenta operação para substituí-los em proeminência, no imaginário do público consumidor, pelos Inumanos. Deste modo, os fãs enxergam a aparente falta de direcionamento, a regurgitação de plots, uma percebida redução de importância e até mesmo elementos das próprias tramas, em alusões metatextuais não muito sutis, como a “vilanização” de Ciclope, epítome da franquia, e a ascensão inumana em detrimento da existência mutante como evidências deste “boicote”. Criadores consagrados como Chris Claremont aumentaram ainda mais a tensão ao afirmar que foram proibidos pelo editorial de criar novos personagens e conceitos na franquia.

Obviamente, a ideia do “boicote” não resiste a um escrutínio mais rigoroso. A despeito da admissão do editor-executivo e VP de publicações Tom Brevoort que de fato a Marvel estimula a exposição, em termos de publicidade e licenciamento, de elementos à disposição do Marvel Studios, reiterando que é do interesse da companhia a promoção dos Inumanos, os X-Men ainda representam uma fatia considerável de publicações e vendas da editora, atualmente contando com o segundo maior número de títulos, bem como contam (e contaram) com grandes nomes criativos do mercado, incluindo o principal roteirista da editora nos anos 2000, Bendis. Ademais, diversas novas criações adentraram o cânone da franquia desde as declarações de Claremont, até mesmo algumas estabelecidas pelo próprio. Desta forma, se os leitores não conseguiam precisar o que estaria acontecendo nos bastidores, fazia-se necessária uma explicação dos eventos que levaram a uma mudança tão acentuada no status quo, assim como uma revelação do paradeiro de personagens fundamentais, como Emma Frost.

Sendo assim, em julho de 2016 anunciou-se a publicação da minissérie em quatro edições Death of X (Morte do X, em tradução livre), com estreia em outubro, roteirizada em conjunto pelos arquitetos mutante e inumano, Jeff Lemire e Charles Soule, com arte de Aaron Kuder (posteriormente auxiliado por Javier Garrón). O título, além de esclarecer o que aconteceu no intervalo de oito meses entre Guerras Secretas e Extraordinary X-Men, ainda seria um prelúdio do grande evento Inhumans vs X-Men (Inumanos vs X-Men), anunciado na SDCC’16.

Porém, com a publicação da última edição do título nesta quarta-feira, 23/11, é possível acreditar que, novamente, houve certa mudança de planos na franquia mutante.
Death of X #1 é iniciada com a equipe da Escola Jean Grey rumando à Ilha Muir após receber um pedido de socorro, deparando-se com diversos mortos ao chegar ao local, incluindo um moribundo Madrox, o Homem-Múltiplo. Este é o responsável por revelar a Ciclope os efeitos letais das Névoas Terrígenas sob os mutantes. Dos presentes, apenas Scott e Bolas Douradas parecem ser afetados pela Terrigênese.


Os efeitos das Névoas Terrígenas sob Ciclope

Paralelamente, é apresentado o papel que as Névoas Terrígenas desempenham na vida das pessoas comuns, sendo bem recebidas e vistas como agentes catalisadores de mudança e fuga do ordinário. Portanto, em um ponto-chave, fica clara a percepção positiva dos Inumanos aos olhos do público.
O fechamento se dá com a fatídica declaração de guerra de Ciclope.



Eu não aceitarei isto. Eu farei o que for necessário. O que for necessário para salvar nosso povo. A partir deste momento, nós estamos em guerra. Nós somos mutantes...

Embora não tenha sido uma unanimidade, esta primeira edição apresentou uma razoável boa recepção por parte do público e crítica, tendo estabelecido um início promissor. Contudo, a situação mudou no segundo número. Até mesmo a arte, usualmente de bom nível, de Aaron Kuder piorou, em uma revista marcada por diálogos fracos, trama inconsistente e especialmente uma guinada pouco crível na caracterização de Ciclope. O personagem apresenta um comportamento errático, impedindo uma saída conciliatória entre Ororo e Medusa a fim de resolver a crise das Névoas-T ao transmitir uma mensagem psíquica globalmente proclamando a letalidade da Terrigênese e afirmando que os Inumanos mentiram, o que leva a um estado de pânico e uma tragédia por pouco evitada em Madrid.


Por todo este tempo, os Inumanos liberaram a verdadeira ameaça... No próprio ar que nós respiramos. Os Inumanos mentiram para vocês.

Este curso de ação é crucial para o seguimento da minissérie, visto que decide os termos da guerra no campo da propaganda, não em uma batalha per si. Ciclope deliberadamente joga com a opinião pública e força o confronto em um campo de ideias e jogadas de marketing, algo percebido por Medusa.


Mesmo se um único mutante poderoso decidir que o efeito da Terrigênese no gene-X foi um ataque planejado... Eles viriam atrás de nós. Eles praticamente seriam obrigados a vir.

Por fim, firme em sua intenção de simultaneamente fazer o que for necessário para vencer e de empregar as melhores armas no campo de combate publicitário, Scott vai em busca da arma mais efetiva, nesta seara: Magneto.


Emma e eu não vamos relaxar e permitir que os Inumanos nos destruam. Nós temos um plano. Estamos agindo. Reunindo aliados.

Entretanto, o comportamento estranho de Ciclope, incoerente com sua caracterização prévia, bem como algumas escolhas de construção narrativa e artística, despertaram a atenção de leitores em meios de discussão de quadrinhos, como a thread /co/ do 4chan e o Reddit. Acontecimentos pontuais, conforme a seguir, levaram estes leitores a concluírem que ou Emma estaria controlando Summers mentalmente ou ele teria morrido ainda na primeira edição, com a Rainha Branca fazendo uma representação psíquica sua ao longo da minissérie.


Cucos detectam algo estranho na transmissão psíquica e são silenciadas por Emma. No quadro seguinte,  Emma responde à indagação de Illyana por Scott, na primeira pessoa do plural.



Emma em primeiro plano, com Ciclope surgindo somente após a aparição de Magia e Colossus


A terceira edição adiciona ainda mais elementos para a suposição de que Emma estaria por trás dos eventos recentes, como abaixo:



"Onde está Ciclope?" "Scott está ocupado". "Ah, eu sei que ele está, Emma".
"Não pense que você pode me manipular como aos outros, Emma."


Enquadramento de Ciclope sob luz azul etérea 

Contudo, o verdadeiro destaque de Death of X #3 reside na aparição do mutante Alquimia, recrutado para a equipe de Ciclope. Thomas Jones é um personagem criado por Paul Bestow como parte de um evento promocional do Ato de Registro Mutante, subtrama de elevada importância nos gibis dos X-Men da década de 80. A criação vencedora apareceria em Novos Mutantes – todavia, Alquimia somente estreou em X-Factor #41-42, escrita por Walter e Louise Simonson e ilustrada por Art Adams. A seguir, apareceu esporadicamente em Excalibur #57-58 e em uma breve menção em X-Men: Legacy de Si Spurrier, finalmente se juntando a uma equipe principal mutante vinte e sete anos após sua criação.


Alquimia

Após a marcha rumo à batalha final na conclusão deste número, a derradeira edição apresenta o encerramento dos eventos: enquanto Magneto detém as forças Inumanas, Alquimia, a mando de Scott e Emma, destrói uma das Névoas-T, morrendo em decorrência. Ciclope, então, leva o conflito para a elite Inumana, e em uma sequência tocante, perde a vida em consequência.




Eu estou pronto. Amei quem tinha de amar. Lutei minhas batalhas. Perdi a única pessoa com a qual eu me importei... Estou acabado. Tudo que resta é a ideia de mim. Mas aqui está a coisa interessante... Ideias nunca morrem.

Todavia, em uma última reviravolta, Emma revela a Destrutor que Summers de fato morrera na primeira edição, e que ela, a fim de mantê-lo vivo como uma ideia, algo maior que ele mesmo, guiou toda a cadeia de eventos vista na mini.


Não deixe acabar, Emma.

Com o lançamento de Death of X #4, uma parcela considerável de leitores ficou estupefata, já que esperavam, especialmente pelos números iniciais de Extraordinary X-Men, um ato verdadeiramente vilanesco por parte de Ciclope. Sequências como a apresentada a seguir pareciam insinuar a realização de um massacre ou até mesmo genocídio por Scott e seus partidários, como Solaris:



Se você e Ciclope não tivessem agido da maneira que agiram, Solaris, não haveria protestos anti-mutantes.

Entretanto, ao final da mini, Summers não cometeu nada do tipo – ao contrário, seus atos, bem como sua “morte”, foram de natureza consideravelmente heroica. Deste modo, é possível afirmar que de fato houve uma nova mudança de direcionamento dos X-Men? Para tanto, é necessário avaliar os eventos desta revista tanto por si só quanto como parte da franquia.

Death of X é, fundamentalmente, a tragédia de Scott Summers e Emma Frost. Tragédia em uma derivação do sentido grego do termo, já que aqui não são os deuses ou a sorte que compelem, sem alternativas, seus protagonistas rumo ao seu inexorável fim, mas sim a natureza editorial de uma franquia de publicação seriada, cujas consequências dos eventos derradeiros são conhecidas de antemão. É curioso notar como, a despeito da promessa das proporções épicas e de batalhas grandiosas, os acontecimentos principais da trama se dão e são resolvidos em cenários cada vez menores e mais intimistas: um laboratório abandonado, uma nave, uma câmara, uma sala, aumentando seguidamente o enfoque claustrofóbico no casal de personagens e assegurando que os únicos eventos importantes são os que os circundam, sendo os demais meros adereços. Neste ponto, vale ressaltar que é a peripécia de Scott Summers, na melhor acepção aristotélica, a força motriz da narrativa: a súbita reversão da fortuna do herói, do líder, do messias e salvador que, em vez de morrer em combate, em campo aberto, num perecimento glorioso, morre uma morte abjeta e perfeitamente comum, tendo apenas a companhia de sua consorte de infortúnios, guiando assim todos os envolvidos para sua catarse. Portanto, a subversão de expectativas é a epítome dos recursos aqui empregados. Aliás, o domínio textual dos autores é algo a ser destacado, especialmente no que tange à prefiguração narrativa de Emma Frost, que compõe o suspense até a reviravolta final. Suspense este que culmina em uma apoteose: a Rainha Branca faz com que Scott Summers ascenda do plano da mera mortalidade e o transfigura em uma ideia, algo incomensuravelmente maior e imortal.


Porém, se, isoladamente, Death of X é o desenrolar bastante interessante da reação de uma mulher em luto à morte ordinária de seu amado, como encaixá-la em seu contexto de narrativa seriada, a despeito de suas incongruências aparentes? Para tanto, é necessário retomar dois elementos apresentados nas duas edições iniciais: o apreço popular pelo status quo da Inumanidade e a batalha travada no campo da propaganda. Uma das premissas iniciais, amplamente estabelecida e aceita por todos os envolvidos, é que esta guerra seria disputada muito mais em termos publicitários que físicos – daí deriva a principal ação de “Ciclope”, e a responsável pela sua percepção pública amplamente negativa: a transmissão psíquica que denuncia os “crimes” Inumanos. Desta maneira, “Scott”/Emma se posiciona abertamente contra o favoritismo da opinião corrente, algo agravado pelo seu ataque às Névoas-T, vistas como a panaceia capaz de libertar o homem do mundano, conforme a primeira edição. Tendo em mente o caráter intimista, alheio a grandes eventos, da minissérie e o destino final de Summers como uma ideia, bem como a natureza subversora de expectativas de sua narrativa, não é grande extrapolação perceber que em todos os “o que Scott fez”, “as ações de Ciclope que asseguraram o título de mutante mais odiado do mundo” ou “o que você e Solaris fizeram” das edições iniciais de Extraordinary X-Men houve a inferência por parte dos leitores de que Scott havia feito algo fisicamente grotesco, como um massacre, quando na verdade nunca houve uma afirmação textual do fato. O grande crime de Ciclope, na verdade, foi estabelecer um manifesto de oposição a um estado de coisas maciçamente aceito não só como positivo e natural, mas também transcendental – crime este suficiente para, aos olhos do público, relegar os mutantes, mais uma vez, a um caráter marginal.



Claro que, para os aficionados por manobras de bastidores, descortina-se uma miríade de outras explicações para esta súbita “mudança de rumos”. Além de possíveis exigências editoriais para uma retomada da “vilanização” de Ciclope no início da iniciativa Marvel NOW!, afrouxadas recentemente, ou mesmo de uma insatisfação dos roteiristas Lemire e Soule com tais planos, há uma outra possibilidade no mínimo intrigante: o suposto fracasso da “estratégia Inumana” da Marvel. Os Inumanos sempre foram um projeto pessoal de Ike Perlmutter, que tencionava transformá-los em uma franquia de sucesso. Contudo, após anos de embates silenciosos, o presidente do Marvel Studios, Kevin Feige, conseguiu desvencilhar-se do controle de Perlmutter, durante a produção do filme Capitão América: Guerra Civil, passando a reportar-se diretamente ao presidente do Disney Studios, Alan Horn. Sendo assim, Feige essencialmente separou a divisão de filmes do restante do conglomerado, incluindo produtos para TV e gibis. As consequências foram imediatas: o filme dos Inumanos, com estreia prevista para 2 de novembro de 2018, desapareceu da lista de lançamentos futuros do estúdio, sendo pretensamente adiado sob alegações da “dificuldade de encontrar um tom certo” e com crescentes rumores do seu cancelamento.

Finalmente, em 14 de novembro, anunciou-se que, em uma parceria inédita entre Marvel, ABC e IMAX, The Inhumans seria lançada em 2017 como uma “série evento”, com os dois primeiros episódios inteiramente filmados em IMAX e exibidos nos cinemas, e sequências nos demais seis filmadas no modelo. A minissérie será focada na família real Inumana, e não nos coadjuvantes apresentados em Agents of SHIELD. Apesar das afirmações de que a série televisiva não impede a existência do filme, é difícil imaginar que este será lançado algum dia.


Aliados aos rumores e lançamentos confirmados de RessurXion, o novo status quo da Marvel pós-IvX, como a suposta reversão dos efeitos da Terrigênese, tornando-a letal para os Inumanos, o que os catapultaria para o espaço na mensal Royals, por Al Ewing e Jonboy Meyers, tratando da viagem da família real ao mundo natal Kree, bem como de um amplo relaunch da linha X, com mensais de Homem de Gelo, Jean Grey, Arma X, dentre outros, além dos títulos X-Men Blue e Gold, evocando épocas clássicas da franquia, é fácil prover um argumento para a retomada da franquia mutante em detrimento do suposto fracasso Inumano, o que levaria a uma suavização do trato em Death of X, de movo a distanciar os mutantes do papel de vilões da história, algo a ser refletido na vindoura IvX. Até mesmo nos encadernados tal mudança poderia ter sido sentida, com o recente Inhumans/X-Men: War of Kings Omnibus, destacando o papel dos Inumanos na saga, tendo sido discretamente renomeado para simplesmente War of Kings Omnibus, às vésperas do lançamento.

Apesar desta hipótese ser potencialmente distante da realidade, sem dúvidas ela oferece uma interessante explicação externa para esta aparente mudança de direcionamento – embora, com uma leitura cuidadosa, é possível perceber a maneira com que os eventos se encaixam. De qualquer forma, talvez os melhores frutos de uma história sejam as discussões que ela suscita e, neste ponto, sem dúvidas Death of X foi uma minissérie vitoriosa.

Henrique Bracarense

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