quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Guerras Secretas: Tempos de um Futuro Esquecido

Segregação. Campos de concentração. Trabalhos forçados. Não, não estamos falando do nazismo: essa é a realidade nos Territórios dos Sentinelas, um espaço no Mundo Bélico onde mutantes são oprimidos de todas as formas possíveis. Mas um grupo pretende acabar com essa opressão... será que eles terão sucesso?



A quinta edição de Guerras Secretas: X-Men tem como nome “Tempos de um Futuro Esquecido”, referência óbvia ao arco Dias de um Futuro Esquecido. Embora tenha sido uma história de poucas edições, esse arco tornou-se um dos mais icônicos da história da Marvel, constantemente relembrado dentro e fora das HQs (ele inspirou o filme de mesmo nome dos X-Men). Para revisitar as ideias então mostradas por Chris Claremont e John Byrne, foram recrutados a roteirista Marguerite Bennett e o desenhista Mike Norton.

Quem leu Dias de um Futuro Esquecido deve ter uma ideia do que esperar desses territórios do Mundo Bélico: mutantes vivem confinados em campos de concentração, e a verdade é que a maioria dos humanos não vive em situação muito melhor, em meio a ruas devastadas. Aqui, tigres deixaram de ser animais em extinção e rondam Nova York à caça de carne fresca. Nesse lugar desolado, vive a jovem Christina “Chrissie” Pryde, filha dos outrora X-Men Kitty Pryde e Colossus, e apesar de toda a opressão vivida, ela consegue se manter otimista, inocente e idealista.



Chrissie (cujos poderes, semelhantes ao da jovem mutante Mercury, só são descobertos quando ela se livra de sua coleira inibidora) foi criada e educada com amor por seus pais e seus amigos, Magneto e Rachel Summers, em seu espaço de confinamento. Fora dele, vive o único outro mutante ainda jovem: Cameron, o filho de Wolverine. Ao contrário de Chrissie, Cameron foi criado em liberdade, mas teve que aprender na raça a sobreviver e a lutar. Com isso, não é surpresa que, se ela vê o mundo com otimismo, ele o vê de forma dura e cínica.

Os caminhos de Chrissie e Cameron se cruzam quando o rapaz e seu pai ajudam os X-Men cativos a fugir. Mas não se trata de uma fuga qualquer: eles têm um plano para convencer o presidente Robert Kelly a anistiar os mutantes e reintegrá-los à sociedade. A partir daí, tem início uma jornada em que ambos descobrirão muitas semelhanças – e muitas diferenças também.

Logo no começo dessa jornada, o grupo é atacado por Mística e Blob, enganados por assessores de Kelly para pensar que haviam sido entregues ao governo por Kitty; no confronto, Cameron tira a vida de Blob com seu poder de atravessar o que toca, mas Mística é convencida a se juntar aos X-Men. Ao longo do trajeto, os fugitivos reencontram Anjo e um Lockheed gigantesco e cego em um esconderijo subterrâneo para mutantes, separam-se durante um ataque de Sentinelas do Destino, encontram Tempestade (que pensavam estar morta) usada para energizar os novos robôs assassinos e descobrem um plano de usar um Sentinela para assassinar Kelly – com tudo indicando que o próprio Kelly estava armando o ataque para jogar a culpa sobre os mutantes e convencer a população a continuar temendo-os e odiando-os.



O que parecia uma armadilha acaba visto como oportunidade pelos X-Men: essa é a oportunidade de um mutante salvar o presidente em rede nacional e convencê-lo de que os mutantes são boas pessoas. A escolhida para essa missão é Chrissie, treinada desde pequena para ser um símbolo de esperança para os mutantes, ao contrário de seu irmão. Sim, se alguém esperava um romance entre os dois últimos mutantes nascidos nesse território, a esperança cai por terra quando eles descobrem que Cameron também é filho de Kitty e Piotr, tendo sido confiado a Logan logo após ter nascido.

Mas a verdade era muito mais sinistra do que parecia: enquanto a maioria dos X-Men acredita que o Sentinela que atacará Kelly não oferecerá resistência aos mutantes, Cameron descobre que Magneto e Rachel o reprogramaram (sem o conhecimento dos outros X-Men) para matar Chrissie , transformando-a numa mártir. Tudo isso em meio a um conflito com os demais membros da Irmandade de Mutantes (aliás, como a Sina consegue ter aquelas pernas em idade avançada??) numa tentativa de resgatar os mutantes de outro campo de concentração, ao lado do padre Noturno.

Toda essa tensão levou a uma divisão ideológica entre Chrissie e Cameron: ela, mesmo sabendo do perigo, pretende seguir com a missão a todo custo; ele, desiludido ao ver dois mutantes planejarem a morte de outra mutante que eles mesmos ajudaram a criar, decide que a sociedade estará melhor sem sua espécie e pretende matar Kelly em frente às câmeras para isso. No confronto que se segue, irmã acaba matando irmão para salvar seu opressor. Os X-Men atingiram seu objetivo... mas a sensação maior parece ser de derrota.

Se o presidente mudou de opinião? Se os mutantes ganharam esperança para o futuro? Essas perguntas ficam no ar enquanto a igreja de Noturno é atacada e os mutantes decidem travar sua última batalha.



Não fossem alguns detalhes (como Kelly ainda estar vivo e Rachel parecer ter a mesma idade de Kitty), essa história bem poderia se passar alguns anos antes dos eventos mostrados em Dias de um Futuro Esquecido. Bennett entregou um ótimo roteiro, cheio de homenagens ao antigo arco de Claremont e Byrne (por exemplo, todos os personagens clássicos que aparecem nessa história estiveram no arco em questão, fosse no futuro ou no presente) e reflexões marcantes, como a explicação de Colossus para seus filhos sobre como a intolerância só aumenta quando não é combatida, ou o encontro de Kitty com um dos vários tigres infestando Nova York após Cameron comparar os mutantes a esses animais como “espécies que naturalmente deveriam ter aceitado a extinção pelo bem da sociedade”. A arte de Norton, embora diferente da de Byrne, consegue imprimir um estilo “antigo” que combina muito bem com a atmosfera da minissérie.

Só é uma pena que a mini-história de Guerras Secretas mostrando Psylocke e Estrela Polar nesses territórios tenha sido publicada na edição anterior (provavelmente para atingir o número necessário de páginas), porque ela funcionaria como um complemento bem legal aqui. Mas isso em nada desmerece a penúltima edição de Guerras Secretas: X-Men, que proporciona uma ótima leitura, ainda que triste. Afinal, pior que campos de concentração e irmãos se matando, só se o inferno viesse para a Terra, mas isso não seria possível... ou seria? Descubra a resposta amanhã.

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