segunda-feira, 30 de março de 2015

X-Men Legado: Eu mando em mim!


A saga de David Haller chega ao fim. Na tentativa de fazer jus ao legado de seu pai, Charles Xavier, ele viveu em "caos e fúria" e chegou o momento de enfrentar sua derradeira sina, em todos os sentidos. Ele e sua namorada, Ruth Aldine, estarão realmente realmente destinados a matar um ao outro? David se transformará no "verme global" que irá absorver as mentes de todos os mutantes da Terra? As respostas trazidas pelo escritor Simon Spurrier e os desenhistas Khoi Pham e Tan Eng Huat surpreenderão vocês nas edições originais de X-Men Legacy #22 a 24, reunidas aqui em X-Men Extra #13 pela Panini.

David conseguiu reunir a maior parte de suas múltiplas personalidades para enfrentar uma delas que fugiu para o plano físico, que emulava a aparência de seu pai e se uniu à essência do perverso irmão de Ruth, Luca Aldine. O combate entre eles é indescritível mas David começa a fraquejar. Seu inimigo, interessado apenas em espalhar medo e destruição sobre a Terra, toma conta da mente do comandante de um submarino russo e o obriga a assassinar toda a tripulação e disparar uma ogiva nuclear para Washington. O que nenhum dos dois percebeu durante a briga é que o subconsciente do rapaz chamou reforços: as equipes de X-Men lideradas por Ciclope e Wolverine, reunidas lado a lado.


O míssil é rapidamente desarmado e destruído numa ação coordenada dos heróis, mas a Besta, como David a chama agora, começa a fomentar na mente deles os ressentimentos e ódios de tantos anos. Ciclope e Wolverine resistem a tal influência e perguntam a David o que fazer. Ele responde com uma frase emblemática, tantas vezes usadas por seu pai: A mim, meus X-Mem!  

  
O combate recrudesce e David percebe como é bom ter pessoas lutando sob sua liderança sem nenhum tipo de coação ou estratagema psíquico. Alguns  tombam durante o combate, como a Comandante Abgail Brand, da ESPADA, Jono Starsmoore, o Câmara e a menina Karasu Tengu. Curiosamente, essas pessoas tinham grandes divergências com o rapaz. David pede que Scott e Logan trabalhem juntos e ponham temporariamente suas diferenças de lado. As equipes reunidas começam a distrair a Besta enquanto David reúne tudo aquilo que é a essência dos X-Men: suas vitórias, fardos, perdas e derrotas e canaliza em direção a seu inimigo. O resultado é impressionante, com a destruição de Luca Aldine e da forma física que o unia à Besta. 


Ruth, que se encontrava sedada na Escola Jean Grey desde o último incidente na ESPADA, acorda e sua "forma astral" imediatamente parte para o local do combate. Mas ela não é mais a jovem emocionalmente instável que conhecíamos. A morte de seu irmão fez com que os poderes que este roubou dela voltassem a sua legítima dona. Ela pede que não chamem mais seu namorado de Legião e nem ela de Olhos Vendados. Ela retirar a venda que cobria sua visão e pede que a chamem agora de Sina.

Como Ruth deduziu corretamente, David e a Besta continuam a se enfrentar dentro da mente do rapaz, mas desta vez ele leva a melhor. Seu adversário percebe que ele conseguiu reunir a maioria de suas personalidades quando é, enfim, derrotado. Contudo, quando David a absorve, a situação sai do controle novamente e ele começa a se transformar no "verme global". Desta vez, de verdade. 


A alma de todos os mutantes presentes no local começam a serem atraídas por ele. O mesmo acontece com as de todos do planeta. Quando os demais heróis intervêm, o resultado é inócuo e nem uma bomba nuclear foi capaz de detê-lo. Ruth finalmente se une ao seu corpo físico e parte para a ofensiva contra David.


O rapaz pede que ela o mate, mas Ruth não quer chegar a esse extremo. Ao invés disso, sua "forma astral" deixa novamente seu corpo e entra na mente de David, enquanto seus corpos físicos continuam lutando entre si. David revela que ainda não conseguiu reunir todas as suas personalidades, entre elas algumas que se chamam Tecelã e Cronodon. Ao se lembrar desta ultima, David a absorve também e dessa forma consegue desacelerar o tempo, ao ponto de fazê-lo parar. Agora, pela primeira e última vez, o tempo não é nenhum empecilho para eles. Os jovens, sabendo que um ou outro perecerá em seguida, aproveitam essa "janela de oportunidade" e fazem amor.


Quando eles terminam, Ruth é expulsa da mente de David contra a vontade dele e ela regressa ao seu corpo físico. O "verme global" começa a implodir, sobrecarregado de tanto poder. A batalha entre os dois amantes continua e David não tem esperança de que Ruth sobreviva. No interior de sua mente, ele se aproxima da última personalidade que ainda não integrou com as demais, a já mencionada Tecelã. Ela sempre resistiu a esse tipo de iniciativa e David, ao questioná-la sobre isso, recebe uma resposta surpreendente: "Eu mando em mim!". Ou seja, o mesmo lema que dirigiu as suas ações o tempo todo, mas que agora ele o considera uma grande mentira, pois é incapaz de controlar suas ações e o destino o venceu, apesar de todo seu poder.


A batalha no plano físico atinge o seu auge. Mesmo assim, Ruth não consegue deixar de ouvir o tempo todo uma espécie de sussurro psíquico, ainda não perfeitamente inteligível. À medida que ela começa a ser tragada pelo verme, David revive toda a sua vida e se aproxima de algo que ele chamou de "samambaia fractal", um emaranhado de destinos alternativos que sempre convergiam num ponto comum ao alto, que representava seu trágico destino em todas elas. Diante dela, David afunda de vez em auto-piedade, dizendo que nunca esteve à altura do legado de seu pai. "Nunca poderia ser ele", diz. Ruth está quase morrendo lá fora e sua alma começa a abandonar seu corpo. Desta maneira, ela finalmente consegue compreender o que o tal sussurro queria dizer. Na verdade, era um recado de Charles Xavier para David, que dizia simplesmente o seguinte: "Estou muito orgulhoso de você, meu filho!"


A Tecelã finalmente se aproxima do rapaz e lhe apresenta um discurso enigmático: "Crença em si mesmo, uma coisa tão simples e patética mas tão importante. Ele se orgulha de mim. Pobre sub-personalidade, já passou por tanta coisa", diz se referindo a David, que a contesta imediatamente, porém sem muita ênfase: "Você que é a sub". Ela continua: "Está pronto? Vai fazer as pazes consigo mesmo?" A pergunta fica sem resposta e a Tecelã, criadora de sonhos e modeladora da realidade, se funde ao rapaz e pela primeira vez na vida ele se sente inteiro.

David se volta para a "samambaia fractal" e começa a procurar por uma realidade que não foi condenada, enquanto ressuscita os herois que tombaram em combate e restaura a normalidade do nosso planeta. Ele finalmente compreende que não pode criar uma nova dimensão pois ela acabaria ficando tão "avacalhada" como a atual. Compreende também que não pode ser um "juiz do destino" ou mesmo um "acólito" para seguir os passos de seu pai e chega à conclusão de que é melhor ficar "de fora" de uma vez por todas para que a história possa seguir o seu rumo, sem ele para atrapalhar. "Eu me recuso a me submeter a um universo onde não mando em mim", ele diz, "isso não é a morte, mas nunca ter nascido".



A "samambaia fractal" é destruída e Ruth assiste a tudo sem conseguir intervir. Ela entra em desespero mas subitamente se vê de volta à Academia Jean Grey. Cercada pelos outros alunos, ela percebe que é a única pessoa do lugar que se lembra de que Charles Xavier tinha um filho chamado David. A menina começa a chorar mas logo ouve uma voz dentro de sua mente: "Ruth? Calma, tá tudo bem." "É você?" "Sou eu, sim". "Onde você tá?". "Na sua cabeça, para sempre."  A jovem sorri, deixa seus colegas de lado e caminha com ar decido, dizendo algo sem sua habitual dificuldade de se expressar: "Eu mando em mim!"



Meus amigos, que grande história! Que grande trabalho realizado! Há muito tempo não vibrava tanto com uma história dos X-Men, talvez desde quando li a fase de Josh Whedon e John Cassaday em "Surpreendentes X-Men" pela primeira vez. Um trabalho brilhante de Simon Spurrier e com desenhos nem sempre à altura, infelizmente, mas que melhoraram muito no desenrolar do título, especialmente os de Tan Eng Huat. Não posso deixar de mencionar pelo menos um "erro de continuidade" entre este desenhista e Koi Pham, que desenhou Ruth tirando a venda dos olhos na edição original de número #22 e Huat ignorou isso totalmente nas edições #23 e #24. Outros erros deste tipo podem ter acontecido, mas não cheguei a percebê-los.

Gostei muito do momento em que David pronunciou a mesma frase de seu pai: "A mim, meus X-Men". Confesso que fiquei emocionado nessa hora, assim como no momento em que Xavier, seja o genuíno ou não, disse que tinha orgulho de seu filho. Outro momento de destaque foi a "transa psíquica" entre Ruth e David, num gancho sensacional. Sobre esse lema tão pueril, "eu mando em mim", isso se tornou uma espécie de "fio condutor" da série e funcionou muito bem. Achei que seria muito difícil que David e Ruth terminassem juntos ou vivos no final da série mas isso aconteceu, de certa forma, numa espécie de "final feliz" incomum nas histórias mutantes da atualidade.

Como já mencionei em outras resenhas, achei que Tan Eng Huat melhorou muito em relação ao início da série. Deve ter havido alguma troca de arte-finalista que fez com que seu traço adquirisse uma expressividade e ousadia na diagramação que não havia antes. Khoi Pham sempre apresentou um trabalho correto, que favorecia ao entendimento da história. Talvez a narrativa deste flua de maneira mais clara para os leitores, o que nem sempre acontecia com Huat. Não podemos também deixar de mencionar o trabalho brilhante de Michael Del Mundo como capista da série, que causava sempre um aspecto de estranheza que era desfeita apenas no final de cada história. 



Sim, realmente é uma série de compreensão mais difícil. Eu reli várias vezes cada capítulo antes de fazer as resenhas para não errar nelas mas, em suma, quero dizer o seguinte: vale muito à pena se esforçar em sua leitura pois é um material de excelente qualidade.

Parabéns à Panini por ter apostado na publicação deste material e concluído toda a série. Na verdade, ainda resta mais um número a ser publicado, de número #300, que representa a soma de todos os títulos publicados sob o nome "Legacy". É uma história "one shot" feita pelos seus principais criadores e que está prometida para a edição #14 de X-Men Extra.

C@rlos

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