sábado, 9 de agosto de 2014

Maratona 616: Conheça as Primeiras Aventuras do Senhor das Estrelas


No artigo anterior, conhecemos a primeira origem de Peter Quill, o Senhor das Estrelas, que teve sua mãe assassinada por alienígenas e jurou vingança. Para isso, ele entrou para a NASA e foi escolhido pelo enigmático Mestre do Sol para cumprir um "destino glorioso" viajando pelo universo mas muitos aspectos sobre sua origem permaneciam obscuros. Alguns desses aspectos só viriam a ser revelados no seu retorno, publicado originalmente na revista Marvel Preview #11 em 1977, em preto e branco, nas mãos da lendária equipe criativa responsável por uma das melhores fases de Uncanny X-Men: Chris Claremont, John Byrne e Terry Austin, aqui reunida pela primeira vez.  A mesma história seria republicada em cores em 1982 em Star-Lord - The Special Edition com algumas páginas extras no início e no fim  com texto de Claremont e desenhos de Michael Golden, às quais me referirei mais adiante.


Nessa nova aventura, a "Nave" senciente de Peter aparece pela primeira vez. Eles cruzam o caminho de um mercador de escravos chamado Kyras Shakati e libertam todos os seus cativos, provenientes de mundos flagelados a seu comando. Dois desses ex-cativos se tornam particularmente próximos a Peter, o impetuoso Kip, sedento para se vingar daqueles que destruíram seu mundo natal e sua família (exatamente como Peter era antigamente) e a jovem Sandy, nativa de um mundo onde só se sobrevivia à base de muita astúcia. Eles descobrem que o objetivo desse tráfico de escravos era angariar fundos para um golpe de estado contra o imperador de Sparta orquestrado pelo tio dele, Gareth. O trio consegue reunir evidências suficientes sobre o golpe e Peter ordena que Kip e Sandy entreguem o que têm em mãos para o Imperador enquanto ele fica para trás e enfrenta Rruothk´ar, da Confederação de Ariguan, aliada de Gareth. Durante o combate, Peter percebe que a criatura reptiliana é a mesma que assassinou sua mãe e assim ele finalmente pôde cumprir o seu juramento como gostaria.


Em seguida, Peter enfrenta o próprio Gareth mas este se revela um oponente melhor no manejo da espada. Quando está prestes a desferir o golpe fatal, ele tira a máscara de Peter e hesita de maneira inexplicável. O Senhor das Estrelas não perde a oportunidade e consegue reverter a situação e desarmar seu adversário.


A conspiração está praticamente abortada, mas Gareth é um péssimo perdedor e consegue envenenar Peter que, num ato reflexo, arremessa sua espada na direção dele e acerta o vilão em cheio, que cai do palácio flutuante em que se encontravam. Enquanto o organismo de Peter luta para se livrar dos efeitos do veneno, ele é cercado por guardas imperiais e sua "Nave" chega disposta a tudo para resgatá-lo. Antes que a situação piore ainda mais, Kip e Sandy aparecem com o Imperador de Sparta, que apresenta uma surpreendente revelação: "Peter Jason Quill, eu sou o seu pai".


Os últimos remanescentes da conspiração são aprisionados. Uma frota spartana se posiciona em volta do planeta para evitar alguma retaliação dos Ariguans e Jason começa a contar a sua história. Quando jovem, ele não queria assumir suas responsabilidades na corte e ficou percorrendo o espaço como nômade até que sua nave caiu na Terra e foi resgatado por Meredith Quill. Eles se apaixonaram e Meredith engravidou de Jason, que teve que retornar a Sparta antes que o bebê, Peter, nascesse pois não queria expor a moça à guerra contra Ariguan. Para que ela não sofresse, Jason apagou suas memórias e Meredith se casou com um amigo de infância. Em Sparta, Jason pediu a Gareth para trazer sua família de volta mas, ao invés disso, ele mandou  Rruothk´ar  para assassiná-los mas Peter, com doze anos na época, conseguiu fugir e Jason, enganado pelo tio, achou que Meredith e o bebê tinham morrido no parto. Em seguida, Jason pergunta a Peter se ele quer ser seu herdeiro. Ele recusa, pois não quer deixar de explorar o universo e pede que Jason adote Kip como seu filho e Sandy como sua nora. Logo em seguida, Peter e sua "Nave" deixam o planeta e partem rumo ao desconhecido.


Aqui no Brasil, essa história foi publicada em cores na antiga revista Herois da TV #70 e #71, da Editora Abril, mas sem as páginas extras. Estas faziam referência à comemoração do centésimo (!) aniversário da coroação do Rei Jason e Peter retorna a Sparta para prestar uma homenagem ao pai e o convida para viajar no espaço com ele. Jason aceita o convite e abdica ao trono, colocando Kip em seu lugar, que é agora um respeitável príncipe ao lado de Sandy e pai de três crianças. É praticamente um epílogo para as aventuras do Senhor das Estrelas, que só voltaria a ter relevância mais de vinte anos depois.

Voltando à década de 70, Claremont ainda escreveu duas histórias em preto e branco com os fantásticos desenhos de Carmine Infantino. A primeira foi publicada em Marvel Preview #14 em 1978 com o título de "Sandsong", em que Peter e "Nave" recebem uma mensagem de socorro de um planeta hostil e acabam perdidos por lá e cercado por inimigos em órbita. "Nave" assume uma forma humana feminina e se apresenta a Peter como Caryth Halyan, escondendo a ele sua verdadeira identidade e tenta dar vazão ao amor que sente por ele, mas as coisas acontecem de maneira diferente. Ambos acabam tendo que lutar desesperadamente para sobreviver neste lugar, derrotar seus inimigos e salvar os exóticos seres que vivem em simbiose neste planeta. Infelizmente, essa história nunca foi publicada no Brasil.



Outra história dessa dupla criativa foi publicada em Marvel Preview #15 também em 1978, com o título de "A Matter of Necessity". Nela, Peter e "Nave" lutam para impedir que um planeta habitado seja destruído pelos comandantes militares da gigantesca nave que abriga a civilização de Haalmhad. Algo interessante nessa história é mostrar que nem todos os moradores dessa "civillizaçao nômade espacial" concordavam com isso. No final, o planeta ameaçado é salvo, o imenso encouraçado espacial é inutilizado e "Nave" reboca a todos para um planeta capaz de abrigá-los.

Essa história é importante para a mitologia do personagem por apresentar a origem da "companheira" do Senhor das Estrelas. Ela era uma estrela "anã amarela" que desenvolveu auto-consciência e que foi induzida a entrar em supernova por uma frota alienígena que disparou uma bomba no seu interior. Isso dizimou todo o sistema solar que circundava em seu redor, inclusive dois mundos que tinham potencial para abrigar seres vivos e isso lhe causou profunda tristeza. De alguma forma, ela foi resgatada pelo "Mestre do Sol" e, ao conhecer Peter no dia em que ele se tornou o Senhor das Estrelas, ela se identificou com o sofrimento dele e quis estar sempre ao seu lado. Assim, ela reuniu matéria espacial em volta de si para conseguir se relacionar com ele e se tornou a "Nave" que conhecemos hoje. Essa história permanece inédita no Brasil. Reparem que a capa desta edição foi desenhada pelo fantástico Joe Jusko, emérito capista da excelente "A Espada Selvagem de Conan".



A última das histórias em preto e branco produzidas para o Senhor das Estrelas, "Less than Human", foi publicada em Marvel Preview #18 em 1979, com roteiro do competente Doug Moench e desenhos do incrível Bill Sienkiewicz antes de sua fase expressionista. Aqui no Brasil, ela foi publicada em Aventura e Ficcção #2 pela Abril.


Peter e "Nave" investigam um planetoide chamado "Redstone", pois detectaram numa cidadela uma fonte de energia de grande poder de destruição. Ela é governada pelo colonizador do planeta, conhecido como Quan-zaar, que na verdade assassinou e roubou a fonte de energia do próprio filho, que havia se aliado a criaturas conhecidas como "Beastmen", meio-homem e meio-fera. Elas foram geradas a partir de experiências genéticas realizadas pelo colonizador nos nativos que sobreviveram à sua "chegada" e se encontravam praticamente extintas mas queriam se vingar dele reavendo a fonte de energia e destruindo todo o planeta, inclusive inocentes. Peter é forçado a abrir mão do seu juramento de não matar nenhum ser vivo pela jovem Sylvana, moradora de Redstone, para evitar que milhões de inocentes venham a morrer. Na batalha sangrenta que ocorre entre os últimos Beastmen e o exército de Quan-zaar, ele próprio é assassinado por um deles e o último de fato tomba nas mãos do Senhor das Estrelas.

Moench escreveu mais algumas histórias do Senhor das Estrelas para a revista Marvel Spotlight e Marvel Premiere, todas elas publicadas em cores com os péssimos desenhos de Tom Sutton. A mais relevante delas se chama "The Saga of Star-Lord" e foi publicada em Marvel Spotlight v. 2 #6. Ela traz o reencontro de Peter com o Mestre do Sol, que foi condenado à morte pela Confederação de Ariguan devido à criação do Senhor das Estrelas e por usar o seu vasto conhecimento para fins pacifistas. Na verdade, o Mestre do Sol é um cientista de Ariguan chamado Ragnar e Peter, ao vir socorrê-lo, descobre sua verdadeira identidade. De maneira surpreendente, Ragnar se rende e ordena que Peter respeite sua decisão. Ele atende, muito a contragosto. Peter, que deveria ter sido o primeiro de uma tropa destinada a levar paz e justiça para o universo, acabou sendo o único. Certamente não era nada disso que Steve Englehart tinha imaginado ao criar o Mestre do Sol, tao afeito a incluir elementos míticos e astrológicos nas histórias que escrevia, como mencionado antes.



A origem atual do Senhor das Estrelas, promovida por Brian Michael Bendis, sofreu várias modificações em relação à original e foi publicada no relançamento de Guardians of the Galaxy #1 nos EUA em 2013 e aqui no Brasil em Universo Marvel #1 pela Panini. O pai de Peter não é mais o imperador de Sparta, mas de Spartax e seu nome foi levemente modificado para J´son. O caráter dele mudou para pior, estando agora bem longe do governante sábio e benevolente das primeiras histórias. Ao invés de ser um herdeiro entediado que queria explorar o universo, J´son  foi exilado do seu mundo natal acusado de traição e foi resgatado por Meredith Quill quando sua nave caiu na Terra, como na origem que conhecemos e deixou sua arma elemental com ela ao voltar para Spartax. 


Quando os Badoons assassinaram Meredith (não mais a raça dos Ariguans), Peter conseguiu escapar e manteve a arma elemental consigo sem maiores dificuldades, pois ela se parecia com um brinquedo. O caráter messiânico de Peter também nao existe mais e ele se tornou irônico, impetuoso e capaz de tomar decisões difíceis sem maiores crises de consciência. Como mencionado antes, Peter se tornou curiosamente próximo de sua primeira versão de 1976. Os detalhes dessa nova origem podem ser encontrados aqui

Infelizmente, pode-se perceber claramente que muitas das primeiras aventuras deste personagem nunca foram publicadas no Brasil e não creio que um dia serão pois elas não fazem mais parte da sua cronologia. Agora é torcer para que a Panini continue publicando as histórias atuais sem interrupção.

C@rlos

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