quarta-feira, 31 de julho de 2019

O novo filme do Doutor Estranho, as referências lovecraftianas e a base dos quadrinhos


De todas as surpresas da San Diego Comic Con, o novo filme do Doutor Estranho que o levará ao Multiverso da Loucura foi certamente uma das novidades que mais causou burburinhos entre os fãs. Além de anunciar a co-participação de Elizabeth Olsen como a Feiticeira Escarlate no filme, o diretor Scott Derrickson anunciou o longa como sendo uma obra de Terror. Kevin Feige tentou amenizar o susto informando que mesmo sendo categorizado como Horror, não deixará de ser um filme PG-13. Mas mais que isso, o título de Doutor Estranho: No Multiverso da Loucura nos leva a crer que este será um filme ainda mais enraizado nos quadrinhos e deve mergulhar num universo lovecraftiano.

Antes de mais nada, devo salientar que a dica pra esse artigo sair veio do nosso colega Paulo Artur. No podcast que saiu ontem, ele exatou uma referência direta do título do Doutor Estranho com o 'Montanhas da Loucura' de H.P. Lovecraft. E lembrou como nas histórias mais antigas do personagem, sempre se fazia referências às obras do escritor de terror. Com a dica, fui então atrás de informações que pudesser nos dar mais detalhes sobre o vindouro filme e eis que isso resultou no presente artigo. Só precisava esperar o podcast sair primeiro pra dar os devidos créditos ao Paulo.



Começando já pelo livro que inspirou o título do filme, eis que Nas Montanhas da Loucura, uma obra de 1931, o personagem principal, o Professor William Dyer está em uma expedição para a Antártida quando se depara com catorzes formas de vidas pré-históricas, mais antigas que a Lua, que vivem numa cidade alienigena e que não só habitam a Terra desde sempre como também são responsáveis pela criação da vida. Em meio ao sumiço da tripulação, o protagonista vai aos poucos perdendo o controle de sua sanidade por conta do encontro com essas estranhas formas de vida.

O confronto com entidades antigas, coisas que fogem a nossa percepção, é algo que é notoriamente comum ao Doutor Estranho. Se extrapolarmos as limitações da época de Lovecraft e parar de pensar em termos de uma montanha, mas sim de um Multiverso, podemos ter aí um caminho pra Marvel lidar com suas entidades cósmicas mais antigas. Foi nas páginas de sua revista mensal que apareceram pela primeira vez na Marvel o Tribunal Vivo (Strange Tales #157), Eternidade (Strange Tales 138), a trindade que forma o Vishanti (Strange Tales #115; Marvel Premiere #5), Cyttorak (Strange Tales #124) e tantas outras entidades do tipo. Poderíamos incluir o próprio Dormammu aí.


Um desses seres antigos, talvez mais popular pelo jogo da Capcom do que pelo quadrinho, Shuma-Gorath faz parte da raça de seres chamadas de Antigos. Foi criado por Robert E. Howard, sim o Pai do Conan, mas foi aparecer de fato na Casa das Ideias em Marvel Premiere #5, pelas mãos de Steve Englehart e Frank Brunner.  Sua aparência cheia de tentáculos ao redor de um grande olho é notoriamente similar aos monstros do panteão lovecraftiano. Paulo, ao me ajudar na consultoria deste artigo me apontou que Shub-Niggurath, uma entidade antecessora ao famoso Chulthu, lembra em descrição e em nome o Shuma-Gorath.



Shuma-Gorath é definido nos quadrinhos como um poderoso pesadelo que prevalecia nos primeiros dias da criação e que se podia manifestar fisicamente de dentro dos espaços vazios entre universos como sendo ecos de memórias desses pesadelos. Basicamente é encarado como um demônio antigo da mais alta ordem e com poderes inigualáveis. Em nossa dimensão é quase imbatível, em sua dimensão nativa, é onipotente. Por vezes, Shuma-Gorath é definido pelos seus iguais como um líder, o Lorde do Caos, devido a natureza de seus poderes. Agora se atenha a essa última. Vamos falar agora sobre Feiticeira Escarlate, e lembrar que nos quadrinhos tudo nela tem a ver com a Magia do Caos.



Nem sempre a Feiticeira Escarlate foi tratada como uma detentora de Magia. Seus poderes até então eram unicamente atribuídos ao seu dom mutante de alteração da realidade. Seu vínculo com a Magia do Caos veio com  o surgimento de Chthon em Avengers #186 (opa, quase saiu um Cthulhu), uma ser antigo criado por uma força senciente da biosfera chamada de Demiurgo e que é definido por muitos como um Deus Antigo cuja aparência nos quadrinhos em nada deve aos monstros lovecraftianos. Chthon foi criado juntamente com Set, Gaia e Oshtur, mas de todos ele foi o mais corrompido. Todos os seus trabalhos místicos criados por ele neste plano foram reunidos num livro chamado de Darkhold. E é nesse livro que há o meio de trazê-lo de volta.



Quem conhece a história de Wanda sabe que a ligação da mutante com a entidade é grande. Nos quadrinhos, foi estipulado que Chthon está envolvido com ela desde seu nascimento nas montanhas Wundagore e quando adulta usou o corpo da poderosa personagem como um veículo para voltar a esse plano e isso levou a um começo de uma trilha de desestabilização da personagem que passou a muitas vezes operar não como uma simples vilã, mas como uma ameaça em potencial. Mesmo depois de livre da influência do demônico antigo, Wanda nunca se restabeleceu totalmente e mais de uma vez deixou a loucura a dominar.



Revisitando essas informações tiradas do material fonte, os quadrinhos, fica agora difícil não acreditar que a Marvel não esteja planejando tirar algo disso aí. Anteriormente, o diretor citou mais de uma vez o seu interesse de também trabalhar com o vilão Pesadelo, mas talvez a Marvel tenha exigido dele aumentar em muito os níveis de ousadia do filme. Ou talvez o Pesadelo ainda se encaixe aí, de alguma maneira. Quem sabe? 

Doutor Estranho No Multiverso da Loucura terá a volta de Benedict Cumberbatch ao papel do Mago Supremo, que estará acompanhado da Feiticeira Escarlate, Wanda Maximoff, vivida por Elizabeth Olsen, e será dirigido mais uma vez por Scott Derrickson. O filme está previsto chegar aos cinemas em 7 de Maio de 2021.

Coveiro

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