Warren Ellis é um nome que desperta muita atenção entre os leitores de histórias em quadrinhos. Normalmente, é um nome associado a trabalhos de qualidade. Também pudera, já que escreveu clássicos como Planetary (alô Panini, cadê os encadernados desse clássico?), Transmetropolitan e Thunderbolts. No entanto, sua passagem pelos Surpreendentes X-men suscita muita controvérsia. E não ia ser diferente em Xenogênese, publicada em Grandes Heróis Marvel n°'s 05 a 07.
A história começa com um jovem sendo perseguido por estranhos soldados. Ao perceber que não tem saída, o jovem, que aparenta ser mutante, emite um brilho azul. A cena é cortada para São Francisco, base dos Surpreendentes X-Men, onde Ororo trava uma conversa com seu marido, o Pantera Negra. Aparentemente, estranhos nascimentos de crianças com poderes estão acontecendo em Mbangawi. Tal fato aguça a curiosidade dos X-Men (Tempestade, Ciclope, Wolverine, Fera, Armadura e Emma Frost), que em conjunto com a organização Mutants Sans Frontières, vão para o pequeno país africano.
Mbangawi é um pequeno país governado por Joshua N'Dingi, conhecido pela alcunha de Doutor Crocodilo. Joshua foi membro da antecessora do Ar Negro e do MI13, a RCX. Enquanto cuidava de crianças (batizadas de warpies) que foram expostas a “Dobra Espacial Jaspers” (provocada pelo mutante Jim Jaspers, possuidor de poderes de alteração da realidade, dado como morto em Morrer Pela Espada, que foi um crossover entre o Novo Excalibur e Exilados, escrito por Chris Claremont), uma delas explodiu, ferindo Joshua mortalmente. Uma vez que era um agente britânico altamente qualificado, Joshua recebeu implantes cibernéticos, que acabaram lhe rendendo o apelido de Doutor Crocodilo. Após tomar conhecimento da morte do pai, Joshua pediu baixa do RCX e voltou suas atenções para Mbangawi.
Ao chegar ao pequeno país da África, os X-Men são recepcionados pelas tropas de Joshua. Mas o que é um exército perante os X-Men? Facilmente derrubados, o grupo se volta para os bebês. No começo, todos pensam que a extinção mutante está no fim. Mas na verdade, apôs um exame detalhado, realizado por Hank McCoy, descobriu-se que eram recém-nascidos com danos cromossômicos, provocados por uma radiação similar a da Caixa Fantasma.
No momento que descobrem que o fator das mutações é externo, os X-Men são atacados por Joshua e sua tropa, que diz que os bebês são warpies, seres que podem trazer sérios danos a Mbangawi. Isto confirma as suspeitas de Hank: Trata-se de nascimentos xenogéneticos, onde os filhos não possuem quaisquer características de seus pais. E por causa disso, Doutor Crocodilo quer matá-los, seja pelo fato das mutações causarem dor aos seus portadores, seja pelo fato de serem possíveis bombas relógios.
Apôs os X-Men terem dominado as tropas de Joshua, começa um tiroteio. Ciclope despacha Tempestade, Fera e Wolverine para cuidar do problema. Joshua também destaca um grupo para lidar com a situação. Embrenhando-se pela mata, os X-Men localizam um jovem, que afirma ser Jim Jaspers (observação: essa não é a versão 616 do vilão). Jaspers acaba sendo baleado por um dos soldados da tropa do Doutor Crocodilo. E nesse momento, chegam serem estranhos, vindos de outra dimensão. Ororo leva Jaspers para tratamento médico, enquanto Logan e Hank tem que cuidar dos viajantes extra-dimensionais.
Mas logo se descobre quem são os viajantes extra-dimensionais. Emma faz uma viagem ao interior da mente de Jaspers, revelando que se trata de fúrias, máquinas especializadas em matar super-humanos (quem reconheceu Batman, Robin e a Mulher Maravilha mortos na página dupla?). Por sinal, esse ser foi criado pelo Jim Jaspers 616 (a última aparição do Fúria foi em Morrer Pela Espada) E não adianta eliminar todas as máquinas. Acaso isso ocorra, uma nova leva voltará, ainda mais poderosa que a anterior, para aniquilar a ameaça. Só restaria uma alternativa: permitir que Jaspers realize um salto dimensional, o que inundaria a região com mais radiação.
Contrariando as expectativas, o às da manga sai de Emma. Mas o plano precisa de uma fúria intacta. Emma consegue atrair uma dessas máquinas assassinas para perto de si. Com a ajuda de Joshua, a Rainha Branca realiza uma lobotomia no ser, que agora entende que Jaspers está morto e que não há ameaça a ser neutralizada.
Apôs a confusão toda, Joshua permite que os X-Men cuidem das crianças. No entanto, nem tudo são flores. Apôs um amistoso diálogo com os X-Men, Joshua mata a versão alternativa de Jaspers, o que deixa Scott e Ororo injuriados.
A história em si é simples. Misturando um pouco de ficção científica e com bastante ação, Ellis e Andrews conseguem criar uma boa trama. Obviamente, Ellis passa longe dos grandes momentos que apresentou em Thunderbolts e Planetary. Aliás, seu run em X-Men foi bem abaixo do esperado (ainda que melhor que muitas coisas produzidas pelos outros escritores da franquia).
Mas há pontos interessantes e positivos, como a questão dos problemas que afetam a África. Quando a questão não envolve petróleo e diamantes, as potencias ocidentais pouco se importam com os problemas do continente africano. Ellis toca nesse ponto, a despeito de alguns diálogos serem extremamente polêmicos, como a fala de Logan sobre Mandela. O ritmo da história é muito bom e os desenhos de Andrews tem um bom traço. Apesar das escolhas estéticas de Andrews (falarei no parágrafo abaixo sobre isso), de maneira geral, as cenas de ação são bem construídas. E a revisitação de temas como viagens dimensionais, fúrias e Jim Jaspers foi feita de forma competente.
Agora os problemas. Comecemos pelos desenhos. Andrews tem um bom traço, apesar de sua Emma Frost ser um tanto quanto estranha (aquelas caretas e a cintura são de dar arrepio). O problema foi o visual escolhido para Fera e Tempestade. De repente, estamos de volta aos bons tempos que Ororo tinha um moicano e Fera era um símio. Mas ao mesmo tempo em que vemos isso, lá estão Armadura e Emma.
Muitos fãs acreditam, em razão disso, que se trata de uma história à parte da cronologia. No entanto, analisando com cuidado, percebe-se que é possível encaixa-la dentro da linha cronológica, mesmo que tenhamos que conviver com as opções de visual adotadas por Andrews. Outro ponto é saber se Xenogênese tem algo a ver com Morrer Pela Espada, já que tratam basicamente das fúrias criadas por Jim Jaspers. E no final, Ellis patina (como tem sido praxe em algumas histórias) ao dar uma solução Deus Ex Machina para o problema das máquinas assassinas.
No frigir dos ovos, Xenogênese é uma boa mini. Longe de ser o melhor trabalho de Warren Ellis, é divertido ver os X-Men às voltas, novamente, com viagens dimensionais. E é sempre bom rever personagens criados por Alan Davis, Alan Moore e Jamie Delano (alô Panini, hora de um encadernado com esse período da Marvel Britânica).