quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Punho de Ferro: A Arma Viva


Assim como fez com o Homem-Aranha: Potestade, o canadense Kaaren Andrews retoma o papel mais uma vez de roteirista e desenhista, só que desta vez resolveu se meter num campo ainda não muito explorado das profundezas de Kun Lun e assim revistar em 12 edições (que saíram no Brasil em 2 encadernados) o passado de Daniel Rand. E eis que temos uma divertida história introduzindo novos elementos na mitologia do Punho de Ferro.

Tudo começa com uma entrevista, que acaba se misturando com um romance. Brenda Swanson é uma jovem jornalista que parece estar fissurada na história enigmática de Daniel. Ele por sua vez oscilava naquela mesma noite num devaneio louco ao reviver sua infância traumatizante mais uma vez tudo. A mais antiga lembrança assustadora remete ao seu pai Wendell, completamente enlouquecido para chegar até a cidade proibida, a traição de seu sócio Harold Meachum e a terrível morte de sua mãe Heather.




A tortura daquele passado revivido é quebrada pela ameaça do presente quando o apartamento de Daniel é invadido por assustadores ninjas que são uma mescla de carne e peças mecânicas. Eles estavam atrás de uma menina, Pei, que escapou de um recente ataque a Kun Lun e fugiu com o último ovo de Shou-Lao. Depois de deixar a menina no hospital aos cuidados de Brenda e seu amigo, o Detetive Li, Rand parte para Kun Lun através do portal Randall (visto pela primeira vez na fase de Ed Brubaker) e se depara com um lugar completamente destruído.

Lá, Daniel encontra o antigo Shou-Lao morto, seu mestre Trovejante e atual yu-ti de Kun Lun decapitado e poucos sobreviventes. Muito dessa parte da história remete a lembranças de quando Daniel foi treinado ali, sempre ameaçado pela versão mais jovem de seu antagonista Davos, a Serpente de Aço, e protegido pela Pardal, a filha de Orson Randall, também criada e adotada ali pelo Trovejante. Numa das últimas lembranças, vemos o momento em que o potencial último Punho de Ferro foi derrubado por uma gigantesca ameaça chamada de "Um" e que pareceu profetizar antes de sua morte que Dan seria o seu substituto.


Então, Daniel é finalmente confrontado pela real ameaça que destruiu Kun Lun. E ele se revela sendo uma gigantesca criatura mecânica com pedaços de carne de diversos corpos. Boa parte do corpo, Rand percebeu que era o do Um. Já a cabeça, para seu terror, era de seu pai. Atemorizado pela realidade que se confrontava com seus pesadelos do passado, Daniel foi abatido pela criatura que quebrou suas mãos. Em um último instante antes da sua derrocada, Daniel é salvo pela já adulta Pardal acompanhada de uma figura pequena, velha e esquisita.


Paralelamente a isso tudo, a pequena fugitiva Pei é atacada no Hospital por Davos, a Serpente de Aço. Brenda ajudou-a a escapar do hospítal e até derrotou por uma estranha Mulher-Aranha assustadora. Em meio a tudo isso, o ovo de Shou-Lao chocou e surgiu o pequeno dragãozinho chamado Gork. Mas no fim, a Serpente de Aço capturou a menina e o dragãozinho e ao se juntar ao seu grande líder, arquitetavam construir a nova Kun Lun bem ali, onde antes era o prédio das Indústias Rand.

Daniel despertou completamente esmorecido nos braços da Pardal e acabaram enlaçando uma noite de amor que há tempos era adiada. Já o baixinho chamava-se Tô-lô e foi exilado de Kun Lun justamente por sua afeição por máquinas. Com o ajuda destes dois, Daniel passou a recuperar sua moral para voltar a lutar e um jeito alternativo para canalizar seu chi (já que não poderia contar com seus punhos).

Em uma nova fase de seu treinamento, To-lô construiu manoplas para Rand, verdadeiros e literais punhos de ferro, para ajudá-lo enquanto suas mãos estavam inutilizadas. Nesta nova etapa, Daniel teve que confrontar seus antigos medos, lutou contra uma manifestação da entidade mística Yama, usou a sua pele de lobo depois que o derrotou e assim finalmente encontrou sua mãe. Mas o maior desafio de Daniel ali era na verdade desapegar de tudo aquilo e finalmente deixar Heather partir. Ele e ela precisavam ficar em paz.


Outra revelação importante da história é que To-lô foi o verdadeiro criador do robô Um, que segundo ele foi uma ordem pedida pelo antigo Yu-ti. Quando tudo foi exposto durante a derrota do Um por Daniel, Yu-ti deu as costas a To-lô e ele foi morto. Acabou que a criatura saiu de seu controle e sua programação mais tarde e agora somente ele pode ser capaz de ajudar Daniel a superá-lo mais uma vez que o robô está mais forte e sem freios.

De volta a nossa realidade, Rand vestiu mais uma vez o uniforme do Punho de Ferro. Pardal passou a usara roupa do Trovejante.Os dois eram os últimos guerreiros de Kun Lun e atravessaram o Portal Randall para a nossa realidade afim de derrotar de uma vez por todas o inimigo. Na volta, após sobreviver a uma imensa queda, Rand ouve da Pardal que não há nenhum To-lô entre eles e que aparentemente Daniel estava imaginando a presença do velho a todo momento ali. Mas seria isso mesmo ou o velho monge ardiloso apenas passou desapercebido para a garota cega?


Dan e Pardal começaram então sua invasão pela Torre, lutando contra as filhas da Garça e monges do Terror. Mais a frente, surgiu Davos e a Pardal ficou para lidar com ele enquanto Daniel continuava seu caminho. No alto do prédio, o Punho de Ferro mais uma vez encontra a disforme criatura com o rosto de seu pai e a luta pareceu muito injusta. Num só golpe, Daniel é empurrado para andares abaixo do prédio e descobre ali uma câmara com vários monges em estase. A imagem de To-lô (que realmente estava morto, mas Dan podia vê-lo) estava presente mais uma vez e expôs o plano de Wendell Rand em usar o Chi de todos os habitantes capturados de Kun Lun para si. Mas uma vez naquele lugar, o monge baixinho iria dar um jeito de doar aquele amontoado de energia para Rand. E assim foi feito.

Daniel retorna para o alto da Torre e encara mais uma vez o gigantesco mecabiônico. Só que desta vez ele esta completamente em chamas, cheio de chi de todos os presentes e pronto para acabar de vez com tudo. Ele prepara o seu maior golpe e parte a cara do seu "pai" no meio. O que ele não esperava é que o vilão esperava por isso e colocasse na frente o pobre pequeno dragão filhote de Shou-Lao.


Com aquilo, a criatura que outrora foi seu pai usou o portal Rand para ativar uma passagem entre o mundo dos vivos e mortos. Assim, ele esperava trazer de volta a sua amada Heather. Com a energia de todos os monges praticamente servindo de bateria, uma bola de energia surgiu nos céus de Manhattan. Porém, o que saiu de lá não foi a mãe de Danny, mas sim Zhu-Kong, o Deus do Fogo e Guardião da Ordem Mundial.

Aquela era uma ameaça grande demais e um imprevisto até mesmo para os vilões. E para deter o impensável, Daniel recorreu as palavras do To-lô. Deixou-se unir ao seu pai, agora mais máquina que homem, para com isso se ligar a todos os monges feitos prisioneiros e todo o maquinário do prédio para dar vida a Torre Rand. Sim, como se fosse uma espécie de Mecha gigante lutou contra a divindade e a derrotou  usando de forma abrupta seu Punho de Ferro.

Enquanto tudo isso acontecia, todos que foram presos pelo Pai de Danny conseguiram se libertar e tentavam achar um meio de escapar dali. Davos pretendia fugir para Kun Lun usando o Portal Randall, mas quando sua irmã Pardal tentou impedi-lo, ele reagiu. Assim, matou Gork arrancando um grito da pequena Pei aterrorizada. Curiosamente, a tradição se fez presente com o sacrifício daquele pequeno Shou-Lao e Pei se revelou como a próxima e futura Punho de Ferro. Com um soco energizado, ela derrotou a Serpente de Aço.

No dia seguinte, Rand saiu da carcaça do Deus do Fogo caído. Reestabelecido, ele foi abraçado por Brenda e descobriu que To-lô se aproveitou do portal entre os mundos dos vivos e mortos para ressuscitar. Pardal se despedia, talvez definitivamente, já que aquela provavelmente seria uma das últimas viagens do Portal Randall por um bom tempo. Pei iria ficar com Dan, pois ele seria agora o seu Trovejante.

Um mistério, no entanto, ficou para ser resolvido no final. Durante toda a história, Brenda mostrou que era muito mais do que uma mera jornalista. Assim, nas últimas páginas descobrimos que ela era na verdade uma filha desconhecida de Harold Meachum e que passou a vida toda treinando e planejando se vingar de Daniel. No final, acabou que se apaixonou por ele e o que lhe restava agora era se matar.


A moça pegou uma bala e atirou contra a própria cabeça. No entanto, Rand foi mais rápido e agarrou o projétil. No fim, ela deu as costas sem rumo e aquele romance estava destinado a nunca acontecer como previsto. Ao retornar para seu apartamento, tudo o que Daniel não queria era encontrar mais confusão. Só que uma vez lá, deparou-se com seu amigo Luke Cage (que ficou de babá) em apuros. Aparentemente, a pequena Pei era uma baita aprendiz e acabou avançando um pouco mais nos seus estudos para ressuscitar seu antigo amiguinho Gork... e junto, sem querer, todos os demais dragões Shou-Lao.

Não dá pra comparar com toda a obra que Brubaker fez, pois seria algo injusto. Mas acabou que Kaareen conseguiu até fazer uma história legal com todos os elementos da antiga e nova mitologia do Punho de Ferro. Ele tem um humor bem diferente pras histórias e sua narrativa visual é bem dinâmica. Parte das cenas de lutas que beiram ao impossível anatômico dão um gosto a mais na história. No fim, não é uma grande história do Punho de Ferro, mas é uma bem divertida.

Coveiro

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