domingo, 14 de julho de 2019

Saiba detalhes da polêmica do uso do símbolo do Justiceiro pela associação de policiais de St. Louis



Pode parecer até ser notícia velha, mas não é. Coincidentemente, acabou vindo a tona na mesma semana em que a Marvel publicou um quadrinho justamente criticando o uso indevido do símbolo do Justiceiro por forças policiais e militares. E o que veio a tona esses dias foi justamente um conflito entre membros da comunidade policial de St. Louise quanto o uso do logotipo do Justiceiro como um símbolo da solidariedade policial.  O site Daily News resumiu um pouco dessa história aqui e nos resolvemos juntar esses fatos com a recente crítica vista na edição 15 do Justiceiro nos EUA:

 O Departamento de Polícia Metropolitana de St. Louis está no meio de uma revisão interna. Estão investigando oficiais que postaram imagens e declarações questionáveis ​​em mídias sociais nesses últimos tempos. Esse grupo curiosamente usa entre si uma versão levemente modificada da Caveira do Justiceiro como símbolo acompanhado da frase "Vidas Azuis importam". O problema é que seus superiores não ficaram nada satisfeitos com o que viram e apontam que a atitude promove mais contra a polícia e a lei, do que o contrário.

 E pra piorar a questão, em resposta, o presidente da Associação de Policiais de St. Louis , Ed Clark,  pediu aos membros do sindicato da polícia que postassem essas mesmas imagens do símbolo do Justiceiro estilizado em suas páginas. Ele coloca que isso servirá de apoio e solidariedade aos policiais sob investigação. O que só pôs mais lenha na fogueira.

Em uma nota postada na página do sindicato, Clark diz que o Justiceiro “foi amplamente aceito pela comunidade policial como um símbolo da guerra contra aqueles que odeiam a aplicação da lei”.


O chefe de polícia da cidade não concorda com a posição de Clark. O St. Louis Post-Dispatch obteve um memorando escrito pelo chefe de polícia de St. Louis, John Hayden. No memorando (que você lê aqui), Hayden diz que o símbolo do Justiceiro "não coincide" com a "missão do departamento de proteger a vida e a propriedade e alcançar uma sociedade pacífica".


Hayden, por sinal, está certamente atento as muitas críticas que já vinha recebendo sobre esse uso indevido não só da imagem como também da mensagem que ela passa. Foi justamente dias atrás que inclusive saiu na Marvel uma edição onde o próprio Justiceiro critica policiais que veem ele como símbolo. Apesar de tudo, Frank Castle sempre se reconheceu como um homem quebrado e que agia por fora da lei, algo que ele não encara com bons olhos os oficiais que pensam igual.

A edição que saiu a pouco de The Punisher # 13, escrita por Matthew Rosenberg, coloca Frank Castle encontrando alguns policiais na cidade de Nova York da Marvel que ficticiamente usavam seu símbolo. Ele não aprovou nem um pouco e foi ríspido. Na história, dois personagens abordam o Justiceiro e ao invés de prendê-lo querem tirar um Selfie e mostrar que eles fazem parte de um grupo que apoia o que ele faz:


Frank pega o adesivo e o rasga. Em seguida fala: "Eu vou dizer isso uma vez. Nós não somos iguais. Você fez um juramento para defender a lei. Você ajuda as pessoas. Eu larguei tudo isso há muito tempo atrás. Você não faz o que eu faço. Ninguém faz. Vocês meninos precisam de um modelo? Seu nome é Capitão América, e ele ficaria feliz em ser um exemplo pra você ... Se eu descobrir que você está tentando fazer o que eu faço, eu vou para cima de você em seguida".



O que Matthew fez praticamente foi inspirado no depoimento do co-criador do Justiceiro, Gerry Conway, que falou sobre este assunto no início deste ano. Ele disse na época em um painel que o uso policial do símbolo do Justiceiro mostra uma incompreensão fundamental do que o personagem representa. Na época, Conway respondia a questão depois que viu o uso da iconografia do personagem em Militares, como foi recentemente evidenciado pela autobiografia que virou filme do Snipper Americano Chris Kyle.

"Para mim, é perturbador sempre que vejo figuras de autoridade abraçando a iconografia do Justiceiro porque o Justiceiro representa uma falha do sistema da Justiça", disse Conway. "Ele deve acusar o colapso da autoridade moral e social e a realidade de que algumas pessoas não podem depender de instituições como a polícia ou os militares para agir de uma maneira justa e capaz.



“O anti-herói vigilante é fundamentalmente uma crítica ao sistema de justiça, um exemplo de fracasso social, então quando os policiais colocam crânios do Justiceiro em seus carros ou membros do exército vestem crânios de Justiceiro pintados no capacete, eles são basicamente se colocando de um lado inimigo ao do exército e do sistema. Eles estão abraçando uma mentalidade fora da lei. Se você acha que o Justiceiro é justificado ou não, se você admira seu código de ética, saiba que ele é um fora da lei. Ele é um criminoso. A polícia não deveria estar abraçando um criminoso como seu símbolo.

"É evidente. De certa forma, é tão ofensivo quanto colocar uma bandeira confederada em um prédio do governo. Meu ponto de vista é que o Justiceiro é um anti-herói, alguém que podemos torcer ao lembrar que ele também é um fora-da-lei e criminoso. Se um oficial da lei, representando o sistema de justiça, colocar o símbolo de um criminoso em seu carro de polícia, ou compartilhar moedas que honram um criminoso, ele ou ela está fazendo uma declaração muito imprudente sobre sua compreensão da lei. ”


A verdade é que esse assunto não é novo. Em histórias muito antigas, Frank Castle chegou a caçar pessoas que se vestiam ou passavam a usar seu símbolo certa vez, ciente que a ideia do que ele mesmo construiu é errada e se propagada poderia ser um mal maior a sociedade. Por outro lado, em Guerra Civil, há uma mensagem subliminar do quão o Justiceiro admira o Capitão América por justamente ser uma imagem completamente diferente dele.

Em suma, o Justiceiro nasceu como vilão do Homem-Aranha. E mesmo que tenha ganhado histórias e revistas próprias ao longo dos anos, nunca foi um herói. É uma homem amargurado e perdido rumo a um caminho destrutivo para os outros e ele mesmo. É lamentável que seus ditos fãs não conseguiram perceber isso até hoje.

Coveiro

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