domingo, 12 de junho de 2011

616 entrevista Vitor Cafaggi

Puny Parker

Criador de uma das tirinhas nacionais de maior sucesso entre os marvelmaníacos brasileiros, Vitor Cafaggi recentemente divulgou estar encerrando finalmente sua história em Puny Parker. Para saber um pouco mais não só sobre essa decisão que deixou alguns aracnofãs orfãos e conhecer mais sobre o seu trabalho e inspirações, Vitor é nosso entrevistado da vez. Acompanhe essa entrevista feita com o autor neste fim de semana:

Puny Parker

Coveiro: Antes de começar a entrevista, Vitor, meu muito obrigado por aceitar o convite da 616. Já fazia muito tempo que a gente queria mostrar seu trabalho aqui no site, mas aconteceu de somente agora depois dessa surpreendente revelação de que você pararia com as tirinhas que tivemos oportunidade de falar com você. Mas antes de tocar nesse assunto, vamos conversar sobre você. Como tudo começou para o leitor e para o desenhista Vitor Cafaggi?

Cafaggi: A primeira revista em quadrinhos que me marcou foi a Homem-Aranha nº 37 da Editora Abril. De 1986, eu acho. Era uma história incrível do Aranha enfrentando o Fanático. Me apaixonei por quadrinhos na hora e, a partir dessa revista, comecei a colecionar. Antes disso, sempre lia as revistas da Turma da Mônica que meu irmão mais velho colecionava. Conheci os quadrinhos do Maurício ainda bem pequeno e, naquela época, eu adorava passar minhas manhãs desenhando. O tempo foi passando, esses desenhos começaram a contar histórias e nunca mais parei. Atualmente eu leio de tudo um pouco.

Puny Parker

Cammy: De onde surgiu a idéia do puny parker? Seu herói favorito é o próprio homem aranha?

Cafaggi: Não sei exatamente de onde surgiu a idéia do Puny Parker. Não houve um momento específico que eu me lembre como sendo o da criação dele. Acho que o Puny é uma mistura de tudo o que eu gostava na minha infância nos anos 80. Eu lia as revistas do Homem-Aranha, as tirinhas do Calvin, assistia o desenho do Charlie Brown na TV, ia ao cinema para ver De volta para o Futuro, Os Goonies e os filmes do Stallone.. acho que a idéia não surgiu.. ela sempre esteve aqui comigo.

Claro, o Homem Aranha é e sempre foi meu personagem favorito.

Puny Parker

Eddie: Você se inspira em outras tirinhas com temática semelhante, como Calvin e Haroldo?

Cafaggi: Totalmente. Quando comecei a fazer Puny Parker, minha única referência de tirinhas era Calvin e Haroldo. Eu colecionava as tirinhas do Calvin que saíam no Globo todos os domingos. Só depois, fui conhecer mais a fundo outras tiras. As tirinhas do Schulz, por exemplo, eu só vim a conhecer recentemente, bem depois de começar a fazer Puny Parker. Eu sempre adorei os desenhos animados do Charlie Brown, eles me marcaram muito. Mas, quando era pequeno, achava as tirinhas dele um pouco sem graça, muito adultas. Os trabalhos dos Bill Watterson e do Charles Schulz e do Jeff Smith são, com certeza, minhas grandes influências em Puny Parker.

Cammy: Você se inspira em coisas que acontecem ou aconteceram com você? De onde tira as idéias das histórias? Alguma tirinha do Puny Parker é sua favorita ou tem algum valor especial?

Cafaggi: Me inspiro muito em coisas que aconteceram comigo. Minha infância foi nos anos 80. Eu era muito tímido, gostava de brincar sozinho com meus bonecos do He-Man, ler quadrinhos, me fantasiava de super herói... Eu leio os quadrinhos do Aranha desde que tinha sete anos. Isso me acompanhou pela minha vida inteira. Posso dizer, sem exagero, que muito de quem eu sou hoje, minha personalidade e dos meus valores, eu aprendi nas histórias desse personagem. Tendo essa identificação, nas tirinhas do Puny Parker posso até colocar experiências pessoais porque sei que vão se encaixar com o que o personagem representa.

Eu gosto muito da tirinha #69. Ela ia ser uma tirinha muda, sem nenhum texto. Estava pronto para postar ela assim, quando mostrei a tira para minha irmã. Ela entendeu a tira, gostou, mas disse que a mensagem não estava muito clara. Trabalhei o texto dela em cinco minutos e foi a melhor coisa que eu já fiz. Gosto especialmente dela porque ela é uma história que só poderia ser contada em forma de quadrinhos. Em livro, filme ou desenho animado ela não ia funcionar.

Puny Parker

Gosto da tira #136 também. A última que mostra o Peter e a MJ ainda pequenos. Essa tira tem muito significado pra mim.


Puny Parker


Coveiro: Seu trabalho realmente é espetacular e eu acho que merecia ser levado além da internet. Sei por alto que anda tentando fazer seus contatos com a própria Marvel. Conta um pouco como está sendo feito isso.

Cafaggi: Quando já tinha feito umas quinze tiras, eu mandei e-mails e uma carta mostrando as tirinhas pros editores da revista do Aranha na Marvel. Mas, nunca tive resposta. O Cebulsky, editor da Marvel, vai vir no FIQ esse ano. Estou planejando fazer um encadernado com todas as tiras do Puny e entregar pra ele.

Felga: Poderia comentar um pouco sobre outros trabalhos, como a tirinha do Valente, da qual sou fã incondicional?

Cafaggi: Valente é um quadrinho 'furry' que conta a história de um jovem cachorro à procura do amor da sua vida. A série de tiras narra o dia-a-dia do personagem principal e seus constantes encontros e desencontros com diferentes garotas. A ideia é mostrar como essas garotas influenciam em sua vida, no seu crescimento e no seu jeito de ver o mundo. Valente é uma série de tiras sobre as garotas que encontramos em nossas vidas antes de encontrarmos A garota de nossas vidas.

Puny Parker

Recebi, por e-mail, o convite do jornal no dia do meu aniversário. Um dos jornalistas responsáveis pelo Segundo Caderno conheceu meu trabalho por indicação do Sidney Gusman e me perguntou se eu tinha alguma outra tira além do Puny Parker para apresentar pra eles. Eu não tinha nada, mas perguntei pra ele quanto tempo eu teria para criar alguma coisa. Ele me disse, na época, que era urgente, que em pouco tempo, eles iriam mudar todas as tiras do jornal e que procuravam alguma coisa no estilo das tiras do Puny. Três dias depois, toda a história do Valente já estava criada e suas cinco primeiras tiras já estavam chegando, pelo correio, no jornal.

Eddie: Em uma imagem, vc colocou o Wolverine adulto ao lado do Puny Parker. Fale um pouco da inspiração dessa imagem. Pensa em produzir algo semelhante com outros personagens da Marvel?

Cafaggi: Essa imagem é uma releitura de uma das famosas capas pintadas pelo Norman Rockwell, um dos meus ilustradores favoritos de todos os tempos, para o Saturday Evening Post. Para fazer essa releitura, eu precisava de um cara adulto pra ficar ao lado do Puny. E o Wolvie é um dos únicos caras importantes do Universo Marvel que já era adulto quando Peter Parker era apenas um garoto.

Photobucket

Eu pretendo continuar desenhando o Puny Parker, por um bom tempo, em ilustrações como essa, que possam ser usadas como wallpapers. A ideia inicial é fazer releituras de várias cenas da 'saga' do Puny em imagens mais bem trabalhadas como essa.

Cammy: Qual a diferença de escrever uma história com várias páginas e uma tirinha? Que outras tirinhas recomenda?

Cafaggi: Pra mim, a tirinha era um jeito mais rápido e fácil de fazer quadrinhos. Quando eu comecei a fazer as tiras semanais do Puny meu objetivo principal era me condicionar a desenhar sempre. Muitas vezes a gente tem idéias que não coloca no papel, ou idéias que começamos e nunca terminamos por falta de tempo ou mesmo por preguiça. Quando fiz a segunda tirinha do Puny decidi que faria isto semanalmente. Comecei colocando as tirinhas no Orkut e avisei aos amigos que ia fazer isso toda semana. Dessa forma eu meio que me obriguei a manter essa produção semanal de tirinhas. Mas, hoje, eu não vejo tanta diferença entre fazer tirinhas e histórias mais longas.

Nossa, recomendo muitas. Calvin e Peanuts são tirinhas obrigatórias. Miberty Meadows é bem legal, Mutts é outra que eu leio sempre. Tem Macanudo, Os Passarinhos, Linha do Trem, Ryotiras, Oswaldo Augusto, O Diário de Virgínia, Sopa de Salsicha, Menina Não Pode, Los Pantozelos, as tiras do Orlandeli, Quadrinhos Rasos, Quadrinhos A2... São muitas tiras legais, em formatos completamente diferentes.


Felga: Qual a sua opinião sobre o mercado de quadrinhos do país?

Cafaggi: Está ótimo. Se não temos tantos quadrinhos assim nas bancas, as livrarias estão lotadas de quadrinhos bons, de todos os tipos, para todos os bolsos. Toda semana tem HQs novas saindo, todos os dias são publicados ótimos quadrinhos na internet, todo ano os filmes baseados em quadrinhos estão entre as maiores bilheterias. O quadrinho hoje é mais respeitado pelo público em geral e se alguém quiser fazer quadrinhos, essa pessoa só precisa sentar e produzir. As portas estão abertas.

Puny Parker

Cammy: Você lê Marvel atualmente? E outras HQs?

Cafaggi: Hoje em dia eu leio de tudo um pouco. Super heróis, mangás, turma da Mônica, fumetti... Costumo comprar graphic novels que não saíram no Brasil pela internet e uns quadrinhos obscuros de ficção científica do começo da década de 80. Da Marvel, eu compro todo mês as revistas do Aranha, incluindo a Ultimate e edições especiais. De vez em quando compro X-Men, X-Men Extra e Novos Vingadores.


Felga: Existe alguma chance de você voltar com as tirinhas do Puny Parker, sei lá, de rolar algum pacto? ahahahaha

Cafaggi: Hahah! Se algum chefão da Marvel gostar da ideia e me pedir pra redesenhar Puny Parker pra eles publicarem, até rola um pacto. Fora isso, as tirinhas do Puny não vão voltar. A história que eu tinha pra contar com aqueles personagens terminou.

Puny Parker começou mostrando a primeira vez que o pequeno Peter viu uma certa garotinha ruiva na rua e como isso mudou a vida dele.. como isso trouxe cores à vida dele. E Puny Parker se encerra, na tirinha #136, quando esse mesmo garoto, ainda criança, viu essa garotinha ruiva pela última vez.


Puny Parker

Coveiro: Além do blog do Puny Paker e das já mencionadas tirinhas do Valente, onde vamos encontrar mais do trabalho do Victor quando sentirmos falta das intrépidas aventuras do pequeno Peter?

Cafaggi: O blog vai continuar sendo atualizado mostrando meus trabalhos. É só ficar de olho lá.

Cafaggi

Além do Valente e Pequeno Parker, Cafaggi foi um dos primeiros convocados a fazer parte do projeto MSP+50. Confira uma amostra do Chico Bento dele aí.

Coveiro: Bom, obrigado mais uma vez, Vitor, e boa sorte na empreitada de levar as tirinhas do Puny adiante. Elas certamente merecem um encadernado de luxo! Meus parabéns em nome de toda equipe 616.http://www.blogger.com/img/blank.gif

Cafaggi: Obrigado a vocês pelo espaço e pela divulgação.
Quero ir no próximo Marvel Day!


Puny Parker

Sinta-se já convidado, Vitor!

É isso aí, pessoal! Lamentamos realmente que a tirinha do Puny Parker tenha acabado, ao mesmo tempo que ficamos contentes que isso represente uma conclusão magnífica do trabalho do Vitor. Desejamos que realmente que ele consiga levar elas adiante, como é merecido! Boa Sorte! E quem ainda não teve o prazer de conferir, não deixe de clicar aqui e conhecer as tirinhas do Puny Paker! E agradecemos ao pessoal do Aracnofã que deu umas boas dicas para montar este artigo!

Equipe 616

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