As edições 78 e 79 de Wolverine certamente vão ficar marcadas por colocar um ponto no gigantesco plot montado por Daniel Way alguns anos atrás quando assumiu as histórias do baixinho canadense. Em quatro edições que se dividiram em Dark Wolverine e Wolverine Origins, temos o arco Romulus que finalmente levará ao fim da extenuante busca de Logan para confrontar o homem responsável por manipular toda a sua vida... e a de seu filho, Daken.
Como bem sabemos nestas quase 50 edições de Wolverine Origens escritas por Way, coube a um novo personagem, Romulus, que surgiu pela primeira vez numa história escrita por Jeph Loeb o papel de “homem das sombras” que moldou todas as tragédias da vida de Logan até levá-lo a se tornar o que é hoje. Romulus “criou” Wolverine para que um dia o substituísse. Ou como ele mesmo professava desde as primeiras histórias – “Eu sou você amanhã”.
Como Wolverine tinha ciência de que Romulus o conhecia muito bem, deixou a cargo de Bruce Banner montar o plano para alcançar seu novo arqui-inimigo. E como vimos, esse plano falhou. Mas foi intencionalmente, já que um outro estava sendo articulado pelo imprevisível Deadpool. E ele começa com uma inusitada união de Logan e seu filho para achar Romulus. Claro que Daken teria também seus próprios planos nessa história e isso nos leva neste arco a toda uma série de jogos, alianças instáveis e traições, contando com a participação de Skaar, Manto e o Samurai de Prata.
A grande curiosidade do roteiro nesta história é ver que os principais personagens aqui envolvidos além de dividir fator de curas similares, estão realizando uma intricada partida de xadrez com os demais. Daken ora deixa transparecer sua raiva pelo pai ao ponto de baixar a guarda e ser apunhalado por uma falsa espada Muramasa, ora confessa mais tarde que tudo não passou de uma encenação para ouvir todo o plano de Wolverine. Já Logan continua bastante cabeça quente, mas aprendeu a guardar a informação para o melhor momento e assim deixando seu arqui-inimigo perdido. Por sua vez, Romulus continua usando pessoas como buchas em sua guerra particular, seja civis que estão com a vida de suas famílias ameaçadas ou até mesmo Skaar, oferecendo-lhe a oportunidade de trazer o Hulk de volta ao Banner. E neste ponto da história, todos estão tão preparados para o jogo que acabam surpreendendo uns aos outros a cada novo movimento, assim como o leitor.
E no auge de uma batalha em Ancara, onde até curdos e a polícia local se meteram, Daken unido a Romulus contra seu pai e seus aliados coloca a vida de muitos em riscos. Nesse ponto, enquanto os heróis tentam salvar inocentes, Daken e seu mestre fogem. Contudo, no hotel que se escondiam, a aliança entre os dois se mostra mais que instável e Daken dilacera Romulus . O motivo é simples: o rapaz sempre soube que Romulus queria Logan tomando seu posto e que não passava apenas de uma peça. Agora, ele apenas que matar o homem que assassinou sua mãe, o homem que nunca o amou como ele gostaria de ser amado.
Só que antes do golpe fatal, Romulus some, deixando o sabor da vingança azedo na boca de Daken. Então, no último capítulo deste arco, sabemos as verdadeiras intenções de Wolverine contra seu inimigo. Ele não queria matá-lo. Nem expor seu Império. Na verdade, Logan apenas pretendia trancá-lo na dimensão negra de onde vem o poder do Manto. Lá, seu inimigo morrerá lentamente e será esquecido, sem império e peças para comandar. Romulus viverá de fato nas sombras agora.
Então, na última parte desta história, temos mais um confronto de Logan contra seu filho. Desta vez, armado com a real Muramasa. Treinado pelo Samurai de Prata, ele agora combate com disciplina e não deixa que seu filho sequer consiga atingi-lo com as mortíferas garras forjadas com o mesmo metal. E no momento que as lâminas se tocam, a reação do metal é um gigantesco estrondo que torce os antebraços do rapaz. E neste momento, com o jovem sem ação, Wolverine crava suas garras e o deixa desacordado. Resta uma última coisa a fazer.
Mais tarde, vemos Logan ao pé de uma cova que ele mesmo cavou. Este túmulo não é para seu filho, nem para Romulus. Ali apenas repousará o mortífero metal. Ele enterra a espada Muramasa quebrada e as duas garras forjadas de Daken. O rapaz, está são e salvo em outro lugar, sem mais suas terceiras garras que se projetam do pulso.
Particularmente, vou dizer que terminei em parte satisfeito com o trabalho de Daniel Way. Apesar de bastante criticado e até mesmo ter se perdido em vários momentos durante essas últimas 48 edições, Way tinha uma proposta interessante e sabia muito bem recorrer a antigos plots esquecidos no passado e trazê-los para o presente (Quem conferiu as edições americanas e suas páginas de referências sabem exatamente do que eu estou falando). Obviamente, o final deixado para o Romulus não era o desejado para muitos e eu aqui me incluo, mas espero que ele de fato fique esquecido para sempre na dimensão negra como é a idéia de Logan. E se este vilão realmente foi uma grande decepção para a maioria, o trabalho de Daniel Way compensa por ter trazido Daken para o universo Marvel, um personagem que se mostrou complexo e bem fundamentado em sua história.
Pra fechar, vale apontar aqui uma grande confusão feita pela Panini. Nessas histórias, além da bela arte de Stephen Segovia, temos os desenhos do brasileiro Will Conrad (Sim, o Will que participa do nosso Arte no 616). Conrad desenha aquela história do meio não creditada em Wolverine 78 e ele é o desenhista também no número 79, e não apenas arte-finalista. Vale salientar isso, pois o trabalho dele está de primeira nessas histórias.
Coveiro
