domingo, 22 de dezembro de 2019

Minissérie Annihilation: Scourge é na verdade um flagelo que desonra a Aniquilação original

Foi meio que surpreendente quando a Marvel soltou um release de mais um evento cósmico que seria totalmente plotado em menos de dois meses inspirado nas magistrais sagas da Aniquilação e Aniquilação: A Conquista. Nitidamente, fazia parte de uma ideia de relembrar tal clássico evento neste ano em que a editora comemora seus 80 anos. Contudo, a verdade é que Annihilation: Scourge (ou Aniquilação: O Flagelo) não faz jus as histórias anteriores e acaba sendo uma tentativa muito ruim de homenagem.


A ideia da estrutura tenta seguir as versões anteriores em menor escala. Temos uma história inicial, que se espalhava em minisséries de personagens isolados, pra reunir tudo de volta numa minissérie maior até a conclusão. No caso de Annihilation: Scourge temos uma edição Alpha de abertura, quatro edições solos de heróis e uma única revista de conclusão, Annihilation: Scourge Omega. Boa parte disso capitaneado pelo ex-escritor dos X-Men, Matthew Rosenberg, que parecia muito pouco inspirado.

A coisa até parece começar promissora em Annihilation: Scourge Alpha #1. Acompanhado do artista Juanan Ramirez, Rosemberg tenta dar uma narrativa de urgência legal numa invasão insana na Zona Negativa. Desta vez, são os Balurianos e os Insetóides que são as vítimas e a edição coloca Blastaar e o Aniquilador numa parceria inusitada tentando impedir aquela força oculta que mata e domina seus próprios exércitos como se fossem zumbis cósmicos. É divertido acompanhar os dois como protagonistas, mas o final faz você torcer o nariz. Os vilões se revelaram como sendo mais uma vez o Cancerverso, só que desta vez as versões distorcidas do outro lado, que estão sendo lideradas pelo Sentinela. Sim, e é o nosso Sentinela!


Antes de acabar a minissérie, vemos que o Aniquilador indo com uma pequena frota para o nosso universo Positivo e Blastaar ficando para trás para segurar essa nova onda de aniquilação até que seja feita a travessia do portal. O Aniquilador então chega a nossa realidade, mas com boa parte da sua tripulação contaminada já. E cabe a Richard Rider, que estava um pouco bêbado, salvá-lo. Mas será que ele topará unir forças contra seu antigo arqui-inimigo? 

E é assim que o evento se bifurca e perde um pouco já da narrativa que estava se montando:

Annihilation: Scourge Fantastic Four #1 é uma história escrita por Christos Gage e desenhada por Diego Olortegui que coloca a Família Fantástica recebendo alguns foragidos da Zona Negativa buscando ajuda em um portal. Apesar dos perigos a frente, Reed e Johnny se vêem na obrigação de ajudar. Johnny porque já foi o líder de alguns daqueles habitantes quando foi preso na Zona Negativa na fase do Jonanthan Hickman. Reed Richards porque se sentiu responsável pela ameaça imediata que surgiu. Aparentemente, depois da confusão do Sentinela que vimos em Agentes de Wakanda, foi Reed Richards quem aconselhou Robert Reynolds a ir para aquele outro universo usar as leis diferentes da física de lá pra buscar uma cura. Além de todo esse dramalhão, temos no final dessa história um encontro entre o nosso Quarteto Fantástico e o Quarteto Fantástico do Cancerverso. E a maneira como os heróis vencem suas versões distorcidas é bem legal. Talvez o melhor tie-in daqui.

Annihilation: Scourge Nova #1 volta a trazer Matthew Rosenberg no roteiro e acerta com a arte do brasileiro Ibraim Roberson na revista. A história, no entanto, é bem fraca. Foca-se na relação conturbada entre Rider e o Aniquilador, que por sinal nem sabia quem Richard era o mesmo Nova que o matou no passado (já que pra eles todos os humanos são iguais). Eles conseguem passagem para a Zona Negativa com ajuda de Franklin e Valeria Richards e lá temporariamente ficam protegidos por um grupo de refugiados. Não demoram muito para serem descobertos e se deparam com ninguém menos que os casca-grossas dos vilões - Os Revengers e o próprio Sentinela em pessoa. Ciente de que não teria poder de fogo suficiente pra eles, Richard Rider resolve fugir de lá e deixar o Aniquilador sozinho. É isso mesmo que leu.



Annihilation: Scourge Beta Ray Bill #1, escrita por Michael Moreci e desenhada por Alberto Alburquerque, traz o herói preferido de muitos fãs antigos do Thor, Bill Raio Beta. Ao lado de Dentinho, ele salva mais um planeta prestes a ser condenado, Gyrax. Em meio a uma festa em comemoração ao herói, eis que um dos primeiros portais da Zona Negativa pra nossa se abre e contamina rapidamente os cidadãos do planeta. Bill Raio Beta e Dentinho precisam deter não só os zumbis cósmicos que outrora eram seus amigos como também uma versão do Doutor Estranho do Cancerverso. No final, eis que o próprio Sentinela passa pro outro lado e para afastá-lo, Bill joga o seu martelo Rompe-Tormentas nele. Com isso, Bill vira um Korbinita comum e precisa viajar com Dentinho até a Zona Negativa para reaver sua arma.

Annihilation: Scourge Silver Surfer #1 acaba se tornando tie in mais importante dessa história. Não é a toa que seja escrito por Dan Abnett, que vem acompanhado de Paul Davidson. Aqui, temos uma pequena recapitulação das recentes mudanças do Surfista Prateado desde a minissérie Silver Surfer: Black, quando ele confronta o Deus dos Simbionte e se torna uma versão enegrecida e 'pela metade'.  Ao deter uma pequena tentativa de invasão do Zumbis Cósmicos em nossa realidade, o Norrin Radd resolve viajar até o outro lado para investigar. É quando ele encontra Robert Reynolds, metade do Sentinela, que explica como acabou causando todo aquele mal ao seguir as instruções de Reed Richards. Para deter a ameaça, Radd tem um plano. Ele então une-se a Reynolds e se torna uma entidade metade-surfista e metade-sentinela, alguém que acredita que poderia deter o Sentinela deturpado pelo Cancerverso.



Até aí, apesar dos tropeço, a história até que segue razoável. Contudo, a conclusão em Annihilation: Scourge Omega #1 mostra-se um fiasco. Matthew Rosenberg e o artista Manuel Garcia tem menos de 40 páginas para resolver diversos plots e não consegue dar nenhuma emoção a história. Os heróis das quatro minisséries vão se encontrando a toa. Bill Raio Beta encontra seu rompe-tormentas quase que por acaso. E no final, vão todos se abrigar e planejar o ataque final num planeta que ficou todo invisível graças aos poderes turbinados de Susan.

Os planos dos heróis é bobo. Simplesmente partida com tudo assim que o Sentinela encontra o planeta. No meio da confusão, temos a redenção de Richard Rider que volta com uma gama de heróis cósmicos do Universo Positivo pra dar apoio. O Surfista executa seu plano de atravessar o Sentinela com sua prancha e assim reunir Bob Reynolds, Vácuo e tudo numa coisa só.



Mas não acaba por aí. Aparentemente o Sentinela só estava sendo usado pela força do Cancerverso e ela agora que sentiu Richard Rider (que viveu várias vidas e mortes preso lá) quer ele de volta. O Nova decide se sacrificar consumindo toda a energia do Cancerveso dali e depois o Sentinela regenerado o destrói com um raio. Simples e insano assim...

Mas não dá pra sequer lamentar de novo a morte de Rider. O próprio Matthew Rosemberg decidiu cuidar disso nas páginas de epílogo da história. Graças ao Aniquilador e o Bastão Cósmico, Richard Rider é trazido de volta a vida como um pagamento pela sua ajuda. É, é uma resolução fraca assim mesmo.



Como dito antes, é um serviço muito porco pra o que supostamente deveria ser uma homenagem pra sagas tão bem escritas como foram as Aniquilações no passado.  Aquela sensação de urgência, a emoção a cada surpresa quando a trama virava do avesso e a vibração com os sucessos impossíveis dos heróis, nada disso da saga original é trazido nessa. Tirando o caso de uma e outra arte, essa história foi mesmo um flagelo. Pros leitores.

Coveiro

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