quarta-feira, 17 de abril de 2019

Arquivo Carol Danvers #8: Assumindo o legado como a Capitã Marvel



As últimas histórias de Carol Danvers como Ms Marvel aconteceram um pouco depois da conclusão da saga a Essência do Medo. Já no segundo semestre de 2012, praticamente 30 anos após a morte do Capitão Marvel original, a Casa das Ideias decidiu que já era hora da personagem abraçar de vez seu papel como sendo a verdadeira herdeira de Mar-Vell e se tornar ela própria a Capitã Marvel. Era um ótimo momento para isso. A Marvel já se preparava para uma nova reviravolta em suas revistas fazendo um rodizio de equipes criativas. Era a chegada do Marvel Now!.

Certamente, é importante lembrar que ela não é a primeira a usar a alcunha. Mônica Rambeau, atual heroína com a alcunha de Espectro, já havia usado o nome, mas ela nunca teve de fato uma história pessoal com o Mar-Vell ou mesmo qualquer vínculo de importância com os Krees. Genis-Vell e Philla-Vell, filhos clonados de Mar-Vell, já chegaram a usar também o codinome, mas já o haviam abandonado e assumidos outras alcunhas a algum tempo. Por fim, Noh-Varr apoderou-se do título durante o Reinado Sombrio, mas ele mesmo nunca se considerou digno do uso do nome. Com o original morto há anos, não há sombra de dúvidas que repousava em Carol Danvers a prioridade de levar seu legado.

No entanto, se a ideia era dar mais uma passo além nas histórias de Carol Danvers como marco para estabelecê-la como maior personagem feminina na editora, era preciso também ousar um pouco na construção do título. Depois de muito tempo, a Marvel deixaria a sua heroína para ser escrita pela visão de uma mulher. Então, coube a Kelly Sue DeConnick, o nome feminino mais forte da editora naquela época, não só escrever a história, mas também revolucionar a Carol Danvers por inteiro.

NOVO NOME, NOVO UNIFORME

O conflito de Carol Danvers para assumir de fato a alcunha de Capitã Marvel e definir-se como sua herdeira desse legado de fato é uma das primeiras coisas tratadas na edição 1 da revista mensal. Kelly Sue DeConnick colocou a personagem ao lado de ninguém menos que o outro mais famoso Capitão daquele universo dos quadrinhos, Steve Rogers, lutando ao lado da heroína contra o Homem-Absorvente. Após trocar tapas com o vilão, o Capitão América insistiu que ela deveria aproveitar a mudança de uniforme para também mudar o título e ser uma Capitã como ele e levar o legado do falecido Mar-Vell. Se dependesse de sua "benção", estava mais que dada. Carol ainda resistiria um pouco mais, ouviria mais tarde também seu amigo o Homem-Aranha, mas até o final desta edição aceitaria de vez o manto de Capitã Marvel



Já sobre o novo uniforme, anos depois a autora Kelly Sue DeConnick dividiu uma história curiosa sobre como ele foi produzido. Segundo ela, o que a Marvel tinha oferecido até então como opções não a lhe agradava. Então, ela recorreu por conta própria ao amigo desenhista Jamie McKelvie para criar um novo concept art do traje, literalmente 'apostando' que se ficasse muito bom, a Marvel o pagaria pelo serviço. Caso não, ficaria por conta do bolso dela. No fim, após algumas modificações, deu tudo certo e ela passou a usar o novo uniforme que mesmo após quase sete anos continua praticamente imutável.



Houve alguns testes do traje antes de chegar a versão final, todas postadas tempos depois pelos artistas envolvidos no título. Nenhum, obviamente, chegava perto do que foi o criado por McKelvie. Ele resgatava dois pontos fortes do passado da personagem - Lembrava muito mais o seu primeiro traje, com as cores amarela, vermelha e azul, resgatando a estrela de Hala de novo como símbolo. E ao mesmo tempo, tinha um aspecto mais militarizado, com luvas e botas abotoadas e o traçado dourado no ombro lembrando insígnias de comando. O elmo que se fechava automaticamente em sua cabeça formando um moicano com seu cabelo dando um ar moderno e ousado. De clássico mesmo, a única coisa que ficou foi a faixa vermelha, que acabou eventualmente sendo reinserida por alguns desenhistas.

As histórias também resgataram mais ou menos o ponto deixado por Brian Reed, trazendo de novo a Tracy Burke, que estava tratando um câncer e agora era ela quem era cuidada por Carol, e  Jessica Drew, fortalecendo ainda mais a amizade dentro e fora da equipe de Vingadores. Esta última também voltaria ao título próprio de Mulher-Aranha em breve e era constante uma aparecer de novo nas histórias da outra. Kelly Sue DeConnick também assumiu por um breve momento a revista 'Avengers Assemble' (Avante, Vingadores), onde pode explorar mais da relação da personagem com os outros colegas de equipe.

Mais tarde, outro nome que sumiu desde a época do Chris Claremont no título e que retornou foi Frank Gianelli. Kelly Sue DeConnick tentou insistir por algumas edições com o rapaz sendo um potencial interesse amoroso da heroína, mas acabou abandonando a ideia na primeira oportunidade. Outra personagem que acabaria aparecendo aqui era a Mônica Rambeau, que mesmo dividindo o nome 'Marvel' antes, nunca as duas foram tão próximas como seriam a partir de agora. A partir daí, outros roteiristas estabeleceriam melhor a relaçao dela com a Espectro ao ponto de mais tarde estarem juntas em uma outra equipe. E isso, obviamente influenciou muito nas decisões que foram levadas ao seu filme em 2019 ao vincular a personagem (e sua mãe) como pessoas mais próximas a Carol.



REVIRANDO O PASSADO E O RETORNO DE UM VILÃO

No primeiro arco de histórias dessa nova fase, Kelly Sue Deconnick resolveu investir um pouco na construção do passado de Carol nos tempos que ela ainda era da Força Aérea dos EUA. Levou-a a uma história em que o irmão mais velho, Steve Danvers, ainda no começo da sua carreira militar apresentou Carol a uma das primeiras mais famosas pilotas dos EUA, Helen Cobb, que serviu praticamente de exemplo e inspiração para sua carreira no serviço militar.

Nos dias atuais, Helen Cobb acabara de falecer e Carol descobre que ela deixou de herança para Carol seu avião. Este avião seria aquele em que Cobb supostamente bateu um recorde nunca antes ultrapassado, mas como não havia registro, nunca foi algo provado. Danvers acreditava que o avião havia sido deixado para ela como um desafio para ela mesma provar que  poderia quebrar esse recorde. Só que o que Carol não esperava era justamente cair numa mirabolante armadilha planejada pela falecida piloto.

O avião era na verdade uma máquina do tempo que levou Carol Danvers para um passado não específico onde deparou-se com um grupo de pilotas do esquadrão Banshee, que serviram na segunda guerra mundial em 1943. Mackie, Daisy, Bee, Rikva, todas liderada por Jerri Quimby faziam parte de um programa experimental e vieram parar ali do mesmo jeito que Carol. O avião delas parecia ser também uma máquina experimental de viagem no tempo e acabaram presas numa ilha (que depois descobrimos que ficava próxima a costa do Peru) e que de alguma forma os soldados japoneses estava usando tecnologia Kree contra elas. Danvers lutou ao lado das meninas dos Esquadrão Banshee, revelando seus poderes e até mesmo explicando a origem deles ao esquadrão. O tempo de Carol ali logo acabou e ao ver a imagem do avião-máquina-do-tempo singrando os céus novamente, a Capitã Marvel voou até ele.



Sua próxima parada foi em 1961, onde conheceu a jovem e audaciosa Helen Cobb e se tornou temporariamente sua colega de quarto. Helen, que estava determinada junto com outras mulheres a participar de um programa de mulheres astronautas, não estava aceitando bem que o governo estivesse vetando elas. Mas as aspirações da jovem Helen Cobb logo mudaram quando descobriu quem de fato era Carol Danvers. Quando ocorreu o próximo salto temporal, eis que elas duas surgem na mesma instalação Kree onde a Danvers ganhou seus poderes. A Capitã Marvel, no entanto, demorou demais para perceber ali que a jovem Helen Cobb rapidamente planejou que deveria ser uma mulher que voava como a Danvers. Talvez, esse fosse o plano da velha versão de Cobb desde que doou aquele avião capaz de viajar no tempo para sua amiga Carol desde o começo.



Cobb tentou manipular Carol a acreditar que poderia mudar os eventos daquele acidente, mas na verdade o que fez foi fazer ela ser também ser atingida pelo Psicomagnetron e sobreviver ao ser parcialmente protegida por Danvers. Dessa maneira, Helen Cobb acabou se tornando ela mesma uma versão de Capitã Marvel. As duas chegaram a brigar e disputaram quem viajaria de volta assim que o avião-máquina-do-tempo cruzou os céus de novo. Mas eis que no momento final, após provocar se Carol queria mesmo aqueles seus poderes, nossa Capitã Marvel é quem prevaleceu e voltou aos dias de hoje. Já aquela Helen Cobb acabou deixando uma mensagem no avião como se tivesse realmente vivido tudo aquilo e soubesse quem Carol era desde o começo em que se conheceram.

As reviravoltas no passado de Danvers nesse primeiro número não param por aí, no entanto. Após uma curta história com Mônica Rambeau e Frank Gianelli enfrentando um robô gigante formados por pedaços de navios perdidos no triângulos das Bermudas, eis que a sombra do antigo vilão Yon-Rogg ressurge. Tudo aconteceu num crossover entre os títulos mensais da Capitã Marvel e da revista Avante Vingadores chamado 'O Inimigo dentro de nós'.



A história desse crossover na verdade começa um pouco antes, quando Carol começa a ter algumas dores de cabeças inexplicáveis após usar seus poderes. Algumas consultas médicas depois levam ao diagnóstico de que ela tem um tipo de anomalia cerebral que somente agora vem crescendo e que pode prejudicá-la se continuar se desgastando assim. Mesmo que seu fator de cura recuperasse as células danificadas de seu cérebro, o risco é que ela não conseguisse reaver as memórias depois do dano. Para uma personagem com o histórico da Carol Danvers que sempre teve problemas para manter suas lembranças, isso era mais um baque. Sendo assim, Danvers começa a fazer um uso mais limitado de seus poderes, evitando seus disparos de prótons e pilotando uma motocicleta voadora emprestada do Capitão América emprestada enquanto não resolvia seu problema.

A situação de Danvers piora quando começam a aparecer misteriosamente inimigos do seu passado - Da Rapina a Ninhada - sem a heroína ter certeza de que eles são reais ou alucinações de seu dano cerebral. Então, não demorou muito para descobrirmos que aquelas coisas era parte de uma manipulação de Yon-Rogg, que era dado como morto desde a explosão do Psicomagnetron. Aqui, é explicado que na verdade o Coronel Kree acabou se fundindo a energia da Máquina e aos poucos conseguiu se reconstituir, originando agora o vilão autodenominado Magnitron.


Com todo esse tempo fora, Yon-Rogg não reconhecia mais nada e não sabia o que tinha se passado com o Império Kree. Na primeira tentativa de contato com eles, foi sumariamente ignorado. Em ira, decidiu que faria da Terra a sua nova Kree-lar, passou a dar inicio a um protocolo de ativar Sentinelas Krees adormecidos no nosso planeta para executar seu plano e assim se viu contra alguns membros dos Vingadores tentando impedir seu plano.

Ao final, Danvers descobriu que na verdade não era um tumor cerebral que ela tinha, mas parte do psicomagnetron que cresceu em seu cérebro e que alimentava os poderes de Yon-Rogg. Para derrotar o inimigo, Danvers resolveu se sacrificar, abusando dos seus limites e voando muito alto. Assim, ela  causou um dano severo em seu cérebo, quebrou o link com Rogg, que foi preso sem poderes agora, porém  também perdeu muitas das suas memórias no processo.

WENDY, TENENTE ENCRENCA E MISS MARVEL

Além dos velhos rostos conhecidos que encontramos aqui, o título da Capitã Marvel foi responsável por criar novas personagens ao redor da heroína. A primeira delas é Wendy Kawasaki, uma jovem estagiária indicada por Tony Stark, mas que mesmo a contragosto, Danvers aceita como secretária pessoal. Ela surgiu na edição #9 da revista e começou ajudando em coisas simples como levar a Chewie no mercado ou cuidar da agenda de Danvers. E em contrapartida, Carol estaria a ajudando projeto de pesquisa da graduação dela. Mais pra frente, veremos que ela acaba indo muito além. Nos títulos que seguem, veremos Wendy acompanhando a Capitã Marvel até mesmo em seus serviços na órbita da Terra enquanto líder da nova Tropa Alfa.



Outra personagem que marcou bastante esse volume é a Tenente Encrenca, o nome que Carol dá a garotinha que é sua maior fã. Kit Renner e sua mãe vivem no mesmo condomínio que Carol, isso até começar a surgir problemas e o síndico do lugar querer que a Capitã Marvel saia e entregue o apartamento. A personagem da Kit dá uma leveza muito grande as histórias da Capitã Marvel, fazendo os olhos das garotinhas que espelham-se nela seu desejo de também serem heroínas de suas próprias histórias. Na última edição deste volume, a Capitã Marvel é homenageada pelo prefeito J. Jonah Jamenson e ganha dele a permissão de morar na 'coroa' da Estátua da Liberdade. Apesar de nas aventuras seguintes a Carol Danvers rumar para o espaço e tomar ares mais de space opera, Wendy e sua mãe ainda aparecem mais uma vez para um "conto de Natal" com a Carol em uma futura história em duas partes. Quem viu o filme da personagem, deve ter reconhecido que o apelido de 'Tenente Encrenca' acabou indo parar com a versão jovem da Mônica Rambeau do UCM.


A última a falar aqui é a nova Ms Marvel. A primeira aparição de Kamala Khan é na forma de um teaser na edição #14 de Capitã Marvel, conclusão do arco do 'Inimigo dentro de nós'. Ali só vemos flashes dela mostrando seu 'muque' e um vislumbre do que seria sua roupa. A história mesmo de Kamala Khan acontece após os eventos de Infinito em sua própria revista mensal. Quando contaminada pela névoa terrígena assim que o gás atravessou Nova Jersey, a jovem de família de imigrantes paquistaneses se descobriu uma inumana. No meio da sua transformação, ainda em forma de casulo, ela que sempre teve Carol Danvers como inspiração, imaginou a heroína como sua salvadora. E agora que o título de Ms. Marvel estava vago, ela passou a então usar a alcunha.


O encontro de verdade dela com Carol Danvers só aconteceria na verdade muito tempo depois, na edição #17 de sua própria revista mensal. É uma história ligada diretamente a saga das Guerras Secretas, que marca os "Últimos Dias" antes da última incursão que levaria ao fim da nossa existência. Ms Marvel, ainda um tanto inexperiente, dentro dos seus limites fez o que vinha fazendo sempre até ali, proteger seu bairro. A Capitã Marvel acaba se encontrando com ela em cima do telhado da escola no momento em que ela parecia mais desesperada e acaba lhe dando uma grande força e mostra-se orgulhosa de ela estar levando seu antigo título tão bem.




VINGADORA, GUARDIÃ E AVENTUREIRA CÓSMICA

Em 2013, Jonanthan Hickman assumiu os títulos dos Vingadores e Novos Vingadores escrevendo mais de 70 edições no total que levariam a grande conclusão de seu plot envolvendo a colisão de universos paralelos. O time de Vingadores reunidos por ele chegavam a umas três dezenas no final e Carol Danvers estava entre os principais personagens. Durante a saga do Infinito, teve seu próprio Tie In de duas edições mostrando não só a repercussão de sua perda de memória após o confronto com Magnitron como também uma luta contra os Construtores após uma missão mal sucedida num primeiro ataque da equipe.

Já após a saga do Pecado Original, quando foi revelado a Steve Rogers que ele teve sua mente apagada e que os Illuminati continuavam atuando nas sombras, Capitã Marvel se colocou ao lado do Capitão América (no momento, num corpo envelhecido) e passou a fazer parte de uma equipe de Vingadores sob a tutela da S.H.I.E.L.D. comandada por Rogers. Foi nessa época que a Capitã passou temporariamente a usar uma coloração diferente de seu uniforme, nos tons cinza e preto.



Já durante as Guerras Secretas propriamente dita, Carol Danvers foi uma das poucas pessoas que estava dentro da 'Arca' criada por Reed Richards e que sobreviveu as mudanças causadas pelo Doutor Destino para criar o novo Mundo de Batalhas. Após os personagens se dispersarem depois do primeiro confronto com Destino, a Capitã Marvel fez uma aliança com o Senhor Sinistro para liderarem um dos lados da revolta contra o Mundo de Batalhas. Kelly Sue também foi responsável por criar um dos tie ins de mundos alternativos das Guerras Secretas. A minissérie Capitã Marvel e a Tropa Carol foi um de seus últimos trabalhos para a Marvel. Além disso, a personagem fez participação em tie-ins de outros títulos como o da A-Force, por exemplo.

Também foi mais ou menos nessa mesma época, que após um breve período do Homem de Ferro na formação dos Guardiões da Galáxia, a Capitã Marvel juntamente com o Venom ingressaram na equipe a pedido de Tony Stark. Foi uma formação bastante curta, começando na edição #14 da revista mensal e durando até o número #27. Carol basicamente ajudou o grupo a lidar contra as forças de J'son, pai de Peter Quill e governante do Império Spartax e também esteve presente durante o arco do Planeta dos Simbiontes, que basicamente tentou explicar mais do passado do alienigena amorfo, mas hoje quase não é considerado pelos atuais roteiristas.



Talvez a maior contribuição da personagem nessa fase do grupo cósmico seja durante o arco de histórias do Vórtice Negro. Nele, Guardiões da Galáxia, X-Men, Nova e a própria Capitã Marvel juntaram-se para acabar com a ameaça conjunta de Thane e J'Son, que adquiriam o artefato cósmico poderosíssimo capaz de turbinar os poderes de quem olhasse através dele, mas que teria como consequência também sofrer algumas drásticas mudanças de personalidade. O estrago feito por vilões nessa saga foi surreal, chegando ao ponto de o planeta Hala, a capital dos Krees, ser destruído por inteiro.

 Em dado momento da história, o Vórtice Negro foi caindo de mão em mão para evitar ser de novo usado pelo grupo de vilões e Carol Danvers chegou a ficar de posse dele brevemente em um tie-in em sua revista mensal. Nessa história, Carol chegou a olhar brevemente pra seu reflexo e viu nele uma figura de extremo poder,  sem dúvidas internas e com gigantesco ego. Carol resistiu ceder a mudança e continuou a lutar sozinha contra os lacaios de Thane, levando o Vórtice Negro para longe deles.

Fora as histórias dos Guardiões da Galáxia, Carol Danvers também teve suas histórias solo se aventurando pelo universo a partir da nova renumeração do título da personagem em 2015. Com arte de David Lopez, Kelly Sue DeConnick deu início ao arco de histórias "Mais Alto, Mais Longe, Mais Rápido e Mais" onde ela juntamente com seu gato Chewie se aventura em uma missão diplomática com sua nave senciente batizada de Harrinson. Sua primeira missão é no planeta Torfa, um planeta que serviu de abrigo para aqueles que perderam seu lar para os Construtores, mas que com o tempo o lugar revelou-se uma ameaça, com algum tipo de contaminação afetando seus novos moradores. Agora, o povo vivia um impasse, já que se os sadios abandonassem o lugar, não tem condições de levar os doentes, o que decretaria a morte deles.


Fora isso, O Império Spartax voltou a exigir o lugar de novo e estava oferecendo transporte gratuito para outro planeta. Alguns dos povos que estavam foragidos em Torfa se recusam a ir sem saber para onde seriam levados mais uma vez. A atual lider deles também se recusa a deixar os enfermos para trás. No decorrer da história, a missão de Danvers que seria de ajudar a reconstruir mais naves dos habitantes de Torfa para levar também os doentes acaba mudando assim que ela percebe as reais intenções de J'Son era de extrair as reservas de vibranium localizadas ali no outro lado do planeta e que ninguém entre os foragidos sabia. A extração de Vibranium que era feita ilegalmente também era responsável pela causa das doenças. Fora isso, J'son contratou uma companhia de escravagistas lideradas por Haffensye para extrair o raro minério. Danvers então logo mudou seus planos e transformou a missão diplomática em uma insurreição contra J'son. E isso seria mais uma ação da Vingadora contra o pai do Star-Lord que de novo tentaria se vingar dela durante a saga do Vórtice Negro.



As histórias espaciais da Capitã Marvel continuaram mesmo após a vitoria dos rebeldes de Torfa, que destruíram as minas de Vibranium para por fim tanto a doença quanto aos interesses de Spartax sobre o planeta deles. E tudo isso acompanhada de Tic, uma alien adolescente de Torfa que parece que realmente quer ficar no pé da heroína. Tic acaba virando durante todo esse volume uma espécie de parceria mirim da Capitã Marvel.

Uma das histórias curtas que segue tem logo de cara uma revelação surpreende para Carol que descobre que a pequena Chewie não era uma gata de estimação como pensávamos, mas sim uma Flerken, algo que Rocket sempre desconfiou assim que se deparou com ela da primeira vez. Outra curta história também coloca a heróina junto com Lila Cheney onde ambas participam de um casamento cósmico que termina com uma disputa em combate pela noiva. Depois, numa história de volta a terra para um "conto de natal", Danvers reve seu antigo elenco terráqueo e luta mais uma vez contra a vilã Grace Valentine que se juntou a geneticista Julie Convington (a Toxie Doxie) numa nova tentativa de se vingar da heroína.


Quando volta pra sua nave após o fim de ano na Terra, Carol Danvers tem que lidar com mais um novo problema espacial com a companhia escravagista de Haffensye. Eles, que outrora trabalhavam para J'son e perderam tudo, agora queria compensar o prejuízo causado pela Capitã Marvel sequestrando Tic e também sua Flerken. Mas no fim, Carol derrotou eles e acabou libertando todos os escravos da nave deles, despediu-se de Tic e deixou para ela a tarefa de liderar aquelas pessoas recém libertadas. E por fim, na última edição deste volume, temos a volta de Danvers a Terra. Infelizmente, ela não esteve presente quando Tracy Burke faleceu do câncer, mas agora a edição trataria de revelar o que a velha amiga deixou para ela de herança e com isso fazer um apanhado de toda a história da personagem coadjuvante como ninguém nunca fez antes.

A NOVA LÍDER DA TROPA ALFA E SUPREMOS

Com o fim das Guerras Secretas, Kelly Sue DeConnick deixou a Marvel e uma nova roteirista assumiu as histórias da personagem. Michele Fazekas, conhecida mais pelos seus trabalhos em séries de TV, incluindo aí o seriado da Agente Carter, assume o título e coloca as responsabilidades de Carol Danvers em outro nível - Acima da nossa órbita. Ela agora foi indicada pelo governo para comandar a nova frente de defesa interplanetária do planeta, a Tropa Alfa.



A equipe canadense pelo visto não existia como conhecíamos antes. Em contrapartida, a Tropa Alfa virou uma organização conjunta entre os EUA e Canadá, que tem sua sede em uma estação orbital com o design que lembra uma estrela de Hala. As funções são um pouco parecida com a da antiga E.S.P.A.D.A., mas eles não respondiam mais diretamente a S.H.I.E.L.D., mas sim a uma mesa diretora formada por dirigentes de Terra e alguns impérios espaciais que ajudaram a construir a estação. A agente Abigail Brandt ainda está lá, mas agora ela é quem obedece as ordens de Danvers.



Além de Brandt, temos também apoiando a Capitã três antigos membros da Tropa Alfa, o Pigmeu, Aurora e o Sasquatch. Devido a todo o seu potencial como coadjuvante da personagem, Wendy Kawasaki, que se tornou uma excelente escudeira da heroína, é também convocada para trabalhar na estação e lá desenvolve ainda mais seu potencial de pequena gênio brilhante. E logo na primeira história, não só a liderança como a diplomacia de Carol Danvers é posta em teste quando uma série de pequenos atentados começam a acontecer na estação e coloca o bom convívio entre os muitos aliens estrangeiros ali em risco. Coube a Danvers descobrir quem era o terrorista infiltrado e desmascará-lo antes que causasse um estrago maior ou um novo conflito interplanetário.

Além a Tropa Alfa, a Capitã Marvel também se colocou como líder da primeira versão dos Supremos na realidade 616. Agora que não mais existia o Ultiverso, a Marvel tentou usar o nome do grupo da outra linha de revistas da Marvel para criar uma superequipe fora dos padrões de escalas. Faziam parte dela o Pantera Negra, Marvel Azul, Espectro e Miss América. O time tinha como quartel general o Triskelion, uma construção na realidade 616 que serviria também como embaixada de Wakanda nos EUA e também como o ponto de teletransporte na Terra que levaria qualquer uma a base espacial da Tropa Alfa.



Os Supremos escritos pela mente criativa de Al Ewing se colocava com a missão de antecipar e impedir daqui pra frente que eventos de escala cósmicas que pudessem ameaçar a integridade da existência acontecessem. Logo numa de suas primeiras missões, transformou o Galactus por completo, mudando seu status de Devorador de Mundos para Criador de Mundos. Depois lutaram contra parasitas do limites da nossa existência e também prenderam o Anti-Homem, uma vilão perturbado e muito poderoso do passado do Marvel Azul. A existência do grupo durou pouco. Foram oito edições no primeiro volume e mais dez no segundo. Ainda assim, nesse ínterim, o roteirista britânico foi capaz de realizar bastante mudanças no panteão cósmico da Marvel, como transformando as entidades Caos e Ordem numa nova chamada Logos, criando a versão 616 dos Troubleshoooters (originalmente personagens do Novo Universo) e apresentando novos personagens como o Infinauta e o Primeiro Firmamento, aquele que veio antes do Eternidade. Além disso, as histórias dos Supremos junto com a do quadrinho do Torneio de Campeões cuidaram de introduzir o conceito do Iso-8 (que é original dos games) para as páginas dos gibis. 

Além desses dois grupos, a Capitã Marvel também era personagem bastante atuante das histórias do grupo A-Force, a superequipe composta só por heróinas da Casa das Ideias. Ela não ocupou o papel de líder aqui, mas todo o começo do primeiro arco em que trouxe a personagem Singularidade para nosso mundo explorou bastante a nova função de Danvers como comandante da Tropa Alfa. As histórias deste grupo também duraram poucas edições, acabando no número 10. E antes do fim a equipe composta só de mulheres já estava bem dividia por conta dos acontecimentos da Guerra Civil II.



GUERRA CIVIL II

Certamente, se formos enumerar um dos momentos mais marcantes da história da Carol Danvers nesses últimos sete anos desde que se tornou a Capitã Marvel, o evento da Guerra Civil II é um que não pode faltar. Só não é exatamente uma história que conte a favor do currículo de Carol Danvers como heroína. A premissa criada por Brian Michael Bendis basicamente coloca no centro da discussão se o excesso de zelo pela segurança pública deve sobrepor os direitos individuais de um cidadão somente pelo seu potencialmente de realizar um crime. Segue praticamente a linha do clássico de sci-fi 'Minority Report', e aqui temos um Inumano chamado Ulysses que revela-se com um inacreditável dom de antecipar desastres iminentes. Isso parece bom e útil quando se trata de catástrofes naturais ou invasões de criaturas de outro planeta, mas o que dizer quando as visões começam a afetar cidadãos comuns? Ou prever que até mesmo heróis podem estar sendo visto como culpados de tragédias?



Tony Stark tomou o lado que um cientista tomaria e duvidou das capacidades de Ulysses. Até onde iam o poder das visões de Ulysses? Até que ponto elas não influenciariam nos acontecimentos vistos por ele mesmo? Stark não podia acreditar em um futuro pré-determinado e imutável. Já Carol Danvers acreditava que valia os riscos pelo bem maior em detrimento dessas pequenas perdas - sejam liberdades, erros de julgamento ou mesmo vidas perdidas. O lado militar da personagem começou a aflorar como nunca e a história mal escrita pelo Bendis deixou a personagem num campo que para o leitor acabou indefensável. A sutileza que tivemos da primeira Guerra Civil para escolher um lado e ainda assim ficar em dúvida sobre a nossa escolha particular não existia aqui.

A saga começa então a logo de cara criar situações bastante tensas e gratuitas para colocar Stark e Danvers em lados opostos e se odiando. No primeiro ataque mais delicado, com um insano Thanos atacando o projeto Pegasus para roubar um novo cubo cósmico, a Capitã Marvel antecipou uma equipe para pegar o Titã de surpresa, mas acabou saindo uma missão muito atrapalhada que colocou a Mulher-Hulk em coma e matou o Máquina de Combate. Jim Rhodes. A morte de Rhodes, que mantinha um relacionamento com Carol Danvers desde a fase escrita por Kelly Sue DeConnick, foi um baque para a heroína. E se não bastasse isso, Stark a culpava pelo acontecido.



Noutra visão de Ulysses em que se previa o Hulk ressurgindo e matando muitos, Carol Danvers decidiu juntar uma poderosa equipe e invadir o laboratório de Banner para uma intervenção. Mesmo Bruce avisando que o Hulk não surgia a meses de dentro dele, Carol não recuou e num momento de tensão, o Gavião Arqueiro acabou disparando uma flecha e matando Banner antes que o pior, a visão tida por Ulysses, de fato acontecesse. Daí, as coisas só pioraram, civis foram presos acusados de serem agentes da IMA mesmo sem prova alguma real e, no momentos finais, quase que o jovem Homem-Aranha, o Miles Morales, leva a pior quando Ulysses tem a visão de que ele mataria o Capitão América. Nessa época, no entanto, ninguém fazia ideia ainda que aquele Steve Rogers era uma versão do Capitão modificado pelo Kubik e pelo Caveira Vermelha, o Capitão fiel a HIDRA.

A tensão criada até ali entre o Homem de Ferro e a Capitã Marvel acabaram estourando numa luta final entre os dois na penúltima edição da minissérie. Culminou em mais uma vez a Carol Danvers saindo do controle depois de tanta frustração e usando sem pensar o máximo de seus poderes contra Stark. Mesmo de armadura, aquele golpe foi duro o bastante para derrubar o herói e colocá-lo em um coma. Nada justificaria essa atitude de Danvers. Ainda assim, a história de Bendis acaba no final tentando amenizar a impressão ruim que ficamos da personagem, o que torna ainda mais indigesta aquilo que foi a Guerra Civil II. Ao menos, Ulysses sumiu nas últimas páginas e nunca mais voltou, colocando um final nesse plot forçado que foi criado.



Há algumas repercussões ainda para a Carol Danvers, obviamente, além do coma de Tony Stark. A roteirista de G. Willow Wilson consegue dar na mensal da Ms Marvel alguma profundidade a mais ao colocar quão decepcionada a jovem heroína muçulmana ficou quando sua ídola fez tudo aquilo, incluindo o fato de quase prender seu amigo Miles Morales sem motivos reais. A equipe da A-Force também se dividiu, e o título propriamente deixou de existir após a conclusão da saga. Até mesmo a Jessica Drew, em sua revista mensal da Mulher-Aranha, se oporia aos limites ultrapassados pela Carol Danvers e teriam uma pequeno entrevero entre elas.


IMPÉRIO SECRETO E A QUEDA DA TROPA ALFA

Após a Guerra Civil II, a Capitã Marvel passaria mais uma vez por uma reformulação de sua revista e um recomeço da numeração. Desta vez, quem assumiria as histórias seria a novata e inexperiente Margareth Stohl. Ela pegou o título num momento muito difícil para a heroína, que precisava de alguma maneira reconquistar mais a empatia do público e por isso se fez necessário uma edição 0 revisitando mais uma vez a história até então da personagem ao mesmo tempo em que a colocava ponderando sobre todas as atitudes tomadas até aqui.

De volta ao comando da estação espacial da Tropa Alfa, agora Carol Danvers se deparou com um misterioso mercenário transmorfo chamado Mim que está atrás exclusivamente de uma criança Kree escondida em um campo de refugiados aliens na Terra. Danvers salvou a criança de ser raptada, mas antes de entender os motivos descobre que seu corpo teve uma reação forte quando se aproximou da pequena. Para tentar entender melhor o que acontecia, Danvers convocou para suas fileiras um paleogeneticista que trabalhava isolado em uma das bases de pesquisa na Antártida e era patrocinado pelas Indústrias Starks.


O geneticista Jason Jay, de posse de toda a estrutura da base espacial Alfa, identificou que uma proteína/energia HLA sintetizada pelo menino Kree é quem fazia Danvers reagir de forma "alérgica" quando em contato com ele. Tudo se revelou depois como sendo parte de um plano de uma insana cientista chamada Eve que na verdade desde o começo pensou em usar Danvers como uma espécie de arma pessoal. Para evitar o pior, a criança Kree, que passou a ganhar o nome de Bean (diminutivo de Jelly Bean), teve que se sacrificar e virar pura energia em formato HLA para impedir que o pior acontecesse a Capitã Marvel. A misteriosa Doutora Eve então fugiu e até ali o plano dela aconteceu como planejado.

E já na edição #5 deste volume, uma nova megassaga da Marvel começa e afeta diretamente o título. Como mostrado em Império Secreto, a versão maligna de Steve Rogers, o Capitão Hidra, enganou Carol Danvers e sua tropa alfa, assim como alguns heróis enviados para lá para impedir um ataque Chitauri e assim os trancou pro lado de fora da planeta ao ativar o projeto de um escudo (uma real redoma energética ao redor da Terra). Dessa maneira, a versão deturpada do Capitão América poderia por seu plano de dominação sem a interferência de cara dos mais poderosos heróis do planeta.



Como visto não só na revista da Capitã Marvel como também no título dos Guardiões da Galáxia, esse lado dos heróis viveu grandes apuros ao se ver constantemente atacado por invasores Chitauris e ao mesmo tempo tentando encontrar um meio de abrir nem que fosse uma pequena passagem pela redoma de volta ao planeta. Depois de várias tentativas desesperadas, incluindo autodestruir a própria estação espacial para quebrar o escudo, eis que a nova Quasar desperta depois de ter sido gravemente ferida e ajuda a Capitã Marvel a destruir o escudo. Carol Danvers não perde um instante para chegar até o lugar onde supostamente o Steve da Hidra teria guardado os 'ovos' chitauris e os destruiu, impedindo assim que os aliens voltassem ensandecidos a tentar invadir o planeta mais uma vez.

Após o Império Secreto, a Marvel começou a tentar recuperar os leitores numa tentativa não muito bem sucedida de retomar as numerações antigas. Foi a curta fase do MARVEL LEGADO (Capitã Marvel #125 a #129). No caso da Capitã Marvel, isso levou a um arco 'final' dessa fase da personagem em que era preciso resolver sobre o destino da criança Kree desaparecida.  Após se sacrificar, Bean continuou a aparecer em uma forma energética para a Capitã Marvel. Contudo, da última vez que se manifestou, a forma de energia estava com aparência adulta e pedia a ajuda da heroína. Assim, Carol Danvers juntou toda a equipe da Tropa Alfa que tinha recebido férias forçadas desde que a estação espacial explodiu e ele uniram seus esforços para encontrar um jeito de salvar a Bean. 

Todavia, mal estavam se organizando para a missão exploratória para salvar a Bean e eis que a Tropa Alfa sofre mais uma ataque do transmorfo Mim e da Doutora Eve. Na tentativa de capturá-los quando esses estavam fugindo, a Capitã Marvel acabou sendo alvejada por uma forma estranha de energia e quando recobrou a consciência estava em outra realidade. Ela viu uma versão diferente da estação espacial sobre a Terra, deparou-se com uma versão deturpada da Tropa Alfa... que na verdade se autodenominavam Zetas e descobriu que naquela realidade ela era tida como uma vilã. Ela tinha ido parar numa versão espelhada deturpada da nossa realidade.



A história ainda é inédita no Brasil e provavelmente a Panini ainda não publicou-a devido as ligações que a história tem com as Guerras Infinitas, próxima saga da Marvel no Brasil. Depois de encontrar uma equipe maluca de piratas siderais que seriam os Guardiões da Galáxia daquele mundo e um Thanos e Nebulosa que eram 'pacifistas', Danvers finalmente topa de novo com a Doutora Eve e descobre que ela era na verdade uma cientista Kree que queria realizar a loucura de restaurar Hala no nosso universo. Para tal, Eve viajou até aquela realidade vizinha para roubar a Pedra de Gaia (que seria a versão daquele mundo da Joia da Realidade) e pretendia usar a Bean e a Carol Danvers que juntas causariam uma reação energética fora do comum para transferir a Hala daquela realidade para o universo 616.



A Capitã Marvel conseguiu convencer a Bean a não obedecer a Doutora Eve mais e com isso ambas escaparam para a realidade 616 deixando a Hala alternativa e a vilã Kree para trás. E as consequências diretas dessa Pedra da Realidade de outra realidade foram trabalhadas no prelúdio das Guerras Infinitas (ainda por vir aqui no Brasil).

'MARVEL GENERATIONS' E 'A VIDA DA CAPITÃ MARVEL'

A revista mensal da Capitã Marvel chegou ao fim, mas antes de passar o bastão de novo pra próxima roteirista, Margareth Stohl teve ainda duas histórias avulsas com a Carol Danvers para serem exploradas aqui.

A primeira delas é uma história que fez parte de uma coletânea de revistas da linha Marvel Generations. Basicamente, era uma iniciativa que antecipou a fase Legado e que propunha fazer encontros atemporais entre personagens que usavam o mesmo manto, mas de gerações diferentes. No caso de Carol Danvers, este encontro seria algo meio inusitado já que o Capitão Mar-Vell original estava morto a anos. Assim, Stohl decidiu fazer um encontro atípico em que Danvers simplesmente foi tomada da linha temporal onde estava e apareceu no passado, na Zona Negativa, num período em que o Kree vivia preso naquela realidade enquanto Rick Jones voltava a seu corpo no nosso mundo.



O que nós nunca nos perguntamos foi o que Mar-Vell fazia nesse tempo do outro lado e a resposta está aqui. Danvers se vê colocada bem no meio de uma guerra da Zona Negativa, onde o vilão Aniquilador avança pra cima de uma das raças nativas do lugar. Pela sua natureza, Carol decide ajudar e é quando está quase vencida pelos números quase infinitos das hordas do Aniquilador que Mar-Vell chega para ajudar. Carol está completamente absorta, e sem ser reconhecida, decide manter o anonimato para o Kree durante boa parte da aventura. Para Mar-vell, ela seria Car-ell, uma estranha soldado Kree que ele não sabia como foi parar lá.

A trama em si não é ponto forte da história. Contudo, a história se sai muito bem ao criar uma relação divertida entre a dupla. Mar-Vell tem fala pomposa, um equilíbrio de emoções e é sempre comedido, o que faz Carol Danvers lembrar que sempre achou ele meio 'yoda' ou 'spock'. Já a Capitã é pura emoção e reação. Mar-Vell acha esquisito seu comportamento bem indisciplinado para alguém que foi treinada nas academias militares Krees e começa a ter uma leve suspeita de quem ela é no decorrer da narrativa. Juntos, acabam derrotando o Aniquilador e pouco depois disso Danvers acaba desaparecendo dali, não tendo assim a oportunidade de revelar quem de fato ela era.



A outra história que deve ser citada aqui é 'A Vida da Capitã Marvel', recentemente lançada em formato de encadernado pela Panini aqui. Junto com Carlos Pachecho, Margareth Stohl resolve reescrever boa parte da verdadeira origem da Capitã Marvel nesta minissérie em cinco partes. Leva a personagem a visitar sua família, os únicos vivos ainda, o irmão Joseph Jr e a mãe Mary, que agora se mudaram para uma pequena cidade no Maine. Era um lugar onde morava o tio de Carol e ela viveu muito cedo sua infância ali. Reencontrou um amiguinho de infância e reviveu os tempos em que passeava de barco por lá com os pais. Mas logo as boas lembranças são ofuscadas de novo pelos estresses familiares. Stohl faz um bom esforço em costurar bem a complicada dinâmica familiar da familia Danvers e culmina logo na primeira edição com uma tragédia - Joe Jr sofre um acidente e quase morre.



Durante a recuperação do irmão, Carol Danvers acabou se deparando com mais mistérios desconhecidos do seu passado. Revirando a gaveta do seu pai, acabou encontrando cartas apaixonadas para um mulher misteriosa e um dispositivo estranho - que acabou acidentalmente ativado. Tudo levou Carol a crer que seu pai, um homem que sempre teve problemas com ela, que ele além de chauvinista e bêbado, era adúltero. Contudo, a heróina não poderia estar mais enganada. Quando sua casa foi atacada por uma criatura chamada Kaptor Kree, viu se desfraldar o verdadeiro mistério de sua mãe. Ela era uma Kree, enviada a Terra como infiltrada muitos anos atrás, e que abandonou sua missão para viver um amor e estava escondida até então.




Com isso, a roteirista promoveu uma mudança radical em toda a natureza dos poderes de Carol Danvers que era bem estabelecida até então. Carol é Car-ell, uma meia-Kree. E a origem de seus poderes não era mais por conta do Mar-Vell, mas sim por conta do DNA da sua mãe. Seus poderes só foram ativados pelo Psico-Magnetron, mas eram já naturais a ela de qualquer jeito. Essa ideia de Stohl de deixar a personagem ainda mais distante do seu legado atrelado ao Mar-Vell pode até ter sido ótima na teoria, mas na prática tinha uma série de problemas se contrastados com as histórias anteriores que simplesmente faz essa edição uma peça muito avulsa na cronologia da personagem.

Forçadamente, ela teve que colocar Carol Danvers como a caçula da família e dizer que os dois irmãos eram não só mais velhos, mas frutos de outro casamento de seu pai. Originalmente, sempre foi implicito que ela e Steve tinham praticamente a mesma idade e Joe Jr era bem mais novo.  Também implicou que todo o Kree potencialmente poderia ter poderes sobrehumanos como o dela, já que sua mãe também os tinha, era inclusive capaz de voar e conseguiu tudo isso graças a intenso treino. Nada disso tem corroboração nenhuma anterior com o que se conhecia dos aliens, não faz sentido inclusive com qualquer história contemporânea. Mas fora isso tudo, ainda amenizou muito o lado do Joseph Danvers, dando entender que a bebedeira ou seus rompantes de raiva com Carol eram na verdade em parte medo de Marie e  sua filha serem 'achadas' pelos Krees. Sua oposição a ela ser militar seria no fim um modo de impedir que ela seguisse um caminho para as 'estrelas'. Só que história anterior nenhuma antes deu qualquer indício dessa lado mais ameno de Joseph Danvers.

Patinadas e furos a parte, Margareth Stohl termina a história de uma forma dramática e bem humana. Mary foi mortalmente ferida ao tentar proteger a filha do ataque da Kaptora Kree e morreu. Antes de fechar definitivamente os olhos, disse a Carol que a maior missão dela na terra foi ter ela, sua filha. Joe Jr, o único parente vivo, depois de se recuperar decide pegar o barco da família e procurar seu destino. Depois se despede de seu único amigo na cidade, Loius Lee, que sempre foi apaixonado por ela e parte para o alto. A minissérie termina mais enfraquecida que começa, infelizmente. Era uma história que fazia falta, de tratar o núcleo familiar da personagem que era um branco e faltou algum cuidado editorial nítido aí no final.



Agora, vamos encerrar o nosso arquivo especial da Carol Danvers por aqui. As histórias que seguem a partir daqui praticamente saem num novo volume lançado concomitantemente ao filme nos cinemas. A nova roteirista a assumir é a já experiente Kelly Tompson. Ela vem acompanhada de mais três mulheres para formar um time completo feminino, Amanda Conner nas capas e Carmen Nunez Carnero, nas páginas interiores. A colorista é Tamra Bonvillain. Pelo que eu lembro, nunca antes teve uma equipe criativa feminina dominando totalmente assim uma revista.

E obviamente, não deve demorar muito para esse arquivo logo ficar defasado. Com o sucesso nos cinemas, é certo que a nossa Carol Danvers ainda tem um caminho ainda mais longe, alto e sempre daquele seu jeito rápido para seguir. Quem sabe até o próximo filme não voltamos aqui para um novo Arquivo de sua história.

Coveiro

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