domingo, 28 de abril de 2019

Resenha 616: O filme e fenômeno chamado Vingadores: Ultimato

Quase quatro dias após a estreia oficial nos cinemas brasileiros, estamos finalmente vindo falar aqui mais abertamente sobre Vingadores: Ultimato. Isso porque ponderamos que se a ideia é falar sobre esse filme, que tentou ser o mais secreto de toda a história do estúdio até aqui, não havia jeito de comentar qualquer coisa sobre ele sem esbarrar em eventuais spoilers, nem que seja os mais moderados. Seria até imprudente da minha parte lançar uma resenha no site se desde o começo da semana instauramos aqui e nas nossas redes sociais uma campanha anti-spoiler. O nosso 'auto-embargo' pra começar a falar do assunto acaba agora a noite.  Sendo assim, minha recomendação continua sendo a mesma se você não viu o filme ainda e quer fugir ao máximo sobre o tema abordado por ele. Não continue lendo nossa resenha, nem leia a de ninguém mais. Se conseguiu escapar de todo e qualquer spoiler até agora, sobreviva mais um pouco e vá incólume para os cinemas. Vai me agradecer depois.



Mas se você já viu o filme ou não é tão grilado assim em saber antecipadamente com o que vai se deparar na sala de cinema, podemos seguir a leitura. Ainda assim, a ideia dessa resenha inicial que você encontrará aqui é ser um texto bastante superficial pra um filme tão audacioso e cheio de camadas como é Vingadores: Ultimato. É como uma ponta introdutória para vários outros artigos mais densos que pretendo colocar aqui no Marvel 616 no decorrer dos próximos dias. Trate como uma olhada rápida assim que se abre a embalagem da caixa de brinquedos antes de explorar tudo que tem lá dentro. Um texto só pra falar sobre esse filme é pouco. O que temos é só o começo pro que temos de falar do Ultimato.

UMA CONCLUSÃO, UM MARCO E UM SONHO POR MAIS

Por várias vezes, Vingadores: Ultimato foi definido por seu produtores, diretores e elenco assim. É um ponto culminante da história dos 22 primeiros filmes da Marvel Studios em seus 10 primeiros anos. O que antes era encarado como três fases, chegou até mesmo a ser redefinido por Kevin Feige como sendo 'A Saga do Infinito'. Os seis MacGuffins, as Joias do Infinito, que praticamente direcionavam os mais diferentes filmes do UCM até um só ponto já tinham nos mostrado seu poder e afligido nossos heróis no filme anterior. Com um estalar de dedos o vilão venceu, os heróis perderam e um clima amargo pairou no resto do mundo. Vingadores: Ultimato começa assim seus primeiros minutos - relembra as perdas pelos olhos de um dos heróis que estava ausente no filme anterior, revela como o mundo ficou mais triste depois do arrebatamento do Titã Louco e  expõe como os heróis sobreviventes não podiam suportar viver com aquele dissabor.

Com o foco nos heróis Vingadores originais, o filme tenta reunir os poucos que sobraram e estão afastados, como Tony Stark, e ganham ainda uns reforços poderosos, na figura da Capitã Marvel. Quem apostou que a cena pós-crédito fazia parte do filme se enganou, ela na verdade acaba se tornando essencial para entender como ela surge lá. Uma das poucas coisas que sabemos pelos trailers é que os heróis vão tentar mais uma vez vencer o vilão. Eles acreditam que devem isso aos heróis caídos. E a gana que a Capitã Marvel tem parece reacender o espírito de alguns deles (nem todos) para a revanche. Mas mesmo tentando uma nova retaliação contra o titã louco para recuperar as joias do Infinito, Thanos sempre parece estar um passo a frente. É um vilão que não procura deixar nenhuma ponta solta em sua meticulosa vitória que vimos no filme anterior. Para sobrepujá-lo, é preciso ir além... e não estamos falando em termos de distância aqui.



Inevitavelmente, chegamos ao ponto em que é preciso falar neste texto um spoiler evidente. Quem nos acompanha sabe que todas as pistas deixavam antes para uma teoria e nossas suspeitas de antes sobre viagem do tempo eram verdade. Era um plot já deduzível, mas revelar isso aqui não chega nem perto das surpresas e reviravoltas que esse recurso causa na trama ao ser tão bem usado pelos diretores, Joe e Anthony Russo. A ideia de pontuar o grande final dessa 'Saga do Infinito' relembrando os melhores momentos da história do UCM ao mesmo tempo em que entrelaça outros filmes considerado pouco importantes não é só genial, é comovente para o fã, novo ou velho, que acompanhou tudo isso por uma década.

Para quem viu a cena pós-crédito de Homem-Formiga e a Vespa, já deduziu que Scott Lang seria uma espécie de coringa em Vingadores Ultimato. Toda a mecânica sobre como o reino quântico pode ser remodelado como uma máquina do tempo fica por conta de um 'cientifiquês hollywoodiano' que não interessa a história, mas se você já conferiu o filme, sabe que os irmãos Russo colocaram lá em cima de um pedestal a discussão de teorias de viagem no tempo existentes na ficção científica. Os irmãos Russo e Kevin Feige já falaram mais de uma vez como o tema os agrada e apontaram inclusive em entrevistas suas principais influências. Em vários momentos, eles puxam você pra dentro das explicações no filme, sempre em meio a uma piadinha, e destilam qual teoria o UCM irá se firmar como base pra contar sua história. A discussão sobre isso é tão boa que merece e vai ganhar um artigo a parte da gente. Aguardem!



Não é segredo também que Vingadores: Ultimato é um filme que foi montado para contar o que pode ser a história final dos seis Vingadores originais. Não é a toa que eles estão entre os sobreviventes, não é segredo que o contrato de alguns está no fim, não é spoiler nenhum eu dizer que essa é a jornada final de alguns. O Clint Barton de Jeremy Renner, que ficou totalmente ausente no Vingadores anterior, tem um dos arcos de história mais bem construídos para o personagem até aqui e vai fazer você desculpar os Russo imediatamente de tê-lo deixado de fora antes. A Viúva Negra de Scarlett Johansson, que foi criada para ser uma espiã fria e calculista, deixa extrapolar suas emoções e destaca o quanto a família Vingadores é importante pra ela. Esse talvez seja o filme mais importante dela, antes é claro de seu esperado filme solo no ano que vem. 

O Bruce Banner de Mark Ruffalo vai finalmente revelar o que pode ser a evolução máxima do seu personagem. É algo que o leitor de quadrinhos deve conhecer bem até, deve agradar muita gente com essa nova pegada que dão a ele (ou não, vai entender o fã temperamental do Verdão). Já Thor de Chris Hemsworth, afligido por muita dor e remorso, passará por umas mudanças que ninguém antecipou,  parece resgatar um pouco do humor de Thor: Ragnarok, e no decorrer tentará achar de novo o seu caminho ao encontrar as palavras certas para se soerguer. Vale destacar ainda que Hulk e Thor são certamente os personagens que mais foram transformados com o passar do anos na história do UCM, se você olhar pra eles no seus respectivos começos neste universo e agora nesta etapa final do Ultimato vai realmente ficar intrigado.

Mas obviamente, não há comparações quanto ao espaço de tempo e importância na trama que o Capitão América de Chris Evans e o Homem de Ferro de Robert Downey Jr têm no filme. Eles são os alicerces dessa grande história que se formou ao longo do tempo, têm suas diferenças que os colocam quase como opostos, mas que somente juntos podem reverter qualquer situação. Toda essa relação conflituosa dos dois é tratada com um novo sabor no filme, levando-os juntos a um caminho quase impensável para viver certas experiências e nos expor o mais íntimo desses dois heróis favoritos do grande público. Certamente, rever a jornada deles do começo até aqui deve fazer todo mundo se emocionar, chorar, sorrir com um canto de boca.



Os demais personagens que ingressam aqui tem todos sua função. Homem-Formiga inevitavelmente é o vingador não original que mais tem desenvolvimento no filme. Capitã Marvel certamente vai pegar de surpresa o público com sua participação em vários momentos do filme. Rocket mesmo sozinho representa como nunca o papel dos Guardiões de James Gunn ali. Nebulosa tem um arco particular magnífico e divide cenas importantes com o Máquina de Combate, com que de certo modo se relaciona com ela por motivos evidentes. Outros tantos fazem participação especial ao longo do filme, cada qual no seu tempo e com justa funcionalidade. Não dá pra falar mais além deles sem entregar muito do filme. Mais saiba que não tem exposição gratuita.

O filme, por sinal, mesmo com 3 horas não enfada. Seja nas cenas de ação ou nas cenas de discussão, você não sente o tempo passando. É tudo muito fluido. Se você quiser dividi-lo tradicionalmente em atos, vai perceber que na verdade os diretores te deram um filme '3 em 1'. Do jeito que foi montado, cada uma hora de Vingadores: Ultimato é como se fosse um filme te dando uma experiência diferente. E em cada um deles você vai encontrar momentos para rir, momentos para se emocionar, momentos para pular da cadeira de tanta emoção e também momentos para refletir. O último 'ato' é certamente o mais impactante, é catártico e impossível de se imaginar que será repetido de novo na história dos cinemas. E tudo isso é profundamente recheado de referências aos quadrinhos e ao próprio universo criado nos cinemas. O artigo que falaremos de Easter Eggs certamente vai ser algo monstruoso.


No fim, quando acaba, desta vez sem cena pós-crédito para você aguardar, há certamente um conflito de emoções para o espectador. De um lado, você pode lamentar porque de muitas maneiras o filme é um final e você pode sentir um desconsolo momentâneo. Do outro, esse é um fim que lhe satisfaz, é uma história que realmente tem uma jornada bonita que você vai querer assistir ela outra vez. E ainda que seja um fim, te deixa com algumas sutis pontas que com um olhar mais cuidadoso podem significar muito para o futuro.

Está disposto a viver uma nova jornada com outros heróis para acompanhar?

Coveiro

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