Ontem, postamos aqui no site um dos artigos que mais me diverti escrevendo nos últimos tempos. E graças ao fervor que as pessoas ainda estão vivendo com o recém lançamento do filme, eis que tivemos muitas respostas, muitos questionamentos e até umas colocações interessantes dos leitores que me fizeram de fato reolhar o texto e ver que havia sim alguns problemas ainda a serem endereçados.
Mediante isso e a finalmente os irmãos Russos darem algumas respostas, vim retomar uma segunda parte do meu texto de ontem. Sim, se você não viu o filme, já sabe que não deve continuar além deste ponto. Se viu, e não leu o texto anterior, sinta-se a vontade de ler aqui se te interessar. Algumas perspectivas do texto anterior vão mudar, mas tem muita coisa ali sobre a discussão de viagem no tempo que é válida.
Retomando do ponto de onde parei, na última parte apostei minhas fichas de que em Ultimato, principalmente na parte que cabe ao final de Steve Rogers e a vinda do Thanos do passado e companhia para o ano 2023, as viagens do tempo dos Vingadores criaram alças temporais para evitar paradoxos na própria linha do tempo. Pelo que foi prometido a Anciã, seria um meio de evitar o comprometimento daquela realidade e não criar um outro ramo paralelo de linha do tempo com sabe-se-lá com que consequências.
Mas será que foi isso mesmo? Será que tivemos alças temporais corrigidas no momento que as joias foram devolvidas? Será que os Vingadores evitaram a criação de ramos alternativos como pediu a Anciã?
DIRETORES RESPONDEM SE HÁ ALÇA OU LOOP DO TEMPO EM VINGADORES: ULTIMATO
"Não, não é um loop de tempo. Tanto a Anciã e o Hulk estavam certos. Você não pode mudar o futuro simplesmente voltando ao passado. Mas é possível criar um futuro alternativo diferente. Não é um efeito borboleta. Todas as decisões que você tomou no passado podem criar uma nova linha do tempo. Por exemplo, o velho Capitão no final do filme, ele viveu sua vida de casado em um universo diferente do principal. Ele teve que fazer outro salto de volta ao universo principal no final para dar o escudo para Sam" disse Joe Russo em uma sessão de perguntas e respostas para ao site chines Youth Circle.
Já ao site Entertainment Weekly, os diretores esclareceram com mais detalhes esse final com o velho Capitão America voltando a nossa linha do tempo. "Se o Capitão fosse voltar ao passado e morar lá, ele criaria uma realidade ramificada. A questão então se torna, como ele está de volta a essa realidade para dar o escudo?", explicou Joe a EW. "Pergunta interessante, certo? Talvez haja uma história lá. Há muitas camadas incorporadas neste filme e passamos três anos pensando nisso, por isso é divertido falar sobre isso e, esperamos, preencher lacunas para as pessoas, para que elas entendam o que estamos pensando. "
Os Russos confirmaram também que Bucky sabia de tudo. Quando Capitão estava se preparando para a viagem, que deveria durar apenas alguns segundos na linha do tempo principal, a fala do seu velho amigo tem uma deixa segundo Joe. "Especialmente quando ele diz adeus. Ele diz: 'Vou sentir sua falta'. É evidente que ele sabe de alguma coisa." lembra Joe e isso levanta a pergunta se o Soldado Invernal nesse ínterim já teria encontrado o Velho Capitão em algum momento nesta linha temporal.
Por outro lado, Joe acrescentou que “Sam não sabe de coisa alguma.” O Falcão não faz ideia do Velho Capitão, e é por isso que Bucky é quem chama atenção para ele ir lá falar com o Velho Steve Rogers. Bucky já tem a resposta para as perguntas que Sam vai fazer. Se isso vai ser melhor trabalhado na série do Falcão e do Soldado Invernal, isso é algo ainda a se descobrir.
Ainda sobre o velho Capitão, os diretores confirmaram que ali era mesmo Chris Evans com um pouco de efeito prático e um pouco de CGI. Havia a preocupação de ficar algo realista. "Obviamente, se não funcionar perfeitamente, pode minar a intenção emocional da cena", disse Anthony Russo. "Fizemos muitos efeitos práticos, então foi um trabalho de maquiagem muito elaborado que foi ampliado com computação gráfica, porque há certas coisas que você não pode fazer com a maquiagem para fazer com que Cap envelheça com credibilidade." E exemplificou: "Você não pode diminuir o pescoço de Chris Evans no set, você sabe o que eu quero dizer? Ele ainda tem esse pescoço largo". Joe completou "ele ainda é um homem de musculatura".
"Sim, então tem certas coisas que você não consegue, como o jeito que o rosto cai. É um equilíbrio que queremos sempre fazer entre sentir-se envelhecido com credibilidade, mas também não comprometer a performance" disse Anthony. Joe completou dizendo que "Nós não alteramos a voz dele". "Nós sempre dizemos isso sobre Chris - ele é tecnicamente sofisticado como ator e você pode ver isso na cena em que ele interpreta um homem velho", acrescentou Anthony."Tudo o que você está vendo é exatamente a performance dele, apenas com o rosto envelhecido. É isso ”, disse Joe. "Nós não mudamos nada sobre isso."
COLOCANDO ENTÃO EM NOVOS ORGANOGRAMAS O CAMINHO DE VINGADORES: ULTIMATO SEM AS ALÇAS E COM RAMOS ALTERNATIVOS:
Bom, tendo em vista que agora sabemos que a devolução das joias por Steve não retomam as ramificações formadas para as linhas originais (sem alças, portanto), e elas se preservam como novas linhas alternativas, eis que nosso gráfico com setas muda bastante aqui. Acabamos ganhando menos voltas, mas em compensação surgem novas linhas e elas vão se distanciar como ramos se afastando do tronco principal de uma árvore.
Como já fomos detalhados demais no artigo anterior sobre a sequência de eventos que acontece no filme e alguns dos percursos ali seguidos se preservam, vamos nos deter apenas em dois gráficos aqui e mostrar quais são as três mais evidentes alterações do tempo que originam novos ramos e por sua vez linhas temporais diferentes da principal:
Duas ramificações no tempo acontecem na primeira viagem de volta ao passado:
(1) Como já discutimos anteriormente, a mais evidente delas é o sumiço de Loki no desenrolar dos eventos de 2012 após ele ser derrotado no primeiro filme dos Vingadores. Ele pega nas mãos os Tesseract e usa como seu meio de fuga, desaparecendo dali sem destino. No artigo anterior, já apontávamos que isso poderia causar uma linha temporal alternativa. Na nossa linha do tempo normal, a joia do espaço deveria ir para o Cofre de Odin em Asgard, mas aqui somente a série do Loki poderá explicar o destino dela e do Loki fujão. O que diferencia é que já sabemos que não tem alça temporal e portanto o UCM decidiu expandir seu multiverso e criar uma realidade própria pro Loki brincar no Disney+.
(2) A outra ramificação surge como fruto do que eu considerei o maior paradoxo temporal de Vingadores: Ultimato - A ida de Thanos ao futuro e sua morte em 2023. Cheguei a elaborar anteriormente que o problema da morte prematura do vilão seria corrigida pelo Steve Rogers quando voltasse a joia do poder ao seu lugar numa posição em que Thanos nunca teria descoberto a viagem no tempo. No entanto, os Irmãos Russos já deixaram claro a ausência de alças temporais na sua abordagem do UCM e, portanto, seu paradoxo foi corrigido de outro jeito e se criou uma linha temporal completamente nova a partir de 2014 onde ela estaria livre de Thanos, Gamora, Nebulosa e todo seu exército que viajou no tempo. Portanto, os eventos de Vingadores: Guerra Infinita nunca aconteceram nesta linha temporal.
Já na perspectiva do futuro, acontece do mesmo jeito como salientamos no artigo anterior com as filhas de Thanos. A Nebulosa do passado é morta pela Nebulosa do presente, enquanto que a Gamora do passado fica em 2023. O ramo da linha do tempo de 2014 que se desvia também não tem nenhuma das duas ali e, portanto, se por um acaso Peter Quill chegou a formar os Guardiões da Galáxia, nenhuma das filhas de Thanos está na formação.
A outra ramificação no tempo que se revela no filme acontece durante a viagem de volta de Steve Rogers:
Como descreveu os irmãos Russo acima nas duas entrevistas, Steve Rogers desobedeceu as ordens expressas do Hulk e decidiu ficar no passado e se revelar a Peggy Carter. Apesar de não ter sido mostrado em tela como isso aconteceu exatamente, esse evento deve ter sido marcante o suficiente para gerar uma nova linha do tempo no UCM. Várias questões portanto podem ser levantadas aí. Será que essa versão do personagem ficou atuante como herói neste período temporal? Nessa outra realidade seu 'eu' que ficou congelado quando ressurgiu em 2012 se encontrou com ele? Porque ele retirou o escudo dessa sua realidade nova e levou até 2023 para deixar na sua antiga realidade? São questões que ficam pra imaginação do espectador e não devem ser trabalhadas no cinema... ao menos, não por enquanto.
Colocar a resolução dos paradoxos temporais em linhas alternativas que se separam e não em alças temporais atende da mesma maneira as questões de Vingadores: Ultimato.Também tornar tudo menos rocambolesco, acabam gerando saídas mais fáceis para respostas de coisas que antes eu não podia explicar e muitos leitores do site levantaram no meu artigo anterior.
Por exemplo: Uma das questões mais pertinentes levantadas pelos leitores foi que na viagem de volta, Steve Rogers estava levando as joias sem seus invólucros originais (Orbe, cubo, cetro de Loki). Como são linhas temporais diferentes, elas serem devolvidos desse jeito não gerará problemas de paradoxo. Todavia, só aponta que os Vingadores foram muito displicentes e não estavam muito preocupados em qual seria o destino das joias nessas novas realidades devolvidas. E com esse descaso, como não acompanhamos a segunda jornada de Steve Rogers ao passado, o que não garante que mais outras realidades alternativas não foram criadas aí? A Anciã certamente não deve ter gostado nada quando soube dessa bagunça.
O SIGNIFICADO DE JÁ CRIAR REALIDADES ALTERNATIVAS COM VINGADORES: ULTIMATO PRA O FUTURO DA MARVEL
Apesar de o ato de criar novas linhas do tempo de uma forma tão imprudente pelos Vingadores parecer algo meio bagunçado por parte da Marvel, isso talvez tenha um propósito oculto e previamente planejado. Depois de 10 anos concatenando a cronologia e tentando mantê-la de forma coesa, a Marvel Studios talvez sinta a necessidade de ter um mecanismo de escape quando finalmente der uma escapulida e criar sua primeira inconsistência mais evidente dentro da própria cronologia. E essa escapulida pode ser proposital ou não.
Como sabemos, a Marvel acaba de adquirir os direitos de todo uma nova gama de personagens de volta que estavam sob a tutela da FOX. E há muito se especulava que Vingadores: Ultimato poderia ser a porta de entrada dos X-Men e Quarteto Fantástico no UCM. A ideia dos fãs, no entanto, girava em torno de uma eventual cena pós crédito que não aconteceu. Contudo, é justamente esse detalhe de abrir pra Universos Alternativos que Vingadores: Ultimato mostrou que está a deixa para a apresentação dos mutantes, por exemplo. Se o universo regular do UCM não há indícios do gene X, ao menos agora que as portas do Multiverso estão abertas, fica mais fácil aparecer uma realidade onde os Mutantes existam.
Outro ponto olhando mais para o futuro ainda dos cinemas é um eventual 'reboot' nos filmes. Quando num futuro muito distante a Marvel se interessar em trazer de volta novas versões de Capitão América, Homem de Ferro e Viúva Negra e quiser contar novas histórias com eles, pode-se usar o artifício de que aqueles personagens (já especulando que teremos novos atores) não serão tratados como substitutos, mas sim uma realidade diferente com histórias diferentes a se contar com esses novos velhos heróis. Mas isso, obviamente, deve ser algo posto bem mais a frente.
E já extrapolando ainda mais na minha imaginação o que isso pode significar no futuro do UCM, se um dia os Irmãos Russos forem retornar a dirigir algo pra Marvel como deixaram em aberto antes, a maior semente para uma 'Guerras Secretas' acaba de ser colocada aqui. Apesar de eles assumidamente serem fãs da versão original dos quadrinhos, Joe e Anthony Russo não escondem que acompanharam o trabalho recente de Jonanthan Hickman na Marvel. E a nova versão das Guerras Secretas dele trabalha integralmente com realidades alternativa se fusionando.
Deixando agora o cinema de lado, a abertura do Multiverso da Marvel abre também muitas possibilidades para as séries. Já especulamos aqui que a série do Loki deve portanto se passar nessa nova realidade alternativa criada por sua fuga. Mas também vale lembrar que a Marvel Studios irá produzir as séries animadas 'What ifs' pra Disney+. E elas são também em essência as facetas de vários caminhos que podem ser seguidos nesse Multiverso. Quem sabe num dos desenhos não tenhamos detalhes da vida do Steve Rogers que ficou no passado casado com a Peggy? Ou o que aconteceu com aquela realidade que não tinha mais Thanos e seu exército? Ou a versão dos Guardiões da Galáxia que nunca conheceram a Gamora? Ou tantas outras possibilidades frutos diretos de mudanças dos filmes do UCM?
Essa abertura do Multiverso pras séries, por outro lado, pode significar também algo perigoso para o outro lado da Marvel TV. Como sabemos já, desde 2014, a relação entre Kevin Feige da Marvel Studios e Ike Permultter da Marvel Entertainment não estavam lá caminhando muito bem e culminou na separação gerencial desses dois setores pelos superiores da Disney. Desde então, é nítido que há um desinteresse grande principalmente por parte dos filmes, em fazer referências as séries de TV. Assim, com a distância cada vez aumentando mais, não seria questão de tempo para que Kevin Feige pontuasse que todos esses seriados que estão fora de seu controle estão em outra realidade? Ou indo mais longe, será que depois do fiasco de Inumanos da ABC, não poderia o Presidente da Marvel Studios assumir que aquela versão da TV era de uma outra realidade e ele mesmo decidir criar o seu filme dos Inumanos nos cinemas do seu jeito como era originalmente planejado? O mesmo não poderia acabar acontecendo com alguma série da Netfix agora travada?
As possibilidades são infinitas agora, e é notório que nada disso foi feito a toa. Pela fala dos diretores nessa entrevista revelada aqui e a outras conversas, inclusive com os roteiristas de Vingadores: Ultimato em outros lugares, é certo que há um plano vindo aí. E deve ser questão de alguns meses para seja numa Comic Con ou seja num evento da D23, Kevin Feige revele o significado maior disso. E o que virá aí numa fase 4.