terça-feira, 3 de setembro de 2019

Marvel Comics 1000 é uma bela homenagem com uma história 'quebra-cabeça' de fundo



Na semana passada, a Marvel lançou nas lojas sua edição especial dos 80 anos de existência, a Marvel Comics 1000. E aproveitando que agora em setembro ela se jogou de vez nas comemorações da data, eis que vamos deixar aqui algumas impressões do que mais chama atenção nessa edição. Confere aí:


NÃO É UMA EDIÇÃO SOBRE UMA SÓ HISTÓRIA

Mesmo se não ficou claro desde o começo quando a Marvel anunciou o projeto, fica bem evidente desde o momento que você pega essa edição para ler que não se trata de uma história linear e coesa. De fato, seria muito difícil com o anúncio de 80 equipes criativas, cada uma delas cuidando de uma só página, orquestrar tudo desta forma. Sendo assim, em muitas das páginas, o que temos bem claro é que a Marvel chamou alguns convidados especiais - alguns que a anos não pisavam mais na editora - e deu a eles essa liberdade criativa de criar uma narrativa em uma só página.

Contanto, havia ali uma condição importante e é ela que guia toda a edição. Cada página, em ordem cronológica, deve remeter a um fato importante de cada um ano da Marvel. Sendo assim, tudo começa, obviamente em 1939 com uma revisitação do experimento do professor Phineas Horton que deu vida ao primeiro herói da editora - o Tocha Humana original. Vamos classificar aqui o Namor, que veio no mesmo número, em seu devido lugar como um anti-herói, certo?



 Daí, por diante, você tem uma síntese muito ousada da história da Marvel até os dias de hoje. Obviamente há momentos marcantes dos 80 anos sendo relembrados, mas não necessariamente todo texto remete a uma revisitação de uma cena do passado. Há o exemplo da Miss America, onde a histórica se foca na versão mais contemporânea, a America Chavez. Em outros momentos, o que temos são personagens que não tem ligação direta dentro do universo dos heróis, destacando quando Conan ou Star Wars, foram licenciados e publicados pela primeira vez na Marvel no século passado. Teve até um Batman penetra por ali.


Além de personagens e de histórias, a própria criação de alguns títulos que marcaram história são destaque. Ressalta-se o surgimento de Strange Tales, Tales to Astonish e até mesmo a primeira revista de comédia da Marvel, Crazy. Lá pro final, como não poderia deixar de ser diferente, até mesmo os cinemas merecem um destaque, pois também são parte dessa história de 80 anos, uma parte muito importante. A página que Chip Zdarsky sobre o Homem de Ferro nos cinemas é sinceramene uma obra de arte que não precisou de balões.


Por fim, o que temos também é uma ótima oportunidade de trazer a tona alguns nomes que muitos julgavam perdidos e que nunca mais voltariam a trabalhar pra Marvel. Temos Erik Larsen depois de anos fazendo uma página do Homem-Aranha, Neil Gaiman depois de muito tempo retorna rapidamente aqui para Marvelman, Gail Simone matou saudades aprontando de novo com Deadpool, além de algumas lendas que criaram o alicerce da editora como Roy Thomas, Gerry Cornway, Chris Claremont, Peter David,Tom de Falcon e Kurt Busiek.


MAS HÁ UMA HISTÓRIA A SE CONTAR NESSA EDIÇÃO

Apesar de que não necessariamente você deva se ater a isso quando for adquirir a Marvel Comics 1000, já que como destaquei é muito mais uma 'ode' aos oitenta anos da Marvel do que um simples quadrinho em si, há uma história a se contar nas 'entrelinhas' com algumas páginas selecionadas ao longo da narrativa. Todas elas tem Al Ewing como roterista, mas convoca sempre um artista diferente para executá-la. A premissa de dar relevância a um evento importante de cada ano é mantida, o que torna a história ainda mais interessante por ser deslocar através dos séculos. E Al Ewing é bem conhecido por ser um dicionário vivo da editora que consegue conectar pontos da história da Marvel onde ninguém nunca viu antes.



Aqui, a história gira em torno de três homens misteriosos - curiosamente chamados de Homens-X. que parecem estar sutilmente desencadeando eventos importantes e que giram em torno de um novo artefato criado pela Marvel, a Máscara da Eternidade. Não se sabe direito a origem ou o que de fato ela é, mas Al Ewing reuniu no vasto acervo da Marvel vários nomes de personagens mascarados que ele aponta agora que na verdade eram usuários da Máscara da Eternidade. Não é necessariamente um Legado, já que personagens que assumem diferente alcunhas usaram esse artefato e não tem nenhuma ligação entre si, mas o misterioso item vem sendo repassado por aí a muito tempo de mãos em mãos. E os tais três homens-X parecem ter uma responsabilidade nisso.



Só pra citar alguns nomes que já foram portadores da Máscara, temos o cowboy Maked Raider (criado também em 1939, em Marvel Comics #1), Black Rider (de All Western Winners #2, 1948), o Furão (Operative/Ferret, que surgiu em Marvel Mystery Comics #4, mas teve bastante destaque no The Marvels Project de Ed Brubaker), Trovejante ou Vingador Sombrio (Thunderer/Dark Avengers,  Daring Mystery Comics #7), um personagem sem nome com que o Cavaleiro Negro luta na época medieval é mostrado, além do bem desconhecido Justiça Cega (Solo Avengers #8), que teve sua história ligada aqui a criação de Adam Warlock.



UMA HISTÓRIA PRA SE CONTAR

Nas últimas páginas, três personagens parecem ocupar o lugar agora dos cientistas recorrentes no passado - Marvel Azul (Adam Branshear), Radical (Dwayne Taylor) e Jimmy Woo. Eles chegam a fazer referência a Roberto da Costa não poder estar ali (que supostamente está morto, mas vai saber).



No final, tems ainda a aparição do Eternidade, numa splashpage bem sugestiva, onde ele parece conter em sua mão cinco personagens que podem ser bastante significantes pra essa história.






A edição termina com o que parece que será a despedida de Mike Deodato da Marvel. Ele faz as páginas finais, onde dá um arremate ao mistério do artefato.
Apresenta um novo Mascarado de posse da Máscara da Eternidade. Sua identidade não foi revelada, mas o quadrinho mostra que ele anda investigando alguns heróis da Marvel - na parede tem fotos da Jessica Jones, Capitã Marvel, Namor e outro personagem que não indentifiquei. Essa, no entanto, é uma história que ficou pra ser desenvolvida em 2020. Como fã de Al Ewing e seu trabalho denso e complexo na Marvel, não posso dizer que não estou empolgado com tudo isso.


E vale lembrar que não acabou. Deu tão certo a convocação de artistas pra Marvel Comics 1000 que foi necessário fazer uma nova edição, a Marvel Comics 1001. Os nomes confirmados já nela são Al Ewing, Nick Spencer, G. Willow Wilson, Scott Aukerman, ACO, Brian Posehn, Howard Chaykin, Vita Ayala, Humberto Ramos, Audrey Loeb, Dario Brizuela, Ann Nocenti, Kim Jacinto, Jimmy Palmiotti, Amanda Conner, Declan Shalvey, Kaare Andrews, Amy Reeder, Natacha Bustos, Frank Tieri, Dan Panosian, André Lima Araújo, Bill Morrison, Trina Robbins, Marc Guggenheim e outros.

comments powered by Disqus