quinta-feira, 25 de julho de 2013

Os Defensores Contra o Destruidor de Mundos

Defensores

Os Defensores sempre foram uma das equipes mais carismáticas e disfuncionais do Universo Marvel. Em sua origem, o Dr. Estranho reuniu o Incrível Hulk e Namor, o Príncipe Submarino, para enfrentar um feiticeiro chamado Yandroth e sua máquina de juízo final que pretendia detonar todos os mísseis nucleares da Terra. Foi Namor quem batizou involuntariamente a equipe ao constatar que eles, ao invés de serem os “defensores” da Terra, quase causaram a sua destruição durante o conflito.

Agora, com os roteiros de Matt Fraction e os desenhos de Terry Dodson, Michael Lark, Mitch Breitweiser e Victor Ibañez, os Defensores estão de volta para “defender a humanidade do impossível” numa equipe constituída por Dr. Estranho, Namor, Surfista Prateado, Mulher-Hulk vermelha e Punho de Ferro. Suas primeiras histórias foram reunidas no encadernado “Os Defensores” #1, lançado pela Panini, que compreende as edições “Point One” #1 e “Defenders” # 1-6 publicadas nos EUA.

Tudo começa com o Dr. Estranho perambulando pelo bairro em que reside, Greenwich Village, um lugar peculiar pela sua magia e exóticos moradores. Ele decide auxiliar um deles, um “escritor de rua” conhecido como “Joe Caderninho” que, desde que sofreu um colapso nervoso em uma expedição arqueológica na África, nunca mais conseguiu dormir.

Ao perceber que o que ele escrevia numa espécie de transe não fazia o menor sentido, Stephen resolve entrar em sua mente para investigar. Neste cenário onírico, Joe revela que perdeu a sanidade quando encontrou uma estranha máquina na África e isso passou a assombrá-lo pelo resto da vida. Stephen consegue enxergá-la ao abrir uma porta e, além dela, encontra Surfista Prateado, Nick Fury, Homem-Formiga, Namor, Mulher-Hulk vermelha e Punho de Ferro, que traz um estranho aviso: “ou desligamos os engenhos ou o universo vai se romper, Doutor, agora o impossível está em toda parte”.

De maneira surpreendente, no plano físico, Joe se retira de onde estava de maneira sonambúlica e, ao mesmo tempo em que conversa com Stephen no plano astral, ele caminha a uma estação de metrô e se atira na frente de um trem, dando cabo da própria vida. Tem início o arco em três partes chamado “Destruidor de Mundos”, desenhado por Terry Dodson e arte-finalizado pela sua esposa, Rachel.

Stephen começa a estudar o “legado” deixado pelo estranho personagem e tenta reconstituir a visão que teve daquela estranha máquina e descobrir o seu significado quando é intempestivamente interrompido pelo Incrível Hulk, que adentra ao santuário trazendo um singular pedido de ajuda. Ele conta que todo o seu poder, força e ódio tomaram forma com o nome de “Null, O Destruidor de Mundos” e a muito custo ele se libertou de sua influência, mas essa entidade continua à solta causando medo e destruição pelo mundo. Em seguida, Stephen e Hulk contatam seus antigos colegas defensores Namor e Surfista Prateado e pedem a ajuda deles para remediar a situação. O próprio Hulk pede pra não se envolver no conflito, pois teme se vincular novamente à criatura e indica como substituta a Mulher-Hulk vermelha, sua ex-esposa Betty Ross, que acaba aceitando o convite pra se integrar ao grupo.

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Certamente impelido pela visão que teve, Stephen resolve convidar também Daniel Rand, o milionário conhecido também como Punho de Ferro e pede a ele emprestado um avião para facilitar a perseguição a esse “hulk-fantasma-maligno”. Com todos finalmente reunidos, a caçada pode começar.

A trilha de destruição causada por Null leva ao monte Wundagore e os Defensores partem para lá no avião de Rand. Próximo ao seu destino o avião é abatido, mas todos conseguem se salvar. Infelizmente, ao chegarem ao solo, a equipe se vê cercada pelo insano “Preste João”, um cavaleiro cruzado fora de seu tempo e os “novos homens” de Wundagore, animais evoluídos geneticamente pelo Alto Evolucionário

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Ele traz consigo o “olho maligno”, um artefato poderosíssimo que anteriormente foi o pivô de um conflito entre os Defensores e os Vingadores (esse encontro histórico foi republicado na edição # 4 de “Os Maiores Clássicos dos Vingadores” pela Panini em 2008). Com a utilização dele, a equipe é derrotada facilmente e aprisionada na cidade de Avalon, que se encontra no interior do monte Wundagore.

A equipe consegue escapar e Stephen tenta alertar Preste João sobre o destruidor de mundos que está quase à sua porta e este revela que é justamente isso que ele deseja. Sua intenção é fazer com que a criatura destrua o “engenho da concórdia”, que se trata justamente da máquina que Stephen procurava. Se Null a destruí-la, acrescenta Preste João, uma fenda se abrirá no espaço e ele e seus seguidores conseguirão abandonar a nossa realidade “corrompida” em uma arca estelar rumo a “dez trilhões de amanhãs melhores no Paraíso”, destruindo todo o nosso universo no processo. Este engenho, guardado por um silencioso irmão cavaleiro de João, mais do que uma simples máquina do tempo, seria “tempo, espaços, universos, um mapa de tudo” segundo suas insanas palavras, mas parece consenso que devido a essa máquina muitas coincidências improváveis vêm se acumulando e o que isso significa ainda permanece oculto.

Preste João manda que a arca seja preparada e Null adentra a cidade de Avalon. Aparentemente alheio ao conflito, o silencioso guardião do engenho espera que ele seja realmente ameaçado para intervir. Ele é um “preste” como João e traz a tatuagem da letra grega “ômega” em ambas as palmas da mão. O Surfista tenta se comunicar com ele enquanto os demais defensores enfrentam o destruidor de mundos sem sucesso.

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A arca espacial alça vôo e o Surfista é forçado a abandonar a sua tentativa de diálogo para interceptá-la. Ele consegue desviar a trajetória da nave e a arremessa em direção ao espaço sideral profundo, condenando seus ocupantes a vagarem eternamente por lá. Enquanto isso, Null se aproxima cada vez mais do engenho.  Ao alcançá-lo, ele desfere um golpe e finalmente Preste Ômega resolve agir: de maneira rápida e silenciosa, ele se aproxima de Null e, na falta de termo melhor, este é “apagado”.


Depois de agir, ele retorna silenciosamente ao seu lugar e Stephen lhe pergunta o que acabou de fazer com Null e se João também era um guardião como ele, mas não obtém resposta. Stephen decide levar ambos, o guardião e o engenho, para o seu santuário e este arco de histórias se conclui aqui.


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A história seguinte, “A Mágica da Moeda”, é focalizada no Dr. Estranho e desenhada por Michael Lark. Stephen, já com o engenho e seu guardião abrigados no santuário, recebe a visita de Molly, uma universitária que esteve com ele anteriormente pedindo ajuda para sua tese e lhe pede um livro emprestado. Ele aquiesce e ela se retira com o tal livro, mas acaba sendo vista por um pretensioso “mágico de rua”, que reconhece o livro e sua procedência. Ele se aproxima da jovem e esconde uma moeda no interior do livro.

Enquanto isso, Stephen entra em meditação diante da máquina e acaba trazendo inadvertidamente à vida uma antiga paixão, Martha, que faleceu devido a um câncer no ovário anos atrás. No dia seguinte, Molly retorna para devolver o livro e fica constrangida com a presença de Martha. A noite cai e o “aprendiz de feiticeiro” consegue projetar sua forma astral para o santuário do Dr. Estranho graças à moeda que escondeu no interior do livro. Ele não tarda a ser descoberto, mas não antes de saber tudo sobre Martha, a máquina e seu guardião e ameaça denunciar tudo à polícia se Stephen não permitir que ele tenha acesso irrestrito ao santuário na noite seguinte.

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Imediatamente, Stephen e Martha vão para a casa de Molly e pedem a sua ajuda para escondê-la e conduzi-la a uma estação de trem, de onde parte para destino ignorado. Em seguida, Stephen surpreende o intruso quando este retorna à mansão em forma astral e encontra a sua moeda dentro de um vidro fechado misticamente e de lá não consegue mais sair. 

Stephen recebe um “chamado telepático” de Namor que o avisa sobre uma câmara aquática que abriga uma inscrição muito semelhante ao engenho que encontraram e isso conduz à próxima história, “As 99 filhas de Pontus”, desenhada por Mitch Breitweiser.  A equipe se encontra reunida em frente a essa câmara, que mais se parece com uma tumba.  Namor explica que ela foi descoberta durante as escavações realizadas no local que visavam a construir uma “nova Atlântida”. Inexplicavelmente, as palavras parecem faltar quando todos deliberam sobre o que fazer em seguida e o Surfista decide arrombar a câmara com um raio cósmico e encontram uma nave em seu interior fincada no peito de um gigantesco octópode.

No alto se encontram vários ovos, que logo se abrem revelando a presença de criaturas agressivas em forma feminina com cabeça de polvo e tentáculos em volta da mesma. Um conflito se inicia, mas logo Namor identifica a líder deste estranho esquadrão e a subjuga, ordenando que as demais recuem e fazendo reconhecer a sua autoridade de rei perante elas. Apesar de ninguém estar certo sobre o que elas realmente pretendem, Namor permite que elas partam. Como seria revelado a ele mais tarde, em uma espécie de sonho, elas seriam “as 99 filhas de Pontus” e ameaçaram tomar o seu trono em nome do pai delas e não permitiriam mais que a humanidade “desrespeite as suas fronteiras”.

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Logo após, o Dr. Estranho convoca os demais para o interior da nave e relata o que descobriu. Ele acredita que a nave se trata do “Nautilus”, a mítica nave do capitão Nemo descrita em “20 mil léguas submarinas” por Júlio Verne ou uma milagrosa recriação da mesma. Como se não bastasse, uma foto dos pais de Namor com o capitão é encontrada e isso desperta nele uma lembrança de infância há muito esquecida, com a mãe dele se referindo ao capitão desta nave como “um grande amigo” e sem se alongar sobre até que ponto ia essa amizade com ele. O Nautilus é resgatado pelas indústrias Rand. O corpo de seu capitão e de outro “Preste Ômega” é encontrado em seu interior. Aparentemente, o engenho que ele guardava foi transformado no motor que impulsionava a nave.

Para relaxar um pouco, Danny Rand prepara um jantar romântico em sua casa para a namorada, Misty Knight, mas são abruptamente interrompidos pela chegada do corpulento e gravemente ferido “Vultoso Cobra”, uma arma imortal de Kun Lu como o próprio Punho de Ferro. Danny é acusado pelo acontecido e recebe um apelo desesperado para que “desligue os engenhos”. Assim é fornecido o gancho para a última história deste encadernado, desenhada por Victor Ibañez cujo título, “Dammit, Danny”, não foi mostrado pela Panini.

O ferido é levado para um hospital e Danny descobre que várias outras “armas imortais” foram assassinadas, só restando na Terra, além dele próprio, o lutador John Aman, conhecido como o “Príncipe dos Órfãos”. Quando tenta explicar pra Misty o que está acontecendo, as palavras simplesmente fogem da consciência. Parece que o engenho está obscurecendo sua presença na mente das pessoas que sabem da sua existência.

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Danny pede ajuda ao Surfista Prateado para vasculhar os diários de Ernest Erskine, que relatam as aventuras de Orson Randall, predecessor de Danny como “Punho de Ferro” e seus amigos, que formavam um grupo chamado “Aliados do Extraordinário”. A idéia é encontrar alguma ligação do conteúdo dos diários com os fatos acontecidos recentemente, algo nada impossível diante das tantas coincidências extraordinárias que os caracterizam.

Logo em seguida, uma neblina verde cobre todo o ambiente e anuncia a entrada de John Aman. Ele assume a responsabilidade pelo assassinato das outras armas imortais e diz que está ali para detê-los para que o engenho não seja desligado. De maneira surpreendente, o Surfista modifica sua própria forma e engole toda a neblina verde que constitui a forma de Aman e sai rapidamente para expeli-lo no âmago de um vulcão e retorna para Danny. Este diz, de maneira lacônica, que Aman logo voltará.

 Ele mostra ao Surfista um desenho do engenho que encontrou em um dos diários de Erskine, que conta como os “Aliados” se defrontaram com Aman e seus asseclas na cidade de Z´Gambo, que abrigava um dos aparelhos e de como lutaram entre si pela preservação deste a todo custo. O diário também apresenta provas da existência de outros engenhos em todo o mundo. Diante disso, Danny toma a decisão de desligar todas as máquinas, começando pela que se encontra em Z´Gambo.

Matt Fraction é um escritor que divide opiniões. Acho-o ótimo escrevendo “Homem de Ferro” e em outros títulos o considero apenas razoável, como nas histórias deste encadernado de Defensores, mas não pude deixar de notar pelo menos três incoerências no roteiro: como Namor foi capaz de fazer uma chamada telepática para Stephen já que ele não tem esse poder, como um feiticeiro mequetrefe sem nome foi capaz de invadir o santuário do Dr. Estranho sem encontrar nenhuma resistência e como o Surfista alterou a sua forma para “sugar” John Aman já que ele nunca foi um transmorfo. A favor dele, devo dizer que a história “A Mágica da Moeda” é muito boa, a melhor da edição e gostei dele ter revisitado a mitologia do Punho de Ferro que criou junto com Ed Brubaker. Também achei interessante a possibilidade do pai de Namor ser o Capitão Nemo e uma boa sacada Namor nunca ter lido Julio Verne por não se tratar de um “autor atlante”. O roteirista foi bastante sagaz em utilizar esse “engenho da concórdia” como seu próprio “deus ex-machina” particular para justificar as muitas e improváveis coincidências que permeiam todas essas histórias.

Tem alguma coisa na arte do casal Dodson que não me agradou, não que os desenhos e a narrativa sejam ruins, mas acho que o traço deles não encaixa bem com esse tipo de história, se desenhassem novamente um personagem mais urbano como o Aranha acho que seria melhor. Gostei muito mais da arte de Michael Lark, Mitch Breitweiser e Victor Ibañez, achei que os seus diferentes estilos se casaram muito bem com os personagens que protagonizaram as histórias que cada um desenhou.

Eu gostei da Panini ter trazido este material, mas tem me incomodado demais a tendência recente da editora de lançar vários encadernados como esse em papel LWC, encarecendo demais o preço final. Dos que vi anunciados até agora, só o do Demolidor do Waid está valendo cada centavo.


Carlos Andre Colaborador do site Marvel 616

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