terça-feira, 3 de março de 2020

X-Men: Salto de Fé Mutante

Algo assim nunca foi feito antes por qualquer escritor. Jonanthan Hickman de fato revolucionou a história dos mutantes da Marvel. Já que a humanidade nunca os aceitou, tornou eles algo completamente a parte e agora eles estão construindo muito mais que uma Nação. É um novo modo de vida, um lugar diferente pra se viver, costumes inteiramente novos e inevitavelmente isso iria esbarrar em questões filosóficas e religiosas. E estamos a beira de ver uma Religião Mutante nascer em Krakoa


Antes de falar sobre isso, vale a pena ressaltar alguns eventos importantes da edição #6 dos X-Men. Focada principalmente na Mística, vemos como a Mutante metamorfa está sendo usada por Xavier e Magneto em troca de ver sua amiga Sina, a mutante preditiva, de volta a vida. Foi assim que ela foi convencida de ir para a Forja, a base ao redor do Sol da Orchid atacada nas edições de House of X. Aqui, descobrimos que ela tinha uma missão a parte por lá de cultivar uma flor de Genosha escondida. Morreu como todos na missão, mas ainda não teve o que lhe foi prometido (e sabemos que Xavier tem seus motivos).

Agora, a planta cresceu e tem um portal secreto para a Forja. Mística é enviada disfarçada para lá e descobre que a Capitã Craine e a Doutora Alia Gregor continuam seus trabalhos no espaço. Elas estão fazendo um Nimrod e não tem nada a ver com o Molde Mãe destruído anteriormente. Ou seja, a missão anterior foi em vão. De volta a Krakoa, Mística exige a volta de Sina e ainda lhe é negado. Xavier e Magneto dão a desculpa de que ela tem que fazer por merecer. E num flashback, sabemos que Sina previu aquele momento. Antecipou que 'Eles desejariam cegá-la por alguma razão'. E antecipou que se 'eles negassem a você o que você quer', que Mistica deveria 'queimar todo o lugar'.


Agora passemos para a edição #7, uma edição inevitável a partir do momento em que Jonanthan Hickman criou todo o processo de 'ressurreição' dos mutantes em Krakoa. Aos poucos as leis estão sendo montadas e algumas são bastante questionáveis. É o caso do "Crucible", uma palavra que pode servir como 'provação severa', e que aqui serve como uma espécie de ritual criado em Krakoa para mutantes que perderam os poderes na 'Dizimação Mutante' e que vem em Genosha a oportunidade de recuperarem os dons. Para isso, precisam morrer naqueles velhos corpos para ressuscitar Mutantes de novo.

O processo em si é bem questionável e faz com que muitos mutantes fiquem em dúvidas filosóficas sobre isso. Ciclope é um desses que não sabe o que pensar a respeito. Começa a história tentando puxar assunto sobre isso com Wolverine (o que gerou uma piada que fez a internet se remexer essa semana), mas precisava da opinião de alguém mais espiritualizado. E foi atrás de Noturno.

Todo leitor sabe que Noturno é conhecido por ser o mutante mais católico de todos, já foi padre. Morreu, esteve nos céus e voltou de lá mesmo assim. Noturno tem dúvidas também sobre o ritual do Crucible, questiona sobre tratar com desdém a morte que acaba se tornando ali uma mera circunstância e sem nenhum impacto já que o indivíduo voltará depois. Matar um igual estava sendo banalizado na intenção de se ter um dado fim. Também tem a questão do seu entendimento do que era a Alma e tudo o que ele acreditava sobre isso antes. Obviamente, a situação de ressurreição de Krakoa aqui é extremamente complexa, mexe com crenças que vão do Budismo ao Cristianismo. Se eles podem eternamente ressuscitar e serem trazidos pra cá, suas almas não mais irão para o lugar onde deveriam ir antes? Eles serão como que anjos tendo que fazer da Terra o seu céu?


Aqui vale alguns parenteses sobre essa edição. Em dado momento, somos pegos com uma visão do Cifra separado de sua infecção da falange e conversando com o alienígena-amigo Warlock. Mas não dá pra saber ainda se é uma imagem real. Noturno teve acesso a uma construção impenetrável e misteriosa de Krakoa graças a seu teleporte. Ela lhe lembrou algo divino. Exodus aparece educando crianças mutantes e recontando a história da Dinastia M e Feiticeira Escarlate. Na perspectiva mostrada, Wanda Maximoff aqui é praticamente demonizada e as crianças mal conseguem falar seu nome. Chamam-na de 'Impostora'. Em dado momento da conversa de Kurt e Scott, eles questionam se um mutante não poderia ser trazido num corpo mais poderoso - tipo Magneto? Kurt então levanta a bola que poderiam até ressurgir com um corpo combinado de dois ou três mutantes. É aqui que nasce a ideia dos híbridos chamados de Quimeras de Powers of X?


No final da edição acompanhamos Melody Guthrie, a Aero, sendo recebida numa arena por Apocalipse e tendo que lutar contra ele para morrer. Foi uma regra estabelecida pelo ritual de que pra honrar a morte, teriam que morrer lutando. Apocalipse cumpre o papel de capataz e instantes depois vemos os 'Cinco' ressuscitando a garota, que agora tem os poderes que lhe foram retirados. Cheio de dúvidas, mas sendo parte do Conselho de Krakoa, Kurt entende que está na hora de ele criar um Religião Mutante.


A edição é excelente e necessária desde que surgiu a proposta de Hickman de criar esse poder de 'eternidade' da raça mutante. Seria muito bom toda a coisa ser bem explorada numa edição especial do Noturno no futuro. É algo que certamente é um terreno inóspito e polêmico, mas que fará muito bem ao que se está construindo cada vez mais nas revistas X. Os Mutantes estão se distanciando em várias perspectivas do humanos que um dia juraram proteger.

Coveiro

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