terça-feira, 13 de outubro de 2020

Restruturação anunciada pela Disney reforça ainda mais suas plataformas digitais pelo mundo

Com a situação ainda incerta para os cinemas devido a pandemia de COVID-19, que pode se prolongar e afetar o setor mesmo por 2021, o grupo Disney realizou algumas mudanças estruturais anunciadas nessa segunda-feira que pode repercutir em se dar mais atenção a partir de agora aos produtos de streaming da Disney+. Ou seja, além dos seriados já anunciados pra Marvel, talvez passemos a ter muito mais chegando a plataforma de forma inédita antes dos cinemas:

Bem, de acordo com a nota oficial, “Sob a nova estrutura, os motores criativos mundiais da Disney se concentrarão no desenvolvimento e produção de conteúdo original para os serviços de streaming da empresa, bem como para plataformas legadas, enquanto as atividades de distribuição e comercialização serão centralizadas em uma única organização global de distribuição de mídia e entretenimento”. Segundo a declaração, esta nova unidade de distribuição de mídia e entretenimento "será responsável por toda a monetização de conteúdo - tanto a distribuição quanto as vendas de anúncios - e supervisionará as operações dos serviços de streaming da Empresa. Ela também terá responsabilidade exclusiva de P&L [lucros e perdas] para os negócios de mídia e entretenimento da Disney”.

A criação de conteúdo, em todas as plataformas, será feita por três grupos distintos - Studios (Estúdios, dirigido por Alan Bergman e Alan Horn), Sports (Esportes, dirigido por Jimmy Pitaro) e General Entertainment (Entretenimento em geral, dirigido por Peter Rice). O grupo de distribuição de mídia e entretenimento será liderado por Kareem Daniel, que foi ex-presidente de produtos de consumo, jogos e publicação e cuja carreira de 14 anos na empresa incluiu trabalhar em estreita colaboração com o atual presidente Bob Chapek em uma série de projetos de Parques Disney como Pixar Pier na Disney California Adventure e Star Wars: Galaxy's Edge na Disneyland e Walt Disney World. Todos os cinco líderes se reportarão a Chapek. Os parques, experiências e produtos da Disney continuarão a operar sob a estrutura existente, liderada por Josh D’Amaro, presidente do conselho, Parques da Disney, experiências e produtos. Rebecca Campbell atuará como Presidente de Operações Internacionais e direta ao Consumidor. Bob Iger, em sua função de Presidente Executivo, continuará a dirigir os esforços criativos da Empresa.

De acordo com o comunicado, o segmento dos estúdios "se concentrará na criação de conteúdo de marca pra filmes e episódios com base nas franquias poderosas da Empresa para exibição em cinemas, Disney + e outros serviços de streaming da Empresa. O grupo incluirá os motores de conteúdo do 'The Walt Disney Studios', incluindo 'Disney live action' e 'Walt Disney Animation Studios', 'Pixar Animation Studios', 'Marvel Studios', 'Lucasfilm', '20th Century Studios' e 'Searchlight Pictures'”. A divisão de entretenimento geral de Rice se concentra na “criação de conteúdo episódico e original de entretenimento geral de formato longo para as plataformas de streaming da empresa e suas redes de transmissão e cabo. O grupo incluirá os motores de conteúdo da 20th Television, ABC Signature e Touchstone Television; ABC noticias; Canais Disney; Freeform; FX; e National Geographic”.

"Dado o incrível sucesso da Disney+ e nossos planos em acelerar nosso serviço direto ao consumidor, estamos estrategicamente posicionando a companhia para dar efetivamente mais suporte nessa crescente estratégia e aumentar ainda mais o valor das nossas ações. Ao mudar o conteúdo de criação distinguindo da distribuição poderemos ser mais eficientes em fazer o conteúdo que os consumidores mais querem, entregar da maneira que eles prefiram consumir" explicou o novo presidente da Disney Bob Chapek a CNBC. "A verdade é que queremos deixar isso livre para um grupo de pessoas que podem ver isso realmente de forma objetiva. Tomar a melhor decisão pra companhia, ao invés de certa maneira predeterminar  de que um filme seja destinado para as salas de cinemas ou de que um seriado de TV vá pra o canal ABC" "Os consumidores vão nos levar ao caminho em que eles decidirão essas decisões de transição. Nesse momento, eles estão votando com seus tablets e estão votando de forma pesada na Disney+. E o que queremos fazer é ter a certeza de que iremos pelo caminho que os consumidores querem que a gente vá".

A decisão tomada pela companhia já deu resultado. Houve aumento de 5,4% das ações desde o anúncio feito por Chapek. Ainda assim, aos fãs que não querem que a experiência das salas de cinemas acabe, a Disney garantiu que continuarão gerando produtos para lá. Ainda assim, Chapek finalizou deixando claro o foco principal da empresa que deve investir de 2021 em diante: "Ao mesmo tempo, há muitos consumidores que querem uma experiência dos filmes na segurança, conforto e conveniência de suas casa".

Bom, se você ainda não entendeu o alcance de tudo o que foi feito, vamos resumir aqui . O esforço para conteúdo de produtos Disney para as plataformas digitais passa a ser global. Ou seja, assim como Netflix tem séries próprias em cada país, assim será a Disney+. Contudo, isso tudo será encabeçado pela direção da unidade "Studios" lá da Matriz. No caso do Brasil, já tivemos sinalização de algo do tipo semanas antes.

 Diego Lerner, presidente do grupo para a América Latina tinha anunciado numa entrevista a Veja que "teremos conteúdos para brasileiros feitos por atores e diretores daqui. Haverá investimento em séries e filmes. O streaming permite que tenhamos essa diversificação. É uma experiência mais rica que a da TV, permitindo oferecer opções como clássicos, filmes em espanhol, filmes de arte. Aliás, tudo que estiver em exibição no Disney+ do resto do mundo ficará  disponível no Brasil também. O Brasil está entre os 10 principais mercados para a Disney+, e logo o investimento será proporcional ao seu tamanho e importância". Esse investimento tem dois lados, claro. Beneficia a plataforma com mais títulos, mas atende demandas de leis nacionais que pedem uma porcentagem de produção de conteúdo nacional aqui.

Por outro lado, o anúncio coloca certa independência da parte de produção criativa do estúdio atrelada a distribuição. A Distribuição passa a ser agora mais focada numa só gerência pelo mundo todo e a empresa dá entender que grandes produções como as da Marvel Studios não mais serão atreladas as salas de cinemas necessariamente. Não que isso signifique os filmes já anunciados deixarão de ter sua estreia. Mas sinaliza que podemos ter produções do mesmo naipe ganhando lançamento direto pro consumidor da Disney+. Os testes com Mulan devem ter dado certo. Recentemente a animação Soul da Pixar perdeu o lugar nas salas de cinemas e estreará em dezembro na Disney+.

Coveiro

comments powered by Disqus