domingo, 30 de janeiro de 2022

Bob Iger fala sobre o futuro dos cinemas, serviços de streamming e a situação do contrato dos talentos de Hollywood

 Falando com o The New York Times, o ex-CEO da Disney Bob Iger compartilhou sua posição sobre o estado atual dos filmes e do modelo das salas de cinema em comparação com o streamings. Especificamente, ele explicou onde acha que as coisas estão indo com o aumento dos serviços de streaming de qualidade ao lado dos lançamentos nos cinemas. Ele também comentou um pouco sobre o processo que Scarlett Johannson moveu contra a empresa.

A entrevistadora Kara Swisher do NYT sugeriu que os cinemas podem diminuir em quantidade devido ao aumento do conteúdo de streaming, estando lá apenas para grandes filmes block-busters como Homem-Aranha: Sem volta para Casa. Embora Iger não acreditasse que "é a morte" dos cinemas ou qualquer coisa "fatal", ele entende que os streamers podem mudar um pouco a dinâmica do que vai de fato para as telonas.

"Não acho que seja a morte. Acho que é uma lesão grave que talvez não cicatrize. E o que quero dizer com isso não é fatal. Pode ser fatal para alguns" confessou Iger e apontou que "No entanto, as pessoas serão muito mais exigentes, eu acho, sobre quais filmes eles querem ver fora de casa, onde você provavelmente, eu acho, diga ou pergunte a si mesmo, espere um minuto, este é um filme que eu preciso ver na tela grande e fazer tudo isso, ou posso esperar ou nem esperar, aliás, e ver em casa?"

Olhando especificamente para "Sem Volta para Casa", Iger deixou claro o quão popular o filme era em todo o mundo, mas admitiu que muitos filmes por aí "não se encaixam nessa categoria" e não precisam ser vistos nos finais de semana de estreia. Enquanto Iger elogiou alguns cinemas por "(ter) descoberto" e "(melhorado) a experiência", ele também observou como essa experiência "tem que ser perfeita" nos dias de hoje. Ele até deixou claro que não se tratava especificamente de filmes, mas que existem "muito mais opções em casa" graças a vários programas de TV atualmente em exibição.

Iger observou que as séries com qualidade de filme da Disney Plus, como Falcão e o Soldado Invernal e Loki, da Marvel Studios, estão causando "muito mais concorrência" para os cinemas, o que pode prejudicá-los:

"A questão não é se você assiste a um filme na tela grande ou em casa. É só que você tem muito mais opções em casa. Pense no número de séries de TV sobre as quais estamos falando - em um nível de qualidade que é muito bom, muito melhor, de uma perspectiva de valor de produção, do que costumava ser... Alguns dos programas de TV que a Disney fez - "Mandaloriano" sendo um, a série da Marvel, "Falcão e o Soldado Invernal", " Loki”- cada um deles é um filme. Então, os cinemas têm muito mais concorrência do que nunca."

A questão sobre começar a dar preferência igual ao que sai em Streamers e nos cinemas levou diretamente a questão do filme da Viúva Negra, que foi lançado concomitantemente no Disney+ e nos cinemas, e levou a uma série de conflitos, inclusive um processo com Scarlett Johnansson. Bob Iger tentou se esquivar pra falar sobre o processo em si, mas comentou a respeito sobre as mudanças em Hollywood a cerca de como os talentos devem ser pagos nos filmes que forem pra esse serviço e não terão porcentagens da bilheteria:

"Essa é uma pergunta muito boa. Em vez de ser específico sobre ela, de quem eu gosto muito pessoalmente, e acho que ela é muito talentosa. Tudo está mudando muito rápido. É incrível o que a tecnologia está fazendo para interromper negócios, modelos de negócios, práticas de negócios existentes , incluindo como as pessoas são pagas. De repente, chegamos a um ponto em que a mídia digital realmente transforma o negócio do cinema."

Essas mudanças, Bob Iger acredita que ocorreriam com o tempo independente da pandemia."E muitos filmes, que em um ponto – e podemos deixar o Covid de lado, mas em um ponto teriam passado por esse processo. Vá para as salas de cinema primeiro, e então eles vão imediatamente para o streaming. Eles pulam todas essas etapas" disse.

Sobre como isso afeta talentos como Johansson, o ex-CEO reconheceu que "toda a indústria agora está lutando para lidar com a forma como as pessoas são pagas" e que a pandemia estava "interrompendo o que já era um negócio que estava sendo interrompido:"

"Então, o streamer digital - Netflix ou Disney - normalmente está pagando uma taxa fixa pelo filme, certo? E então, ele permanece nessa plataforma às vezes para sempre, o que significa que não tem outra vida associada a ele, um, é muito diferente em termos de onde vem, mas dois, não é como se houvesse receita direta atribuída a esse filme... Então, toda a indústria agora está lutando para lidar com a forma como as pessoas são pagas neste filme. E o que estava acontecendo com Scarlett era que havia... antes de tudo, a Covid estava realmente atrapalhando o que já era um negócio que estava sendo interrompido."

Quanto ao conflito entre a empresa e a atriz após o lançamento híbrido da Viúva Negra, Iger afirmou que: "E então, primeiro, foi tomada a decisão de adiar, adiar, adiar e, finalmente, a decisão foi de pular os cinemas e ir diretamente para o serviço. E, obviamente, isso criou tensão".

Bob Iger hoje não é mais o CEO da Disney, cargo deixado para seu sucessor no cargo, Bob Chapek. Ainda assim, ele ocupa um papel importante como Presidente do Conselho e sempre será lembrado e associado ao nome da Disney pelos avanços e boa fase que gerenciou na companhia. 

Coveiro

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