domingo, 4 de outubro de 2020

OS 80 MAIORES MOMENTOS DA MARVEL COMICS NO BRASIL - Parte 3

Continuando nossas comemorações dos 80 anos de produções Marvel no Brasil, vamos dar sequência a mais um capítulo série em oito partes falando sobre os 80 principais momentos dos nossos heróis por aqui. Seguimos essa parte falando sobre a chegada de mais personagens e outras editoras menos conhecidas que publicaram materiais da Marvel:

21-A estreia de Conan , o Bárbaro pela Minami & Cunha em 1972.

Após comprar alguns títulos de Miguel Penteado, da Editora GEP, como Lobisomem, de Gedeone Malagola e a Múmia, Minami Kenzi e Carlos Cunha da M&C, editora localizada em São Paulo, na Rua Oliveira lima, N° 184, no Cambuci adquiriram alguns personagens que sobraram da Marvel, que a Ebal não tinha interesse em publicar. Um desses personagens era "Conan, o Bárbaro". Criado por Robert Ervin Howard em 1932, e adaptado pela Marvel no  início dos anos 190. Conan teve as suas histórias contadas na revista norte americana Weird Tales, e pela Minami & Cunha teve apenas três edições publicadas. Na sequência, veio Dr. Estranho, outro personagem publicado pela primeira vez por aqui com as suas histórias próprias, batizado de Dr. Mistério. O nome Dr. Mistério, foi criado pelo próprio distribuidor a APLA. De acordo com um dos editores, Carlos Cunha, o material já vinha traduzido da própria agência, e foi a APLA que batizou como Dr. Mistério ao invés de Dr. Estranho.   


22- A Marvel na GEA.

 A GEA era localizada na Av. Presidente Vargas, n° 446, no Centro do Rio de Janeiro.  Nesse ano de 1972, a Ebal tinha descartado alguns personagens. Após passar a febre dos desenhos animados, algumas publicações da Ebal caíram nas vendas e alguns personagens oram parar na GEA. Um fator importante das publicações era a qualidade das revistas. Tanto as da Marvel quanto as demais tinham uma apresentação gráfica bem interessante. O acabamento era muito parecido com o das edições que a Marvel publicou na época. As revistas Marvel da GEA foram às publicações que mais se aproximaram do estilo americano. Tanto no acabamento, como no formato. Foram apenas 14 edições publicadas pela GEA: Três edições do Quarteto Fantástico, três do O Invencível Homem de Ferro, três do Defensor Destemido (o nosso querido Demolidor), duas do Príncipe Submarino (Namor), duas do O Poderoso Thor e uma de O Incrível Hulk. As revistas, além de serem bem diagramadas, eram todas coloridas, ostentado em todas as suas capas a expressão "Em Cores". Demolidor, que já tivera a sua revista publicada pela Editora Ebal, mas dessa vez batizado como “Defensor Destemido”.  O nome Demolidor era de registro da Ebal, que detinha o direito no Departamento de Censura Federal.  Provavelmente a ideia para esse nome foi por conta das duas letras D, no uniforme do personagem. E, aproveitando a ideia de um nome composto (o Defensor Destemido). Posterior à fase da GEA, o personagem voltaria a ser batizado novamente como Demolidor.  A editora durou apenas um ano, pois desde o início a editora foi criada para dar um golpe na praça. 


23- Títulos da Saber/ Paladino em 1972.

 A Editora Paladino era uma gráfica localizada em São Paulo, na Rua Caquito n° 138, no bairro da Penha, comandada por Savério Fittipaldi. E teve um momento de esperteza inacreditável, ao constatar que o contrato da RGE (Editora de Roberto Marinho) com os personagens que vendiam muito na época não cobria a publicação em "formato livro". E assim, logo saiu publicando Fantasma, Mandrake, Recruta Zero (desses, tiveram que mudar os nomes, pois a editora não podia usar o nome original do personagem, que era de registro da RGE). Recruta Zero, por exemplo, virou “Zé, o Soldado Raso”. E mais um monte de outros personagens. O engraçado é que o formato livro (14x20cm) era apenas lombada quadrada, com tamanho menor. O famoso jeitinho brasileiro para interpretar um contrato às vistas da lei. E é claro que eles tiveram a conivência do licenciador da época, a APLA. Logo, por razões fiscais, para ficar dentro da alíquota vigente de lucros arbitrados, decidiram que era melhor abrir outras razões sociais para publicar mais revistas em formato de livro. Assim nasceram a Paladino, a Interpolar, a Saber, a Super-Plá e mais algumas. Todas da família Fittipaldi. Da Marvel foram três edições do Sargento Fury, três do Ka-Zar e uma do Drácula, todas consideradas raras entre os leitores. 


24-Títulos menores pela Gorrion m 1973.

 De todas as editoras que publicaram o Universo Marvel no Brasil, a Editora Gorrion talvez seja a mais obscura delas. Fundada em 1973 por três sócios, Walter Andrade, Victor Simões e Dino Mengozi, a editora situava-se na Rua Joaquim Silva, n° 11, no Rio de Janeiro. De todas as revistas publicadas que merecem destaques foram às edições de "Amor Moderno". Trata-se das histórias de amor/romance produzidas pela Marvel Comics, extraídas do título “Our Love Story Vol 01” de 1969. A editora lançou apenas três edições, escritas por Stan Lee com desenhos de John Buscema, John Romita, Jim Steranko, Gene Colan e Don Heck. Outras publicações foram com a personagem “Shanna”, a “Enfermeira da Noite”, “Luke Cage” e “Kull o conquistador”, batizado de Koll no Brasil. Algumas dessas revistas eram produzidas em conjunto com outra editora, a Roval de São Paulo. A editora durou pouco tempo por problemas ilícitos com o distribuidor da época.


25- A editora Roval e Kultus com Koll de 1973.

 

A Editora Roval foi fundada em 1971. E era localizada na Rua Tamandaré nº 205 no bairro da Liberdade em São Paulo. Contando com a experiência de Salvador Bentivegna, um dos profissionais mais atuantes do mercado editorial brasileiro. Tendo trabalhado em várias editoras como a Pan juvenil, Edrel, passando pela Roval até criar a Editora Kultus. A Editora Roval contava com a participação minoritária de Bentivegna.  Além de três edições de Conan e três de Frankenstein, Kull, que se tornou Koll o Conquistador, publicado pela editora, em sete edições. Somente a edição 05, contém o expediente da Editora Gorrion, provando que as editoras tinham certos acordos suas publicações. A Editora Gorrion ainda não tinha o registro perante a Polícia Federal. O registro de serviço de censura da Polícia Federal criado em 1972 que duraria até 1988, era obrigatório para as editoras poderem publicar suas revistas e a Roval acabava dando uma “força” para a Gorrion.  Existem duas histórias sobre esse fato do personagem Kull. A primeira seria simplesmente por causa da fonética. A palavra Kull, na boca da criançada, poderia não ser bem vista pelos pais. De fato, lembraria o orifício no final do intestino grosso.  A outra versão, e a mais provável, eram para evitar problemas com a censura. Por isso, o personagem seria batizado simplesmente de Koll. Pela Kultus foi publicada uma edição especial de Ka-Zar.


26- Hartan a edição mais polemica editada no Brasil em 1973.

 A edição mais conhecida publicada pela Graúna é a revista batizada de "Hartan, o Selvagem". Hartan é nada mais, nada menos, que o personagem "Conan, o Bárbaro".                                                       Essa edição é considerada por muitos como sendo uma publicação “pirata”, por falta de autorização da Marvel para a publicação. Mas a história não é bem isso e somente isso.                            Com o fim da Minami & Cunha, algumas de suas publicações foram para outras editoras. E aí que a história fica interessante. A Roval  adquiriu os arquivos para publicar Conan - os direitos de publicação eram da APLA que já tinha vendido para a M&C. Era a agência que comprava da Marvel e fornecia as editoras, se alguma delas não se interessava por determinado título, era oferecido para outra e assim por diante. No caso de Conan, a sequência da história editada pela Minami seria com a revista Hartan. Como a editora já possuía os arquivos, e após encerrar suas atividades, os direitos foram cedidos a Roval. A Graúna era a editora responsável por imprimir os lotes da Roval e da Gorrion e como parte de um acordo, a Roval forneceu essa história publicada em Hartan, para que a Graúna publicasse. Naquela época as editoras recebiam antes das revistas estarem prontas e uma prova de capa gerava um valor em média de 30% do valor do lote. A Roval forneceu essa história para que a Graúna tivesse esse valor e para que a própria editora também garantisse o seu. Como a revista ia para o registro do Departamento da Polícia Federal, não seria possível ter dois registros com o nome Conan em duas editoras diferentes. A solução seria mudar o nome de uma das revistas, só assim, as duas editoras teriam como ganhar algum. E assim, Conan se tornaria Hartan pela Graúna, dado sequência ao material editado pela M&C.  Reinaldo de Oliveira além de editor era produtor gráfico, e ele foi o responsável pelo logotipo “Hartan” sendo o responsável também pela editoração e montagem da revista.



27- A primeira aparição de Shang Chi no Brasil, setembro de 1974.

 Primeira revista em formato magazine da Marvel no Brasil. A Ebal para aproveitar a onda dos filmes de Kung- Fu investiria nas histórias produzidas pela Marvel, com o personagem.  Terminamos por aqui as segunda parte dessa grande cobertura sobre 80 grandes momentos desses 80 anos. Cobre as primeiras aparições dos mais famosos heróis pela primeira vez no Brasil e termina com a primeira revista colorida publicada.


Termina aqui a terceira parte de nossa cobertura dos 80 anos. E já nessa semana tem mais, dando sequência a chegadas das histórias em mais duas grandes editoras nacionais.

Alexandre Morgado

----

Alexandre Morgado é cartorário do 15° Tabelionato de São Paulo. É também autor do livro "Marvel Comics - A Trajetória da Casa das Ideias do Brasil", livro que narra a história da Marvel em nosso país, publicado em 2017 pela Editora Laços. O autor possui um acervo gigante de HQs, principalmente com material da Marvel Comics.

----

Nota de agradecimento ao site Guia dos Quadrinhos por ajudar na pesquisa e dispor de imagens de capas para ilustrar esse artigo.

comments powered by Disqus