terça-feira, 9 de agosto de 2022

O início da série A.X.E.: Dia do julgamento

* Artigo escrito por nosso colaborador, João Cardoso

O título de Eternos lançado em 2020 já pode ser considerado uma obra prima por si só. Depois de tantas formas de tentarem abordar os personagens, Kieron Gillen foi capaz de colocar em prática e de forma coesa o que o criador dos personagens, Jack Kirby, fez. Uma trama com base política, sci-fi e épica, com os lindos traços do ilustrador Esad Ribic, consagram esse como um dos melhores quadrinhos de super-heróis da atualidade.

De outra perspectiva, o universo mutante reinventado pelo roteirista Jonathan Hickman agora entra em uma nova linha de títulos: Destiny of X. Trazendo uma qualidade elevada com X-Men Red, Legion of X e o também roteirizado por Gillen Immortal X-Men.

Juntando esses dois lados nessa enorme introdução, ligamos o nome em comum: Kieron Gillen. Já vindo como costume da Marvel nos últimos anos de transformar títulos de sucesso em grandes sagas, chegou a vez de juntarmos Eternos e X-Men... e, por que não, os Vingadores?

Em A.X.E. Eve of Judgment #1, somos apresentados ao contexto dos heróis nesse prelúdio da saga A.X.E.: Judgment Day. De um lado, os mutantes em Krakoa com uma certa tensão política desde o Evento Inferno e o anúncio de uma guerra logo. De outro lado, Druig agora encabeça a liderança dos Eternos como o Eterno Primordial, vendo os mutantes como uma ameaça Deviante.  Ikaris, Serci, Thena e outros Eternos acabam se afastando por ideológica. Agora, eles sabem que os Eternos vivem eternamente a base de vidas humanas.

Os Vingadores acabam na rota de colisão, operando em um Celestial morto. A Eterna Sacerdotisa Ajak vê isso como uma blasfêmia. Druig e Domo desenvolvem uma bomba de anti-matéria para explodir Krakoa e eliminar a vida mutante. Mas a ideia falha. Krakoa é uma parte vital da máquina (Terra), a qual impede que o ataque ocorra. O ódio aos mutantes de Druig continua crescendo como excesso Deviante. Sendo motivado pela expansão mutante em Marte, a qual rebatizaram como Arakko, e o segredo de ressurreição dos homo superior que estava vazando.

Druig, Ajak e Makkari mantém Senhor Sinistro como refém, e tentam usar Phastos para seus propósitos. Phastos se recusa e os deixa, agora se juntando aos Eternos em Lemúria.

Então, finalmente chegamos em A.X.E.: Judgmente Day #1. Uma edição moderada e preparatória. Um grande número de diálogos colocados de forma orgânica mostrando os pontos de vista, principalmente de Druig, agora se aliando a organização Orchis. Esse início consegue trazer um forte senso de prelúdio de guerra mutante, transmitindo toda a urgência inserida aqui. 

Com o vazamento do segredo mutante, o ódio à raça cresce desproporcionalmente, dando ainda mais a questionar o quanto os mutantes estão dispostos a serem vistos como soberanos e o quanto estão compartilhando com o resto do mundo.

Sina avisa que seus inimigos de guerra serão os Eternos. Noturno leva a palavra até Arakko, enquanto Sina e Mística reúnem o Conselho Silencioso.

Druig envia Uranos à Arakko para cometer genocídio, mostrado em um breve quadro e melhor desenvolvido em X-Men Red #5. Um momento comparado com o Dia M, ou Genosha, no quesito extermínio mutante. Contudo, acaba não sendo tão impactante, principalmente pela agilidade e o foco da história que é mais voltada para os diálogos e desenvolvimentos de poder.


O Conselho Silencioso revida um ataque da Unimente, enquanto o plano de Druig vai se desenrolando em um diálogo expositivo e divertido. Ele sabe sobre os Cinco e os coloca como alvos no ataque, levando, inclusive, à morte de Ovo.


Os Vingadores e os outros Eternos vivendo em Lemúria acabam de lado na edição. O maior destaque são os diálogos de Sersi com Homem de Ferro e Capitão América sobre os reais interesses e segredos dos Eternos. Apenas no final, temos o clássico grito “Avante, Vingadores”. E, caso você não esteja em dia com os Vingadores do Jason Aaron, pode estranhar a formação da equipe aqui.


Como dito antes, tudo aqui gira mais em torno de uma construção para as próximas edições, mesmo tendo momentos de ação pontuais dentro da história, eles acabam ficando para os Tie-ins.

Aproveitando para falar sobre os Tie-ins, Al Ewing dá maior desenvolvimento para o extermínio em Arakko, numa edição ágil e desesperadora com a contagem de tempo e a grande carnificina feita por Uranos. Contando com a belíssima arte de Stefano Caselli.

Em Immortal X-Men #5, Gillen, acompanhado de Michele Bandini, escolhem a perspectiva de Exodus para contar a história. Narrando seu ponto de vista durante o ataque contra a Unimente junto do Conselho Silencioso. Ainda, colocando-o como cavaleiro e recontando sua história de forma a construir melhor seu personagem. 

O maior destaque positivo desse evento, pode ser o maior problema. Como um título que claramente não se sustenta sozinho, você precisa estar por dentro do que o escritor Kieron Gillen veio criando nos últimos anos, e dessa forma, a complexidade e a lista de histórias que você deveria ler para chegar aqui aumenta. Ainda mais por Eve of Judgment não ser um prelúdio que se sustenta sozinho e que realmente traz a profundidade de tudo construído anteriormente. Por outro lado, todos os motivos são muito bem encaixados e críveis. Sabemos que existiu um caminho para tudo chegar até aqui, dando muito mais sustância e credibilidade no que está sendo desenvolvido, tornando um evento fora da curva dentro do universo Marvel.

As artes de Valerio Schiti com as cores de Marte Gracia, são incríveis em A.X.E.: Judgment Day, trazendo uma excelente ambientação, cenários incríveis e bem distintos, somando a urgência gerada em todas as páginas. Os personagens são bem retratado em suas figuras de poder em seus respectivos ângulos e inclinações. O roteiro consegue ser inteligente, mas reconheço que pode não agradar a todos. As pitadas de referências a governos atuais em que vivemos, principalmente o paralelo político, liderado por Druig, sendo um regente fascista. 

O evento tem um grande potencial e uma maneira diferenciada de ser contado. Alguns podem achar meio parado e com falta de ação. Mas sinceramente, se houvesse muita ação, muitos reclamariam também como apenas ação e pouco desenvolvimento.

O sentido de perigo é real, e todos os personagens estão escritos com maestria, sem exceção. Confesso estar curioso até onde tudo isso pode nos levar, e espero que traga boas consequências para as histórias de todos os títulos envolvidos até aqui.

João Cardoso

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