Em meados dos anos 1970 a Marvel estava mergulhada nos quadrinhos de terror. Títulos como: A Tumba de Drácula, Frankenstein, Lobisomem e mais alguns davam o tom na Casa das Ideias naquele momento. Na edição original de “Werewolf by Night” nº 32 de agosto de 1975, eis que um novo herói...ou melhor dizendo um anti-herói surgia nos quadrinhos da Marvel. Criado por Doug Moench e Don Perlin, o Cavaleiro da Lua, foi desenvolvido em cima dessa atmosfera de ser um anti-herói. “Achei que um vilão para o Lobisomem deveria ser, de certa forma, um herói. Alguém que luta contra um Lobisomem não é necessariamente um cara mau. Mas o Lobisomem é o astro da revista. Então, o vilão que precisamos teria de ser a combinação de herói e vilão”, comenta o criador Doug Moench. O personagem chamou a atenção, e logo seria publicado em seguida nas edições de “Marvel Spotlight” nas edições nº 28 e 29.
O Cavaleiro da Lua é o mercenário Marc Spector, que após ser abandonado em um deserto por um líder de seu antigo bando, acaba entrando num estado de “quase morte". Depois que seu coração parou de bater, por falta de água e pelo forte sol, ele acabou sobrevivendo depois de ter sido salvo por um grupo de trabalhadores que estavam próximos a uma escavação arqueológica. Subitamente, Marc acorda de sua morte aparente e atribui a sua nova vida à estátua de “Khonshu”, o deus egípcio da Lua, que se encontrava nessa escavação. Com isso, Marc Spector se torna o Cavaleiro da Lua, começando a combater o submundo do crime organizado ao lado seus parceiros “Marlene” e “Frances”.
Um dos fatos mais marcantes do Cavaleiro da Lua era com o elemento das múltiplas personalidades, algo desenvolvido logo no início de sua criação. A ideia de Moench era distinguir o personagem dos demais da editora, chegando ao ponto em que nem mesmo o Cavaleiro soubesse de fato quem ele realmente era. Além de Marc Spector, é também o milionário Steve Grant e o taxista Jake Lockley.
Depois de Marvel Spotlight, o personagem ganhou revista própria. A revista “Moon Knight” nº 1 chegava em novembro de 1980, pelo seu criador Doug Moench e um novo artista que despontava chamado “Bill Sienkiewicz”. Juntos, produziram 38 edições, chegando aos seus 100 mil exemplares de vendas, nada mal para um personagem novato.
No Brasil, o personagem chegou em 1982 pelas mãos da RGE, editora que já estava praticamente terminando com a Marvel por aqui. Naquele momento a RGE estava em “queda de braços com sua maior concorrente daquele período, a Editora Abril, que logo assumiria todo o Universo Marvel por aqui.
Mas voltando a RGE, o personagem estreou na revista “Almanaque Marvel Premiere” nº 3 em junho de 1982. Ao contrário de hoje, o personagem era chamado de “Lunar: O Cavaleiro de Prata”. Na edição nacional foi apresentado sua história de origem, correspondente a primeira edição de Moon Knight. Com a transferência da Marvel para a Abril, a RGE publicou apenas as quatro primeiras edições de Moon Knight em Almanaque Marvel Premiere. As edições de Werewolf by Night e Marvel Spotlight foram puladas, permanecendo inéditas no Brasil por muito tempo.
Na Abril, o personagem foi publicado pela primeira vez na primeira edição de Homem-Aranha em junho de 1983, seguindo com a última publicação pela RGE.
Mesmo com a mudança e com a Abril tentando organizar a complexa cronologia Marvel, o Cavaleiro da Lua não teve vida fácil no Brasil. Depois de sua estreia em Homem-Aranha nº 1, o personagem migrou para a revista do “Capitão América”. Na nova revista, o Cavaleiro da Lua teve suas histórias publicadas nas edições: 51, 61, 62, 66,67, 69, 73, 83 e 86 entre os anos de 1983 a 1986. As histórias correspondem as edições de Moon Knight 06 a 15. A edição 16 foi publicada em “Grandes Heróis Marvel” nº 1 em 1983, ou seja, a Abril levou três anos para publicar 11 edições de O Cavaleiro da Lua. A falta de apelo dos leitores ajudou nisso. Se fosse mais badalado, a Abril não publicaria tanto no descaso. Mas era assim que funcionava...era como as coisas aconteciam. Agora a grande curiosidade vem em torno da edição original de Moon Knight nº 17. Essa edição foi publicada pela Abril em O Incrível Hulk nº 41 em 1986. Divididas em três histórias, a primeira publicada na edição do Hulk, foi republicada pela Editora Globo em “Marvel Force” nº 4 em 1991. As outras duas histórias saíram pela Editora Globo em Marvel Force nº 5 e 9. No início dos anos 1990, houve um “racha” entre a Abril e a Globo, explicado nessa matéria aqui.
A Globo ainda publicaria Moon Knight nº 18, 19 e 20 em Marvel Force nas edições 6, 7 e 8, respectivamente entre 1991 e 1992. Agora, outra loucura do nosso mercado foi com as próximas edições. Antes de migrar para a Globo, a Abril já tinha publicado Moon Knight nº 21 em o Incrível Hulk nº 45, a edição nº 22 em Capitão America nº 92, a nº 26 em Capitão América nº 93, todas essas publicadas em 1987. Em O Homem-Aranha nº 71 de 1989 saiu Moon Knight nº 27, a edição nº 29 foi publicada em Capitão America nº 90 em 1986. E por fim, a nº 31 em Capitão America nº 94 de 1987, decretando a última história publicada pela Abril. As edições de Moon Knight nº 23,24,25,28,30, 32 a 38, ainda permanecem inéditas por aqui. A edição nº 38 foi a última publicada nos Estados Unidos em junho de 1984. Após o primeiro volume, o personagem voltaria em um título próprio em uma coleção (Vol 2) de tiro curto em seis edições em 1985. Dessas, nenhuma foi publicada no Brasil. Em 1989 o Cavaleiro da Lua teria uma nova publicação mais longeva na revista “ Marc Spector: Moon Knight Vol 1”, a nova publicação teve 60 edições no total. Dessas 60, apenas as edições 22, 23 e 24 foram publicadas no Brasil pela Editora Globo na revista “Gibi: Marvel Force, nas edições 2, 4 e 6 entre 1993 e 1984. Essas histórias eram produzidas por Chuck Dixon nos roteiros e com desenhos de Sal Velluto. Alguns dos acontecimentos mais importante na vida do personagem aconteceram nessa nova série.
Como os leitores brasileiros foram privados, poucos acabaram tendo conhecimento. Uma delas é a morte do personagem na edição sessenta. Mark, que estava enfrentando sérios problemas mentais, acaba tirando sua própria vida, depois que um demônio chamado “Seth Phalkon”, infectou a rede de computadores de uma empresa criada por ele chamada de “Spectorcorp”, responsável por uma rede global de agentes especiais. Para salvar as vidas de seus agentes, Spector acaba se sacrificando, colocando o vírus em quarentena. Mas como morte nos quadrinhos não significa muita coisa, o Cavaleiro da Lua ressurgi após o Deus Khonshu ressuscitá-lo. O personagem voltaria em novo título (Vol 3) em quatros edições, seguido por mais uma nova publicação (Vol 4), também em quatro edições. Todas essas inéditas no Brasil. Por aqui, entre 1994 a 2002 o personagem aparecia apenas como convidado em algumas publicações aleatórias.
O Cavaleiro da Lua retornaria mais atuante na revista “Marvel Knights” nº 1, pela Panini em agosto de 2002. Nessa série ao lado de alguns dos personagens urbanos como: Demolidor, Viúva Negra e Justiceiro, o Cavaleiro da Lua acaba se dando mal, após um vilão chamado “Zaran” explodir um local onde Spector se encontrava. A beira da morte e falido, Spector reza para seu Deus, Khonshu, onde acaba retornando ao manto. Foi aí que em 2007 a Panini trouxe a mais nova série do Cavaleiro da Lua (Vol 5) a partir da primeira edição de “Marvel Action”, apresentando o retorno do personagem. Espalhadas pela nova publicação da Panini, a série original com trinta edições no total teve as vinte primeiras publicadas com a fase iniciada por Charles Huston e David Finch em Marvel Action. Depois de algumas histórias ao lado dos Vingadores, a Panini trouxe pela primeira vez no Brasil uma publicação com o título “Cavaleiro da Lua”, foi com o vol 6 de Moon Knight de Brian Michael Bendis e Alex Maleev. Por incrível que pareça, essa foi a primeira série publicada na integra no Brasil. As doze edições foram compiladas em duas revistas pela Panini em 2015.
No mesmo ano, a Panini trouxe outra publicação do personagem. A nova edição de “Cavaleiro da Lua”, apresentou o Vol 7 do personagem com a fase iniciada pelo brilhante escritor Warren Ellis. Essa nova fase foi publicada nas três primeiras edições dessa nova coleção. Depois de Ellis, as histórias foram escritas por Brian Wood e Cullen Bunn, correspondentes as 17 histórias do Vol 7. As edições nº 4, 5 e 6 da Panini, (correspondente ao Vol 8 com 14 edições) apresenta a fase escrita por Jeff Lamire. As edições nº 7 e 8, com roteiros de Max Bemis, foram incorporadas ao Vol um, de Moon Knight nº 188 a 200, indo a fundo sobre a verdadeira origem de Mark Spector e suas múltiplas personalidades.
As histórias clássicas de Doug Moench foram republicadas pela Panini na “Coleção Histórica: Paladinos Marvel” nº 3 de 2017, apresentou pela primeira vez no Brasil, as histórias inéditas de Werewolf by Night nº 32 e 33 e Marvel Spotlight nº 28 e 29 com mais de 40 anos de atraso desde seu lançamento em 1975. Ainda dentro dessa coleção nas edições nº 8 e 12, a Panini trouxe as 15 primeiras histórias do Vol 1, mais as edições 17, 21 e 22. Essa coleção e a melhor opção para conhecer as primeiras histórias do Cavaleiro da Lua.
O personagem sempre foi o mais “fora da curva” do Universo Marvel. Com suas crises de identidades, com sua sanidade danificada e com traumas de infância, o Cavaleiro da Lua é um personagem único. E com sua série televisiva chegando ao Disney Plus, com o ator “Oscar Issac” no papel principal, iremos descobrir um pouco mais sobre o obscuro personagem.
Alexandre Morgado é cartorário do 15° Tabelionato de São Paulo. É também autor do livro Marvel Comics - A Trajetória da Casa das Ideias do Brasil, livro que narra a história da Marvel em nosso país, relançado em 2021. O autor possui um acervo gigante de HQs, principalmente com material da Marvel Comics.
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